Entrevista: O livro das vidas
Seguimos conversando com o jornalista Matinas Suzuki, o organizador do Livro das Vidas, que analisa uma tradição que sobrevive na melhor imprensa mundial, os obituários em estilo literário.
Luciano Martins: – Matinas, você poderia dar um exemplo do chamado jornalismo literário
nos obituários que você analisou?
Matinas Suzuki: – Olha, eu posso citar vários, mas eu queria fazer uma observação. Nesse livro, nós procuramos vidas de pessoas que a gente chama de quase-desconhecidas. Porque o obituário de pessoas conhecidas é relativamente fácil de fazer: elas fizeram coisas que as pessoas já sabem mais ou menos sabem que elas fizeram – de uma celebridade, de um político, de um esportista. Porque os fatos falam por si. O obituário difícil de fazer são os de pessoas que fizeram coisas relevantes, mas que não são muito conhecidas do grande público.
Luciano Martins: – Bom, conte uma dessas histórias para nós.
Matinas Suzuki: – Nesse livro, por exemplo, tem histórias fascinantes. Por exemplo. Um publicitário que todo ano, no natal, distribuía, luvas para os ‘homeless’, para os mendigos, pessoas que viviam nas ruas de Nova York como aquele frio todo de Nova York. E que não tinham luvas, que as mãos ficavam muito geladas. Mas ele tinha um aspecto muito interessante, por isso que o jornalismo, quando pega esses detalhes, ele vira uma grande coisa; porque ele não mandava essas luvas para as pessoas, ele ia pessoalmente, toda noite, entregar essas luvas, porque ele dizia que mais importante do que dar uma luva, era o aperto de mão que ele dava depois de dar uma luva. Era o calor humano que contava. Isso é um relato extraordinário. E uma pessoa dessa quando morre, merece que a vida dela seja contada para os leitores de um jornal.
Luciano Martins: – Os grandes jornais brasileiros costumam fazer obituários disfarçados de perfis – mas não deixam de ser obituários.
Matinas Suzuki: – É. Na verdade, eles não têm uma página de obituários. Essas mortes são relatadas ou na seção de esportes, ou na seção ou caderno de cultura, ou na página de política, dependendo da onde vem a origem da vida daquela pessoa, da seção onde ela se encaixa melhor. Nos jornais americanos e ingleses não. Necessariamente, a vida dessa pessoa é narrada na página de obituários.
Luciano Martins: – A Folha de S.Paulo também inaugurou recentemente um obituário no estilo literário. Eu gosto muito, sou um dos leitores assíduos. O que você acha desse trabalho?
Matinas Suzuki: É. A Folha começou a fazer essa seção, é um pequeno texto, uma pequena história, muito bem escolhida e muito bem escrita por um jovem jornalista chamado Willian Vieira que vem na tradição do melhor obituário moderno da imprensa anglo-saxã, que é, eu acho, o grande obituário que a imprensa tem hoje.
Obrigado, Matinas. Continue acompanhando, na próxima edição do Observatório da Imprensa, nossa conversa com o jornalista Matinas Suzuki, coordenador do Livro das Vidas, um estudo sobre os obituários do New York Times.
Cultura e pluralismo
Hoje é dia do Observatório da Imprensa na TV.
Alberto Dines:
– O Observatório da Imprensa volta hoje à noite à TV, às 22:40 depois do período habitual de férias. Este 2008 é especial, porque além das comemorações dos 200 anos da imprensa brasileira, vamos celebrar os 10 anos de apresentações semanais em rede nacional do ‘Observatório da Imprensa’. Infelizmente, o programa de hoje não será retransmitido pela TV-Cultura e afiliadas ao contrário do que sempre aconteceu. Na próxima segunda, dia 18 de Fevereiro, o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta decidirá como serão as relações entre a rede Cultura e a TV Brasil (que produz o Observatório na TV). Fazemos votos para que, na ocasião, seja fortalecido o projeto de parcerias entre todos aqueles que apostam numa televisão alternativa de qualidade, comprometida com a cultura e o pluralismo.
A partir de hoje, o Observatório da Imprensa na TV estará também disponível ao vivo pela internet para qualquer lugar do mundo através do site www.tvbrasil.org.br