Faltam quadros sinóticos
A proliferação de histórias tenebrosas pode permitir que alguns dos malversadores de recursos públicos escapem da Justiça. A mídia não consegue mais acompanhar todas as denúncias que surgem. Pula sofregamente de um caso para outro. Seria bom que os jornais publicassem um “quadro sinótico” da crise do mensalão, como em certos romances que começam com a árvore genealógica da família protagonista.
Veja não viu, intuiu
O Alberto Dines ontem já estava preocupado com a maneira como foi apurada a reportagem de capa da Veja desta semana. Tinha razão.
Dines:
– Mauro, infeizmente concretizaram-se os pressentimentos. Se as denúncias de Veja contra Severino Cavalcanti fossem sólidas e consistentes, se a reportagem fosse bem investigada, a esta hora o presidente da Câmara estaria derrubado e nocauteado como merece. Ao contrário, a matéria foi mal apurada. Resultado: Severino viajou lampeiro e petulante para Nova York onde vai falar na abertura da Assembléia Geral da ONU que, pela tradição, é aberta por um brasileiro. E o dono do restaurante agora afirma que não tem nada a ver com as denúncias de mensalinho ou propina.
Severino e Paulo Maluf tem a mesma origem política e moral.Além disso, compartilham um traço de caráter que vulgarmente designa-se como Cara de Pau. Contra este tipo de homem público, não adianta a retórica. Adianta o enfrentamento, como fez o deputado Fernando Gabeira. Veja não viu, intuiu. E até o momento só fortaleceu o Inimigo Público N° 1.
Política, não polícia
Pois é, Dines. Ontem neste programa você fez a pergunta:
(Dines) “E se a denúncia for falsa? E se o dono do restaurante estiver fazendo uma chantagem, como diz Severino, como é que fica Veja e como é que fica o resto da imprensa, que trombeteou a matéria de capa da revista antes mesmo que entrasse em circulação?”
Aqui se confunde investigação jornalística com investigação policial. Hoje, editoriais e reportagens despejam mais munição retórica contra Severino.
O deputado Gabeira acertou porque se colocou no terreno da política. O correligionário de Severino Cavalcanti Paulo Maluf tem sido derrotado no terreno político, mas na esfera policial ainda hoje é difícil capturá-lo, embora se sucedam denúncias bombásticas. Os desvios de recursos públicos de que Maluf é acusado teriam ocorrido há mais de dez anos e ele até hoje não sofreu condenação na Justiça da qual decorresse o cumprimento de alguma pena. Isso para não falar de tantos outros denunciados que continuaram se elegendo.
O que se esperava que Severino fizesse? Confirmasse as denúncias?
O despreparo político, o amadorismo podem causar prejuízos sérios, sobretudo num momento em que a sociedade brasileira precisa repensar algumas características de seu sistema político.
Mesmo que a polícia apure podres de Severino, houve um desgaste do movimento político de contestação ao reinado do presidente da Câmara, grande aliado do presidente Lula, que apostou no fisiologismo para conduzir sua base aliada e viu seu próprio partido se contaminar.
Fala o doleiro
Quem é agora o herói das denúncias contra Paulo Maluf e seu filho Flávio, divulgadas ontem pela Rede Globo? Seu doleiro. Não é exatamente o tipo de cidadão mais confiável. Neste caso, porém, há um elemento novo, que são as conversas entre Paulo e Flávio.
O fato de que a Polícia Federal tenha divulgado a gravação de recados deixados por Maluf no celular do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, foi apontado pela assessoria de Bastos como confirmação da independência da polícia.
Cobertura atrasada
A Folha de S. Paulo desta terça-feira, 6 de setembro, dá um bom material sobre o trabalho das revistas semanais. Ouviu a Veja e a Época. Só que isso deveria ter entrado na edição de domingo, não 48 horas depois. Assim como não pode haver relaxamento em relação ao que se escreve na imprensa, os jornalistas devem ler a imprensa com a máxima atenção. Na hora em que as publicações saem das rotativas.
Petróleo
A Gazeta Mercantil de hoje anuncia importante descoberta de petróleo na Bacia de Santos. Ancelmo Gois, no Globo, fala de jazidas no Espírito Santo. Se o otimismo se confirmar, são notícias importantes.
Sete de Setembro
No Globo, Teresa Cruvinel chama a atenção para algo que não aparece no noticiários dos principais jornais: como será a comemoração do Sete de Setembro amanhã?