Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Faltou informação e energia
>>Imprensa sitiada

Faltou energia e informação


A falta de energia elétrica em grande parte do Brasil, entre a noite desta terça-feira e a madrugada seguinte, revela mais uma vez que as grandes cidades do País não estão preparadas para um dos prováveis efeitos do aquecimento global, que deverão se tornar progressivamente mais freqüentes nas próximas décadas.


Até o começo da manhã desta quarta-feira, as edições digitais dos grandes jornais ainda não haviam publicado uma explicação definitiva para a causa – ou as causas – da pane, e todos eles sofreram grandes atrasos na entrega de suas edições de papel.


Durante a longa noite em que milhões de cidadãos, em dezenas de grandes cidades, ficaram impedidos de voltar para suas casas, também ficou demonstrado que a imprensa perdeu a capacidade de lidar com emergências.


Quem contava com acesso à internet por meio de telefone celular ficou prejudicado pela precariedade das conexões, uma vez que muitas torres de transmissão das operadoras deixaram de funcionar.


A única fonte de notícias para quem precisava de orientação, mais uma vez, foi o rádio.


Ainda assim, nas primeiras horas da crise, quando ainda não havia informações oficiais sobre a causa do problema, o tempo do ouvinte foi tomado por declarações irresponsáveis e desconexas de comentaristas onipresentes na mídia, desses que estão sempre a postos para pontificar sobre qualquer assunto.


Como Brasília não ficou às escuras, representantes do governo e da oposição aproveitaram para confundir ainda mais os cidadãos necessitados de informações seguras.


Uma dessas personagens, que se anuncia como cientista política, historiadora e jornalista, especialista em eleições, partidos políticos e Estado brasileiro, falando de sua casa no Rio, chegou a se referir às hidrelétricas como uma das fontes de “combustíveis” para a produção de energia, compondo um verdadeiro “samba de branquelo doido” com relação ao problema das mudanças climáticas.


Da profusão de comentários colhidos ao longo da noite e reproduzidos na madrugada nos sites de jornais, restam aos leitores algumas pistas sobre a fragilidade do sistema elétrico brasileiro: com a previsão de tempestades cada vez mais fortes, as grandes linhas de transmissão se tornam menos seguras.


Além disso, conforme vem sendo publicado eventualmente, o sistema brasileiro seria vulnerável ao ataque de hackers.


Mas isso também pode ser resultado de campanha para endurecer o controle da internet ou “lobby” para a venda dos caríssimos sistemas de proteção de comunicações, já que a chamada grande imprensa também é extremamente vulnerável a oportunismos de todos os tipos.


Imprensa sitiada


Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:


– A barra pesou no fim de semana passado, em Buenos Aires. Trabalhadores vinculados ao Sindicato dos Caminhoneiros, dirigido por Pablo Moyano, cujo pai é o líder máximo da central sindical CGT, umbilicalmente ligada ao governo de Cristina Kirchner, pois os piqueteiros mobilizados pelo sindicato impediram a distribuição do Clarín e do La Nación, os dois maiores diários argentinos. Na raiz do conflito, o fato de que essa distribuição é feita por quinze cooperativas de motoristas independentes, e que Moyano exige que se filiem ao seu  sindicato.


A circulação dos jornais foi precária durante o fim de semana, mas a partir de segunda-feira o bloqueio foi suspenso. O episódio se deu no momento em que a capital argentina sediava a reunião anual da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), que terminou ontem; e em meio a variados protestos trabalhistas, que interromperam as principais avenidas da cidade e pararam, ontem, o sistema de metrô.


Para se contrapor à reunião da SIP, a embaixada venezuelana em Buenos Aires convocou para anteontem o Primeiro Encontro Internacional de Meios e Democracia na América Latina, com a presença políticos, sindicalistas e acadêmicos da Argentina, Venezuela, Uruguai, Brasil, Colômbia e Honduras. A agenda do encontro, segundo comunicado da embaixada, discorreria sobre a situação da mídia na América Latina, além de discutir “os monopólios midiáticos e a uniformização da opinião pública”. Para além do evento, a imprensa não-alinhada ao governo estranhou que tivesse partido da embaixada venezuelana a convocação, para aquele mesmo dia, de um ato público reunindo sindicalistas, organizações políticas e entidades com as Mães e Avós da Praça de Maio. Consideraram uma ingerência indevida nos assuntos internos da Argentina.


São todos esses desdobramentos do conflito aberto que se instalou entre o governo do casal Kirchner e a mídia de seu país. Hoje, a truculência definitivamente tomou o lugar do diálogo.