Força e fraqueza de Lula
É grande o descompasso entre a força eleitoral do presidente Lula e a fragilidade do governo, que sangra agora no cerco ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, colocado novamente em dificuldade por reportagem da Veja, e ao presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Esse é no momento um dos enigmas que a mídia precisa ajudar os cidadãos a destrinchar.
Mas, atenção: pesquisas eleitorais são fatos políticos que não substituem as campanhas.
A ferida da Nossa Caixa
O caso da Nossa Caixa está longe de ter sido encerrado, como pretendia o ex-governador Geraldo Alckmin. O Estadão de hoje destaca reportagem segundo a qual a investigação no banco estatal paulista ainda está incompleta.
Revistas no espaço
Alberto Dines comenta o silêncio das revistas a respeito da viagem do astronauta Marcos Pontes.
Dines:
Os principais semanários passaram ao largo do nosso badaladíssimo feito astronáutico. Inclusive a Carta Capital, que costuma seguir a linha oficial. É obvio que há uma razão técnica para a falta de informações, fotos e oba-oba: o tenente-coronel Marcos Pontes desceu no sábado à tarde, quando todas as revistas de informações já estavam impressas e nas bancas. Mesmo assim poderiam ter tratado do assunto antes do seu desfecho, como já aconteceu centenas de vezes. Veja, desta vez, acertou em cheio com o belo texto de Roberto Pompeu de Toledo questionando a validade da aventura espacial. Ao deixar o assunto para as próximas semanas as revistas perderam muitos leitores ? Certamente nenhum. Veja, por acaso, aumentou a sua legião de desafetos com mais uma crítica ao governo? Saberemos na próxima edição através das cartas dos leitores. E o que acharam os fieis seguidores da Globo com a emocionada e esticada telenovela desenrolada no eixo Bauru-espaço sideral?
Na urna eletrônica do site do Observatório da Imprensa, 78% ou 852 votantes, acharam a cobertura da mídia deslumbrada contra 13%, ou 144 votantes que consideram a cobertura informativa. Claro que não se trata de uma pesquisa científica. Ou rigorosa. Mas o nosso passeio a reboque do programa espacial russo também não foi científico. Mas indica que há cidadãos muito rigorosos nas suas avaliações.
Lixo sensacionalista
A Rede Globo passou meses pedindo uma entrevista a Suzane von Richthofen. Quando ela e seus advogados consideraram chegado o momento de uma encenação, a Globo e a Veja foram chamadas.
O que esperavam as duas empresas jornalísticas? Que os advogados instruíssem Suzane a se confessar culpada?
Ao invés de entender que a reportagem tinha que ir para a lata do lixo, preferiram montar, com os jornais a reboque, um circo de sensacionalismo.
Como há 50 anos
A Folha oferece aos leitores nesta segunda-feira, 10 de abril, em manchete, uma notícia eletrizante: o Santos foi campeão paulista ontem à tarde.
A edição deveria vir com um cupom para premiar o leitor que conseguisse provar ter tomado conhecimento do fato ao lhe chegar às mãos o jornal.
Central global da periferia
O antropólogo Hermano Vianna diz num grande anúncio publicado pela Rede Globo que “a novidade mais importante da cultura brasileira na última década foi o aparecimento da voz direta da periferia falando alto em todos os lugares do país”.
O anúncio divulga um programa que se chama Central da Periferia. Como imaginar que a incalculável variedade cultural brasileira possa ser canalizada por uma “central”?
O D.J. Eugênio Lima, de São Paulo, critica o modelo do programa.
Eugênio:
– De novo, é uma idéia de que o olhar dos produtores culturais é o que mostra o que está acontecendo de relevante para o Brasil. E a partir daquele olhar eu passo a existir. Mesmo que isso já tenha uma construção histórica há muito tempo, que o público já esteja formado, que eu seja mais ou menos um artista, dentro daquele universo, reconhecido, mas que é o olhar de fora que me legitima e não a minha própria existência. Tanto o discurso quanto as formas de se mostrar esse discurso ficam na mão daqueles que falam pela periferia.
Mauro:
– Eugênio Lima põe em relevo o processo de edição
Eugênio:
– É claro que a gente sabe que esse Central da Periferia tem uma série de restrições editoriais. Não há uma liberdade clara. Você sabe que esse discurso foi editado, foi determinado para parecer palatável em todos os lares do Brasil.
Mortos na periferia
A TV Globo deu a notícia com destaque, porque é caso de polícia. Sete mortos em Suzano, na Grande São Paulo, na sexta-feira e no sábado, não conseguiram lugar na primeira página da Folha de ontem. O Estadão deu na capa uma chamada de 40 palavras.
Muitos mortos, o segundo ataque a uma delegacia. Nada banal. Mas foi na periferia.
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