Fragilidades da cobertura
A imprensa está condenada em 2006 a cobrir uma campanha eleitoral com personagens que, se dependesse de sua indignada avaliação, teriam sido banidos da vida pública. Isso se deve, em boa medida, a sua incapacidade de investigar e articular os fatos de corrupção. A mídia foi dependente de iniciativas alheias desde que a fita dos Correios apareceu numa edição da Veja, em 14 de maio, e não teve forças para ir muito além daquilo que convinha às partes interessadas revelar. Uma das exceções notáveis foi a reportagem em que o Globo mostrou os esquemas do então deputado Roberto Jefferson no Rio de Janeiro. Veio logo em seguida às duas entrevistas nas quais Jefferson disse à Folha de S. Paulo o que lhe convinha.
A doença da “pesquisite”
Existe uma distorção no uso de pesquisas de intenção de voto pela mídia. O noticiário é todo feito a partir de pesquisas quantitativas, que são as liberadas pelos contratantes para divulgação, mas nenhum grupo político trabalha apenas com quantitativas. Todos as combinam com qualitativas. Manchetes feitas com base apenas em pesquisas quantitativas, sobretudo antes do início da campanha, servem mesmo é para fins político-eleitorais. Para piorar, até hoje os jornalistas têm dificuldade para ler os resultados das pesquisas, o que dá espaço a equívocos e manipulações.
Os esquecidos
Voltam com destaque ao noticiário personagens que tinham sobrevivido discretamente à passagem do furacão Marcos Valério. É o caso de Clésio Andrade, vice-governador de Minas Gerais, presidente da Confederação Nacional dos Transportes. É para a CNT que o instituto Sensus faz regularmente pesquisas de intenção de votos. O Estadão noticia hoje relações comerciais de Clésio com Marcos Valério.
Domingos pop
O Alberto Dines mostra que os jornais poderiam ter edições melhores aos domingos se a isso se dedicassem não só quando há eventos pop. Fala, Dines.
Dines:
– Mauro, ontem, os três jornalões – Folha, Estado e Globo – resolveram brindar os seus leitores com um belíssimo presente. Mostraram que a edição de domingo pode ser fechada normalmente, com as últimas notícias, como acontece nos demais dias da semana. Nós sabemos que as edições de domingo são na realidade preparadas na 5ª e 6ª feira e atualizadas na manhã de sábado. Mas neste último fim de semana aconteceu algo sumamente importante, extraordinário. As empresas jornalísticas lembraram-se do seu dever de atualidade e fecharam as respectivas edições dominicais às 10 da noite de sábado. Qual a razão do milagre? O nome do milagre escreve-se em inglês – Rolling Stones. Ontem os dois jornais paulistas conseguiram mostrar com grande destaque e riqueza de detalhes o show de Mick Jagger que começou pouco antes da 10 horas da noite lá no Rio e foi transmitido pela TV. Até o carioca O Globo conseguiu chegar a São Paulo com fotos e informações das sete da noite. Bravo, bravíssimo! Mas é impossível reprimir algumas perguntas: porque não fazem o mesmo esforço todos os sábados cumprindo com o dever de serem atuais ? Será que só os apreciadores do rock merecem este empenho e este investimento dos grandes jornais nacionais? Conseguirão repetir a façanha no próximo sábado, quando começa o nosso Carnaval? Em caso afirmativo, por que o privilégio para eventos de música popular?
A droga é VIP
Ancelmo Gois informa hoje no Globo que houve consumo conspícuo de maconha no camarote VIP do show dos Rolling Stones. Essa é a matriz econômica da pior violência no Rio, praticamente ignorada pela mídia, que na semana passada levou novo susto com a “guerra da Rocinha”. O noticiário é calcado nas sangrentas disputas de bandidos, com informações precárias, atitude acrítica diante da polícia e excesso de politização.
Ver também
‘Polícia sem rumo‘, de Xico Vagas
O longínquo Acre
Só a TV Globo noticiou regularmente com destaque, ao longo da semana, a cheia do Rio Acre em Rio Branco, capital do estado, que nesta segunda-feira, 20 de fevereiro, chega à primeira página dos jornais. A Globo é a única empresa que tem uma rede efetivamente nacional de jornalismo.
A mídia de Garotinho
Uso político da mídia, para ninguém botar defeito, é o que faz o candidato Anthony Garotinho, como mostra hoje o Estadão.
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