Gospel doido
Nas manchetes dos principais jornais desta sexta-feira, 30 de setembro, o estado atual da crise do “mensalão”. A Polícia Federal pede o indiciamento dos 16 deputados que pensam ter ganhado uma sobrevida com a eleição do novo presidente da Câmara. Espera-se que a polícia tenha mais competência do que as CPIs. Governo manobra e impede abertura do sigilo bancário de 11 corretoras que teriam causado prejuízo a fundos de pensão. Aldo Rebelo estréia mal no cargo. E a mais extraordinária, a adesão de José Alencar a um partido da Igreja Universal do Reino de Deus que atraiu o professor de Harvard Mangabeira Unger e poderá ser presidido pelo ex-vice-governador da Guanabara Raphael de Almeida Magalhães. O gospel doido, como apelidou César Maia, que anunciou para hoje o último dia de seu blog. É forçoso reconhecer que tanta notícia pode provocar intoxicação nas redações. Esperemos lucidez no fim de semana.
Lula é demais
O presidente Lula disse que a Venezuela é “democrática demais”. Mais uma pérola do besteirol brasileiro.
Dirceu e a mídia
O jornalista Marcelo Coelho aponta hoje na Folha que não tem cabimento o deputado José Dirceu afirmar ter pegado em armas, durante a ditadura, para defender a liberdade de imprensa. Essa luta não requeria pegar em armas. Ao depois, como diria o preclaro Michel Temer, Dirceu não repetiu o gesto heróico em Cuba, onde a liberdade de imprensa ainda não floresceu.
Chuva de escândalos
O Alberto Dines diz que não adianta tentar encobrir um escândalo com outro, porque a população não será enganada.
Dines:
– Mauro: a prisão dos Maluf e as revelações sobre a máfia do apito não estão esvaziando o interesse popular pelo veio principal de escândalos. Pode ser que os estrategistas do governo tenham imaginado que poderiam tirar proveito destes episódios paralelos e assim diminuir a dimensão da crise política. Mas o que está acontecendo é justamente o contrário. Os escândalos se realimentam, se reforçam.
Como se situam numa esfera de mais fácil compreensão, sem sutilezas políticas e com forte apelo popular, tanto as prisões dos Maluf como as revelações sobre as trapaças no futebol estimulam a indignação da sociedade contra a corrupção. O cidadão comum, a esta altura, pode não estar entendendo ou entendendo vagamente o mar de lama que se esconde atrás das manobras financeiras de Marcos Valério, mas o cidadão-torcedor que viu o seu time perder por causa de um juiz de futebol corrupto sente de forma mais contundente o fenômeno que ele chama de “roubalheira”.
Esta combinação de corrupções, é extremamente positiva para acabar com a tradição da pizza e da impunidade. Que venham mais escândalos, quanto mais diferentes melhor, só assim escapamos do perigo da saturação.
O bispo, a Globo e o São Francisco
Ontem o Jornal Nacional noticiou brevemente a greve de fome do bispo de Barra, na Bahia, Dom Luiz Cappio, contra o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco. O Painel da Folha de S. Paulo informa hoje que o governador da Bahia, Paulo Souto, recomendou ao presidente Lula levar a sério o protesto do bispo, que é “um homem de posições firmes que conhece a situação do rio”. Reforçou uma recomendação feita antes pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Hoje termina a série de cinco reportagens sobre o rio exibida pela Globo. A omissão, até ontem, do protesto do bispo fez algumas pessoas suporem que a emissora defende o projeto do governo. Hoje à noite será exibida a reportagem que fala da transposição. Ouvido ontem pelo Observatório, o autor da série, José Raimundo, diz que trabalhou com isenção jornalística.
José Raimundo:
– A TV Globo assume uma postura de isenção, de informar, o que ela sempre fez. É isso que a gente tentou fazer, até com a orientação do editor-chefe do Jornal Nacional, William Bonner. Nós recebemos essa orientação: Olha, no capítulo da transposição nossa postura é de total isenção. Nós precisamos mostrar esse projeto, e vamos ouvir as pessoas que são a favor e que são contra, e porque elas defendem suas posições. Foi a orientação que eu recebi, acho que é a orientação correta, e foi isso que nós tentamos fazer.
Mauro:
– Esse foi José Raimundo, repórter da Globo. Hoje à noite se poderá conferir no Jornal Nacional como ficou o último capítulo da série sobre o São Francisco e seu devastado ambiente. Cinco minutos de reportagem televisiva, por melhor que seja, não substituem todo um debate sobre o São Francisco e o Nordeste que a mídia ainda não fez e está devendo. Mais uma vez, só o jornal O Globo dá hoje a notícia da greve de fome. O Estadão e a Folha não deram uma linha. O Globo transferiu a cidade de Cabrobó, onde está o bispo, de Pernambuco para a Bahia. Mais uma evidência de como a mídia nacional está distante do Nordeste e de seus problemas.