Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Hora de avançar na análise
>>Xenofobia puxa xenofobia

Hora de avançar na análise


Os jornais anunciam hoje a antecipação da conclusão dos trabalhos da CPI dos Correios. A imprensa precisa acelerar sua própria avaliação, traçar um panorama articulado e abrangente do que se descobriu até agora. Saber “tudo” nunca se saberá. Porque alguns permanecerão calados até o fim. E porque não se pode parar de viver o hoje para tentar entender completamente o ontem.


Pela culatra


Seria engraçado que falsos doadores de remuneração extra perdessem o mandato por falta de decoro, como sugeriu ontem o presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Ricardo Izar. Uma malandragem em boa hora atalhada pelo trabalho da imprensa. Foi o jornal O Globo que deu destaque à manobra.



Os pais da criança


A Folha de S. Paulo mostra nesta sexta-feira, 13 de janeiro, a propósito da disputa entre os pré-candidatos Geraldo Alckmin e José Serra, que o grupo de Alckmin teve papel importante na escolha do pefelista Gilberto Kassab para vice de Serra na Prefeitura. Hoje, o fato de Kassab ser vice-prefeito é apontado como obstáculo à candidatura de Serra.


Os pré-candidatos despejam diariamente sua retórica e seus argumentos. Quando a imprensa pratica apenas jornalismo declaratório, o público tem mais dificuldade para avaliar a consistência dos discursos. Daí a importância da recapitulação feita pela Folha.



Xenofobia puxa xenofobia


O Alberto Dines recomenda à imprensa que se mantenha distante de manifestações de chauvinismo.


Dines:


– Em plena era da globalização assistimos ao recrudescimento das xenofobias. E a mídia, sobretudo ela, precisa vacinar-se contra o vírus da exaltação nacionalista. O espancamento do surfista catarinense na Austrália foi um ato de violência cometido por uma juventude desprovida de humanidade, bestas sem alma fabricadas pela sociedade de consumo. Difícil acreditar que tenha sido uma agressão ao Brasil ou aos brasileiros. O assassinato do eletricista Jean Charles de Menezes por policiais em Londres foi uma das barbaridades produzidas por uma estratégia antiterrorista que acaba igualando-se ao próprio terrorismo. Foi uma ação desumana, não foi um atentado ao Brasil. Qualquer que fosse a nacionalidade da vítima a reação deveria ser a mesma. Aquela babá brasileira assassinada pelo namorado nos Estados Unidos ganhou manchetes aqui mas a violência contra as mulheres só merece algumas linhas da imprensa brasileira.


A mídia, sem o perceber, está embarcando num perigoso chauvinismo patrioteiro. Os mineiros que tentaram entrar ilegalmente nos Estados Unidos, depois de expulsos foram recebidos com o hino e bandeira nacional. Preferiram abandonar o país, mas a mídia os apresentou como heróis. A xenofobia puxa xenofobia. O terreno é perigoso.


Missão de paz


O coronel da reserva Geraldo Cavagnari, pesquisador da Unicamp, faz uma avaliação positiva da participação brasileira na missão de paz no Haiti. Cavagnari diz que a tropa internacional, sob comando brasileiro, não tem nem terá dificuldade para se impor, mas que o problema não é exclusiva nem principalmente militar. É de múltiplas carências econômicas, sociais e de infra-estrutura. O pesquisador critica a ONU e países desenvolvidos por terem prometido enviar recursos e criar condições e até agora não o terem feito.


A mídia ainda não pôs isso em foco. Tem a mania de subestimar o próprio país.


Segundo Cavagnari, o conflito no Haiti não é entre grupos políticos armados, como em outros países. O que há são gangues criminosas contra uma sociedade desarmada e faminta.


Nesta sexta-feira às 17 horas (no áudio foi dito erradamente 19 horas) o enviado da Folha de S. Paulo ao Haiti, Iuri Dantas, participará de um bate-papo na Internet. O endereço é www.folha.com.br.


Caveirão recolhido


O recolhimento dos veículos blindados apelidados de Caveirão, determinado pela governadora Rosinha Mateus, provavelmente vai melhorar a vida de moradores de favelas. O veículo, herança dos conflitos das polícia com manifestantes durante a ditadura militar, vinha sendo usado para ofensivas alucinadas. De alto-falantes saíam sinistros gritos de combate, como registrou o jornalista Fritz Utzeri: “Homem de preto, qual é tua missão?/ É entrar lá na favela e deixar corpo no chão.”


Mas o recolhimento do blindado vai privar a mídia de imagens sensacionalistas, como as que chegaram a ser gravadas pela Rede Globo de dentro de um carro desses, em meio a uma incursão da Polícia Militar.