Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Intenção e voto
>>Online muda resposta de governos

Intenção e voto


O Brasil tem uma capacidade espantosa de empurrar os problemas para a frente. As declarações feitas ontem pelo presidente Lula, abertamente como candidato, sobre o escândalo do mensalão, apontadas como cínicas pelo ex-governador Geraldo Alckmin, são a enésima manifestação dessa capacidade.


Fazer prosperar a democracia num contexto de desrespeito às leis é um desafio e tanto. Mas não se conhece caminho melhor do que promover eleições. Que são antecedidas por uma campanha e não se decidem em pesquisas de intenção de voto.



Online muda respostas de governos


A dança dos números e de boletins a respeito das mortes durante a onda de violência criminosa em São Paulo tem a ver com novas maneira de fazer jornalismo após o advento da internet, explica a editora-chefe do Globo Online, Joyce Jane.


Joyce:


– Foi um aprendizado tanto para os jornalistas quanto para as próprias fontes, os fornecedores de informações. E foi uma crise em que as autoridades se posicionaram de uma forma diferente. O governo, a Polícia e o próprio Ministério Público tiveram que agir muito mais rapidamente e soltar boletins parciais durante todo o dia, porque o fato de nós estarmos colocando notícia o tempo inteiro no ar fez com que eles fossem obrigados a soltar informações em boletins ao longo do tempo. E muitas vezes essas informações de alguma forma ficavam até desencontradas. Não dava para esperar e juntar tudo no fim do dia e dar aquela tradicional coletiva com um balanço do que tinha acontecido. As autoridades tiveram menos tempo para pensar na crise e aprontar um discurso certinho.


Deu para ver muito claramente como o trabalho da internet está modificando o relacionamento das fontes com os jornalistas, dos jornalistas com o público, e a própria cobrança do público, que vem imediatamente.


Mauro:


– Joyce Jane diz que o Globo Online bateu durante a crise em São Paulo seu recorde histórico de público: quase 500 mil visitantes únicos em um dia.


Leia duas entrevistas de Joyce Jane a partir de ‘Crise em São Paulo mostrou força da internet‘.


Favelas martirizadas


Um confronto entre policiais e traficantes no Morro da Providência, no Centro do Rio de Janeiro, ontem, matou uma estudante de 21 anos atingida por bala perdida e obrigou jornalistas a se esconder atrás do Caveirão, o blindado que a Polícia Militar usa para invadir favelas onde encontra forte resistência armada.


A repetição dessas tragédias torna cada vez mais difícil uma cobertura jornalística melhor. Hoje no Globo a repórter Cristiane de Cássia diz que nem treinamento para cobertura no Haiti resolve.


Saber dizer não


Tudo indica que a Justiça abortou um novo surto de sensacionalismo ao proibir a transmissão ao vivo pela televisão do julgamento de Suzane Richtofen. Antes assim.


Concentração antidemocrática


O diretor do Estado de S. Paulo Ruy Mesquita foi homenageado ontem pelo Wilson Center, que criou o Instituto Brasil, com a missão de estudar o país e suas relações com os Estados Unidos. Existem institutos similares na Rússia, no Canadá e no México.


Em discurso de agradecimento, Ruy Mesquita disse que a maior ameaça à liberdade de expressão, portanto à democracia, vem hoje do abuso do poder econômico, que leva à formação de conglomerados gigantes de mídia.


No Brasil, a multiplicidade de vozes na mídia deixou há tempos de ser expressiva. E os meios hegemônicos ou mais influentes foram muitas vezes politicamente submissos ou economicamente dependentes dos poderes federal, estaduais ou municipais.


Rio Madeira


A imprensa brasileira dedica pouca atenção ao projeto da hidrelétrica do Rio Madeira. A revista inglesa The Economist mostra como as empresas Odebrecht e Furnas têm apoio de ONGs em Rondônia para defender a realização da obra, sujeita a forte controvérsia.


América do Sul surpreende


As equações simplificadoras com que a mídia trabalha a realidade mostram-se especialmente precárias nesta temporada de eleições na América do Sul. A Colômbia ficou onde se esperava que ficasse, mas com ascensão da esquerda democrática. No Peru, se as pesquisas não estiverem subestimando as preferências dos mais pobres, um enredo que nenhuma ficção imaginou se realizará no domingo com a vitória de Alan García.


Mas é no vigor do movimento estudantil do Chile que aparentemente se mostram as maiores surpresas. Não estava tudo equacionado, após o excepcionalmente bem-sucedido governo de Ricardo Lagos? A cobertura das eleições chilenas, encerradas em janeiro, não captou o fenômeno. Um descontentamento profundo, radical. E, ao mesmo tempo, algo que hoje pode emergir porque há mais democracia no Chile.



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