Jogatina e caixa dois
O editor do site Consultor Jurídico, Márcio Chaer, diz que jogatina alimenta caixa dois na política.
Chaer:
– Se o Legislativo quisesse colocar um ponto final nessa história ele faria uma regra suficientemente clara citando especificamente os caça-níqueis como uma modalidade de jogo proibida. Mas não faz. Por quê? Porque o dinheiro do jogo, caixa dois personificado, é o dinheiro mais fácil e tranqüilo para se dar a um político em campanha. Já é um dinheiro sem origem e vai continuar sem origem até se fazer o último santinho para o candidato a deputado, para o candidato a senador, a governador, a presidente da República.
Nós temos a vinculação da polícia com o jogo, da igreja com o jogo, nós temos a ligação dos legisladores com o jogo e é evidente que o Judiciário não podia ficar fora. Nós temos uma situação em que não se pode apontar o dedo para uma pessoa, para um setor. Não fica imune nem mesmo a população. O que a população tem contra o jogo? A população não tem nada contra o jogo.
Dentro em breve será publicada a entrevista completa de Márcio Chaer.
Bicho, Carnaval e política
A Rede Globo foi ontem, pela enésima vez, privilegiada e exibiu no Fantástico filme feito pela Polícia Federal na Operação Furacão. Nos bastidores, outras emissoras e jornais chiam, mas publicamente se conformam. Um delegado figurou como estrela do noticiário da Globo. Ele disse que Anísio, um dos presos, pode ter fraudado o resultado do carnaval deste ano. Anísio é primo e correligionário de Simão Sessim, deputado federal por Nilópolis desde 1978. Sessim fez parte da comitiva do presidente Lula em cerimônia no Maracanã, na semana passada. É da base aliada. Mas a imprensa nem toca no assunto.
Nos tempos da ditadura
O advogado que comparou o regime de prisão na PF de Brasília com os tempos da ditadura brinca com a desatenção da mídia. Um de seus clientes é o Capitão Guimarães, que começou a carreira de bandido na repressão, como integrante do Exército, durante a ditadura. Ele já foi julgado e condenado por outros crimes.
Ler ‘Capitão Guimarães‘.
Briga de bicheiros
O jornal O Dia apresenta desde ontem uma linha de apuração original sobre os antecedentes da Operação Furacão. Dois dos três bicheiros presos teriam feito aliança contra o outro.
PCC nacional
A Folha noticia hoje que o presídio federal de Catanduvas, Paraná, é uma bagunça de bom tamanho e já está sob a liderança de Fernando Beira-Mar. Há cerca de um mês, em entrevista ao Observatório, o ex-responsável pelos presídios do Rio Astério Pereira dos Santos questionou o fato de que os prisioneiros vão para Catanduvas com prazo marcado para retornar a seus estados de origem.
Astério:
– Aquilo foi feito para criar o PCC nacional. Imagine que eu mande os 14 piores daqui do Rio para lá. São Paulo mande os dele, o Rio Grande do Sul também. Queira ou não queira, lá eles vão estar próximos, eles vão se unir. E depois eles retornam. O do Rio voltará para cá, o de São Paulo volta para São Paulo. O que vai acontecer quando São Paulo tiver uma rebelião daquelas de 74 prisões num dia só e que causou muita surpresa não ter acontecido no Rio. Depois de eles estarem juntos lá em Catanduvas, no próximo movimento com aquela amplitude daí, vai atingir mais estados.
Mauro:
– Ainda não há presos de São Paulo em Catanduvas. Mas fora da cadeia as conexões são intensas.
Imprensa aérea
Alberto Dines critica o silêncio da mídia diante de denúncia feita na Folha.
Dines:
– Há exatamente uma semana comentamos aqui a manchete de primeira página da Folha do dia anterior, domingo 8 de Abril. Apesar de escondida pela oferta de brindes imaginava-se que a revelação teria enorme repercussão já que mencionava um veemente relatório da Confederação Internacional de Controladores de Vôo sobre as causas da tragédia do dia 29 de Setembro e que teria sido entregue à presidência da República. A revelação da Folha não alvoroçou a concorrência. Só incomodou – e com razão – o governo, que avisou à Folha não ter recebido o tal relatório. No último sábado, a Folha retratou-se, acionada há vários dias pelo novo Ouvidor: reconheceu que o relatório da entidade internacional não fora entregue à presidência. Tudo bem, reconhecer erros só engrandece um jornal. Mas por que razão o governo não desmentiu a manchete publicamente? E como é que fica a outra parte da notícia – as conclusões do relatório – não mereceriam resposta do governo? E o resto da mídia que não se sensibilizou na semana passada e continua insensível até hoje? A trágica colisão aérea do Boeing com o Legacy deixou um saldo de 154 mortes, inúmeros apagões nos aeroportos do país e algo ainda mais perigoso: uma enorme carga de apatia.