Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Jornais sem fontes
>>Um pouco de História

Jornais sem fontes

Os dias que se seguem à votação que extinguiu a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira mostram que os jornais brasileiros perderam a capacidade de penetrar nos escaninhos do poder e de lá retirar informação consistente.

Tudo que se tem publicado ultimamente sobre as medidas que o governo pode tomar para compensar a perda de receita a partir do ano que vem saiu de especulações conduzidas pelos próprios jornalistas, ou de inconfidências do ministro Guido Mantega, conhecido por sua inabilidade com a palavra.

Os repórteres costumam, como se diz, ‘trocar figurinhas’ antes das entrevistas, testando hipóteses que vão fundamentar seus questionamentos.

Saem das redações geralmente pautados por essas hipóteses, ou as constróem em conversas com suas fontes prediletas.

Ou simplesmente passam o dia na frente do computador e ao lado do telefone, conferindo a validade dessas premissas.

A reportagem fica pronta quando uma possibilidade é confirmada com alguma segurança, ou quando um ministro boquirroto ultrapassa o limite do bom senso.

É mais ou menos isso que tem acontecido na cobertura dos eventos pós-CPMF.

O governo ainda não havia realizado nenhuma reunião de trabalho para discutir o que fazer com o fim do tributo.

Ou, pelo menos, a imprensa não teve acesso ao pensamento das bases técnicas do governo.

Os ministérios têm dezenas de secretarias técnicas das quais saem os dados que alimentam as decisões governamentais.

É nesses órgãos que está sendo gestada uma solução para o problema que se cria com a extinção da CPMF.

A impressão que se tem com a leitura dos jornais na última semana é de que os repórteres só têm fontes no Congresso, onde a palavra não tem valor técnico e onde as frases sempre carregam um duplo sentido e intenções dissimuladas.

O ministro Mantega falou demais, levou pito do presidente, e desfalou o que disse.

Na falta de fontes seguras de informação, alguns jornalistas já vêem nas costas dele o fantasma do ex-ministro Antonio Palocci.

Enquanto isso, o leitor se diverte com especulações.

Um pouco de História

Redações menores, jornadas excessivas e falta de investimento em capacitação têm sido apontadas como causas da queda de qualidade no trabalho jornalístico.

Congressos e seminários sobre a imprensa brasileira são preenchidos com diagnósticos e análises conjunturais que raramente apontam os problemas reais do jornalismo em crise.

Um olhar sobre a história da imprensa no Brasil pode ser útil para entender suas atuais dificuldades.

Dines:

– A imprensa nunca esteve tão ameaçada, tão desacreditada e, sobretudo, tão desanimada com relação ao seu próprio futuro em todo o mundo. E, no entanto, em Janeiro, a imprensa brasileira começa a esquentar os pandeiros para comemorar os seus 200 anos de vida. Em maio de 1808, 308 anos depois do descobrimento, afinal foi montada a primeira tipografia em terras brasileiras. Em junho, começou a circular no Brasil e em Portugal, o Correio Braziliense, o primeiro veículo sem censura no império português que, para manter-se independente, precisou ser impresso em… Londres. E em setembro de 1808 começava a circular a Gazeta do Rio de Janeiro, o mais antigo diário brasileiro, precursor do Diário Oficial, em circulação até hoje. Quatorze anos depois, estava criado o clima para a Independência. O Correio e a Gazeta foram os país da nação brasileira – este é um dado que explica o passado mas serve de paradigma para o nosso futuro. Veja hoje no ‘Observatório da Imprensa’ a terceira parte desta série. Às vinte e duas e quarenta, ao vivo, em rede nacional, pela TV-Cultura e TV-Brasil.