Jornalista assassinado
O jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, de 37 anos, foi assassinado na noite de sábado em Porto Ferreira, interior paulista. Em agosto de 2003, Barbon havia denunciado 22 pessoas, entre empresários, comerciantes e vereadores da cidade, por promoverem orgias semanais com meninas e prostitutas. Os denunciados foram condenados a longas sentenças em outubro do mesmo ano, mas só um, o garçom que servia de intermediário ao grupo, permanece preso.
Barbon denunciou recentemente um esquema de corrupção e na véspera de seu assassinato o promotor público da cidade lhe disse que o esquema era maior do que ele, Barbon, imaginava. O jornalista recebia freqüentes ameaças de morte.
No interior do estado mais importante do país, a liberdade de imprensa é condicionada a interesses de poderosos.
A Hora do Povo e Mainardi
É grave a denúncia feita pela revista Veja e por seu colunista Diogo Mainardi a respeito de uma ameaça velada publicada no jornal Hora do Povo. O jornal disse que Mainardi poderia perder mais do que o dinheiro de uma indenização que terá de pagar, por decisão judicial, ao hoje ministro da Comunicação Social, Franklin Martins.
Fé e preconceito
Alberto Dines diz que a visita do papa Bento XVI motivou uma pesquisa sobre religião na qual se constatou a força dos preconceitos no Brasil.
Dines:
– A semana no Brasil será decididamente religiosa. Ou pelo menos voltada para assuntos religiosos, o que não é a mesma coisa. A visita do Papa Bento XVI ao Brasil, mais especialmente a S.Paulo, deve absorver as atenções da mídia e agravar a sua conhecida tendência para a concentração temática. As edições do fim de semana ofereceram amostras do conteúdo que deve predominar a partir da próxima quarta-feira. A amostra mais interessante foi a manchete de ontem, domingo, da Folha com o resultado da sua sondagem sobre a fé religiosa dos brasileiros. Não chega a surpreender a constatação de que 97% dos entrevistados acreditam em Deus, que destes, 64% são católicos, 22% protestantes, 5% professam outras religiões, 6% não têm religião e 3% são agnósticos ou céticos. O que espanta e chama a atenção são os preconceitos. Entre 49% e 61%, cerca de metade do universo entrevistado, manifestou preconceitos. E alguns dos preconceitos não são religiosos, mas nitidamente raciais ou racistas como apontou ontem Luiz Weis no site do Observatório da Imprensa.
O problema pode estar na formulação das perguntas, mas significa também que apesar de tanta fé em Deus, as religiões e as confissões religiosas no Brasil ainda não conseguiram extirpar da alma dos seus seguidores o veneno da intolerância e do desrespeito pelo Outro. Este é um assunto que merece muita reflexão e um atento exame de consciência. Talvez seja caso da mídia examinar as suas culpas no confessionário.
O método da insinuação
O Fantástico, da Rede Globo, fez ontem uma reportagem que tinha tudo para ser libelo contra a censura. Deu voz aos escritores Fernando Morais e Paulo Coelho, que condenaram sem tergiversar a maneira como o cantor Roberto Carlos obteve na Justiça um acordo para banir biografia sua escrita pelo jornalista Paulo César Araújo.
Em seguida, o Fantástico relembrou a censura da ditadura militar contra filmes e novelas. Deu voz ao cineasta Neville d´Almeida e ao diretor de TV Daniel Filho.
No final, como quem não quer nada, de modo sub-reptício, jogou no ar a questão da classificação indicativa de programas de televisão determinada pelo Ministério da Justiça, prevista para entrar em vigor proximamente. A Rede Globo não disse que é contra essa tentativa de proteger da abundante baixaria televisiva crianças e adolescentes. Apenas misturou o assunto com a condenação da censura. Usou o método da insinuação.
[Nota em 8/5. O leitor Fábio Carvalho escreve:
‘Em relação ao Fantástico, vale mencionar que, depois da matéria sobre censura (salvo engano, no bloco seguinte), houve uma nota de ‘correção’ lida pelo apresentador Zeca Camargo. Ali, de modo bastante claro, a Rede Globo manifesta opinião. O apresentador afirma é que o sistema de classificação pretendido pelo MJ é ´inconstitucional´.’
O que num bloco era insinuação no outro se tornou manifestação de opinião. Fica o registro.]
Vulcão ignorado
A mídia não consegue ir além da superfície na cobertura de episódios que revelam um vulcão de inquietação de populações pobres submetidas à truculência policial. Limitou-se ontem na televisão e hoje nos jornais a descrever a batalha entre a PM paulista e parte do público de uma apresentação do grupo MC Racionais no centro de São Paulo.
Na sexta-feira, o repórter Sérgio Torres narrou na Folha de S. Paulo como moradores da região em que fica a favela da Vila Cruzeiro, na Penha, Rio de Janeiro, achavam graça no sangrento confronto entre a Polícia Militar e traficantes. E vaiavam quando passava um Caveirão, carro blindado da PM.
A mídia não percebeu o divórcio crescente entre setores da população e o que deveria ser um regime de democracia.