Lula contra Lula
O primeiro movimento concreto do xadrez eleitoral de 2010 está em entrevista dada hoje por Ciro Gomes ao Globo. Ele discursa contra elementos importantes da política do governo, embora seja cotado para voltar ao ministério de Lula. O próprio presidente da República fez nos últimos dias declarações contra sua política, o que leva hoje o Valor a falar em “fim do palocismo”. Mas também hoje sai declaração do ex-ministro Palocci segundo a qual as decisões cruciais sobre a política econômica não foram dele, foram de Lula. O Brasil pode estar às vésperas de sacrificar conquistas importantes dos últimos anos. Os fatores impeditivos do desenvolvimento estão um pouco longe do que indica a retórica de declarações tão prontamente divulgadas pela mídia. Mas elas traduzem interesses poderosos.
Época Negócios
Num período em que as atenções se voltam para novas mídias, as Organizações Globo vão lançar mais um produto em papel, a revista Época Negócios. Será em março de 2007. O diretor de Redação do projeto, Nelson Blecher, apresenta a lógica que orienta seu trabalho.
Nelson:
– Na medida em que os agentes privados passam a ter cada vez mais importância, numa economia descentralizada, as regulamentações diminuem, e houve a emergência do setor privado nos últimos anos. Na medida em que o mundo avança, caminha com a tecnologia e a globalização, gerando imensas transformações, o espectro da imprensa de economia e negócios também se dilata. Além das principais revistas de economia e negócios existem dezenas, centenas de revistas de trade, centenas de sites que vão desde assuntos de exportação até especialização em clusters de sapato, de jóias, etc. Essa revista é basicamente de tendências. Vai navegar por algumas ondas que as revistas de negócios que estão hoje no mainstream tocam de forma lateral. A periodicidade mensal vai nos permitir nos debruçar sobre determinados temas – agenda da sustentabilidade, temas da gestão e de marketing – com mais espaço.
Mauro:
– Nelson Blecher afirma que na Época Negócios, a despeito de um ambiente de cada vez maior superficialidade, ou talvez por isso mesmo, haverá busca de profundidade.
Nelson:
– O que nós queremos é atender a uma enorme faixa do leitorado, da elite executiva do Brasil, que não está encontrando nas publicações existentes hoje informações sobre outras dimensões das empresas que vão além das pilhas de números ou de uma análise factual baseada apenas em performance das empresas. Hoje, para fazer uma revista de negócios no Brasil, você tem que olhar além das fronteiras. As empresas brasileiras estão globalizadas, os executivos também. Eles tiveram o mesmo padrão de educação para atuar em qualquer parte do mundo. Nós não vamos deixar de nos aprofundar, porque a demanda dos executivos que lêem essas revistas hoje é por profundidade. Basta ver hoje o fenômeno de planetarização da revista The Economist. Uma revista global, que pode tanto contar o caso de um executivo quanto explicar o rebaixamento de Plutão.
Rixa mal explicada
Há dias as emissoras de TV do Grupo Bandeirantes abriram baterias contra a Editora Abril. O governo aparece na história porque a Veja, da Abril, fez reportagens que denunciam suposto favorecimento oficial de um filho do presidente Lula, Fábio Luiz, sócio da empresa Gamecorp, que fornece conteúdo para a Play TV, antigo Canal 21 da Band. A imprensa silencia a respeito.
Brigas de gigantes
Saem notícias, mas descosturadas, sobre uma monumental briga que opõe, desde a discussão do modelo de TV digital, as telefônicas às empresas de TV aberta. É parte de outra briga, entre as gigantes Telefônica, espanhola, e Telmex, cujo oligopólio no México é agora ameaçado pela gigante de televisão Televisa, informou ontem a agência Reuters.
Ricos, brancos, pobres, negros
O economista Ricardo Paes de Barros, do Ipea, pergunta, em reportagem publicada hoje no Valor: “O quanto famílias ricas e brancas vão suportar ver uma evolução lenta de sua situação, enquanto as pobres e negras estarão decolando?”. É social e politicamente difícil, e nem é muito. Paes de Barros calcula que, no ritmo atual, levará 25 anos para que o Brasil tenha padrões de desigualdade como os de outros países em desenvolvimento. Ele cita como exemplo a Tunísia. Seria interessante que a mídia ajudasse as famílias ricas e brancas a entender quanto é de seu interesse que as famílias pobres e negras ascendam socialmente o mais rápido possível.