Manchetes velhas
Os jornais mais importantes dão hoje manchetes que ficaram velhas ontem à tarde: acabou a era Severino, etc. Só o Jornal do Brasil procura olhar para a frente, com a manchete ambígua “Lula acelera a sucessão”. Sucessão na presidência da Câmara, entenda quem puder.
O que há de mais importante hoje é saber se os senhores deputados terão juízo e chegarão a uma solução satisfatória para a presidência da Câmara. Quando o governo Lula e a oposição fizeram a trapalhada que resultou na eleição de Severino Cavalcanti, o ano que se tinha pela frente era um convescote, comparado com o que se vê hoje.
Bom sinal foi a ausência de aplausos para o discurso de Severino. Mostra mudança de comportamento dos deputados, para melhor, em relação à saída de Roberto Jefferson. Ou, quem sabe, a diferença entre os dotes artísticos de um e de outro.
Lula resiste
A TV Globo, o Estadão e a Folha leram de forma propagandística a pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem. O dado mais relevante não foi queda da popularidade do presidente Lula, como deu ontem a Globo, nem queda da confiança em Lula, como afirma a Folha nesta quinta-feira, 22 de setembro, nem a perda, por Lula, de metade do eleitorado, manchete no Estadão. A maneira equilibrada de ler a pesquisa está no Globo, que talvez por isso tenha dado a notícia discretamente. Mas o título da pequena nota está certo: “Após queda acentuada, popularidade de Lula fica estável”.
A pesquisa foi divulgada ontem cedo. Os jornais de hoje já deveriam discutir os fatores que levaram aos resultados colhidos pelo Ibope. Que peso tem, por exemplo, a inédita série de boas notícias sobre a economia? As análises talvez apareçam amanhã nos jornais. Mas, se partirem dos títulos errados de hoje, não ajudarão muito a compreender o que ocorre.
A tigresa Heloísa
A senadora Heloísa Helena passou na pesquisa do Ibope de 3 para 5 pontos. Nada de espetacular quando se sabe que a margem de erro foi de 2,2 pontos. A simpatia por Heloísa Helena cresceu entre os eleitores mais escolarizados e com renda mais elevada.
O prefeito César Maia disse que, se ela trocasse a calça e camiseta por um “tailleurzinho”, sua candidatura ganharia algum alento. Mas o tigre não pode mudar suas listras, e o que se viu ontem foi a senadora metida em bate-boca e sopapos com um deputado petista que havia apelado para a baixaria.
O poder é poluto
Politicamente, o saldo do depoimento de Daniel Dantas consistiu em reavivar a consciência de que os dois partidos que ocuparam o poder desde 1995, PSDB e PT, e sabe-se lá quantos aliados, andaram metidos em patranhas.
Duas abordagens petistas
O Alberto Dines aponta contraste entre as posições da direção do PT e da professora petista Marilena Chauí em face da mídia.
Dines:
– Mauro, o Diretório Nacional do PT está errado quando acusa a imprensa de difundir um golpismo midiático. Mas, em compensação, a filósofa Marilena Chauí está certa quando, numa longa carta aos seus alunos, acusa a mesma imprensa de forçá-la a dizer coisas que não disse.
E por que razão está errado o redator do PT e está certa a professora do PT? Porque a acusação do PT é genérica, é difusa, é imprecisa, é impertinente. E, portanto, panfletária. E por que está certa a professora Marilena Chauí? Porque ela critica procedimentos específicos. É pertinente.
A Folha de S. Paulo, que publicou sua carta, reclamou que ela não deu nome aos bois. Não precisa. Ela identifica um comportamento da imprensa e observa um fenômeno.
O PT está errado ao praticar com a imprensa uma caça às bruxas. Está criando um bode expiatório, e mais alguns pronunciamentos deste tipo, contra a imprensa, e logo teremos mais atentados como aquele do Diário de Marília.
A professora Chauí não precisa falar. Basta escrever outras cartas como a que escreveu na Folha e será convidada para integrar o Observatório da Imprensa.
Para ler a carta de Marilena Chauí: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=347ASP012
Reação curiosa
A Folha de S. Paulo gasta papel e tinta para criticar em editorial, hoje, a remoção pela prefeitura paulistana de cartazes de bordéis com cenas de sexo, destinados a atrair tabalhadores da Fórmula 1 que gastam em euros e dólares. Eram 32, no caminho de adultos e crianças. Viesse o editorial acompanhado da foto de um dos outdoors removidos, a argumentação do jornal, sob o título adjetivado “Reação furiosa”, seria recebida com fúria pelos leitores.
Se está sem assunto mais relevante para tratar em editorial, a Folha não deveria ter escrito que a Prefeitura “começa a interferir discricionariamente em aspectos que dizem respeito à liberdade de expressão, um preceito fundamental da Constituição”. Deveria ter se manifestado a favor da medida, que sinaliza uma tentativa de recuperar autoridade no espaço público.