Numerologia vigiada
Há campanha. E a colaboração da imprensa pode ser eficaz para detalhar assuntos relevantes e para fiscalizar afirmações lançadas por candidatos. Hoje, em editorial, o jornal Valor critica o primeiro debate. É lamentável que o país, após amargar tantos escândalos, diz o jonal, o público “agora veja esses mesmos episódios encobrirem um real debate sobre o que se quer para o país”.
Os três jornais mais importantes colocaram equipes de repórteres para verificar, ontem, quanto dos dados citados e afirmações feitas pelos candidatos no domingo correspondem ou não à realidade. Um belo serviço.
Menos teatro, mais jornalismo
Alberto Dines defende os debates individuais de candidatos com jornalistas.
Dines:
– Boas notícias depois da decepção do debate da Band: a Folha anunciou ontem a sabatina com os presidenciáveis nos próximos dias 18 e 19. Um de cada vez. O Globo e o Estado não vão querer ficar atrás e certamente vão organizar as suas sabatinas. Este tipo de debate com jornalistas pode render respostas longas, idéias mais elaboradas e programas de governo concretos. O debate tipo combate, como o organizado pela Band, rende muito pouco para o eleitor e leitor exigente. Diante de jornalistas experimentados e independentes, os candidatos não conseguirão tergiversar fingindo que não entenderam a pergunta. Além disso, a sabatina é publicada, pode ser comparada com a sabatina de outro jornal. Essa é uma contribuição verdadeiramente jornalística de parte da imprensa onde não sobra muito lugar para o espetáculo. Mas se você quer refletir um pouco mais sobre o debate do último domingo não perca o “Observatório da Imprensa” hoje à noite. Às onze e quarenta na Rede Cultura e, antes, ao vivo, às dez e meia na Rede da TV-E.
Imprensa fiel aos fatos
O repórter do Globo Gerson Camarotti não concorda com as teorias conspiratórias sobre o papel da mídia na campanha eleitoral e dá exemplos de momentos em que o noticiário favoreceu um ou outro dos candidatos à presidência.
Camarotti:
– O primeiro momento, que foi o momento mais longo, foi pautado pela dificuldade do candidato Alckmin em decolar, as crises na campanha do PSDB. Isso ganhou muito espaço. A imprensa conseguiu realmente mostrar as dificuldades na campanha do Alckmin, a carta do Fernando Henrique Cardoso gerou uma crise na campanha do Alckmin, e acabou sendo um noticiário negativo para o Alckmin, mas como um reflexo da cobertura jornalística. E num segundo, o noticiário ficou mais negativo para o candidato Lula. O episódio da compra do dossiê acabou prejudicando muito a campanha do Lula, mas é também um reflexo do noticiário. No primeiro turno o Alckmin teve um momento muito ruim e depois o Lula teve um momento muito ruim e a mídia conseguiu retratar isso de forma isenta. Já no segundo turno criou-se um anticlímax no Palácio do Planalto e a mídia consegiu retratar isso e logo depois, com o acordo do Alckmin com o Garotinho, o noticiário ficou mais negativo novamente para a campanha do Alckmin. Essa semana vai ser mais um reflexo do debate. A surpresa do Alckmin, o tom mais enfático, mais agressivo, mais contundente surpreendeu o presidente Lula e a avaliação interna no próprio Palácio do Planalto é de que o debate deu uma vantagem para o candidato Alckmin. Essa avaliação que setores do PT e do PSDB que a mídia em dado momento estava contra o Alckmin ou contra o Lula não procede. Eu vejo uma cobertura muito jornalística, muito isenta nos principais órgãos de imprensa.
Contra baixarias
O Ministério da Justiça mandou a TV Record passar para depois das 21 horas a novela Vidas Opostas, informa hoje Daniel Castro, na Folha. As autoridades consideraram a novela violenta e imprópria para menores de 14 anos. A campanha contra a baixaria faz efeito.
Contra a violência
Será feito na quinta-feira, às 13 horas, no Rio de Janeiro, protesto contra invasões da Polícia Militar na Favela da Maré. Em um mês, incursões bélicas causaram a morte de cinco crianças e adolescentes. A mídia noticia de modo fragmentado esse massacre.
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