Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Mexendo nos bolsos
>>Um passo adiante

Mexendo nos bolsos


A notícia saiu primeiro no Blog da Amazônia, do jornalista acreano Altino Machado, e nesta quinta-feira, dia 27, ganha espaço nos jornais do centro-sul: o grupo JBS-Friboi, uma das maiores corporações do comércio de carne do mundo, assinou acordo com a Justiça Federal no Acre e se compromete a não comprar carne originada de áreas embargadas.


A Friboi em outros frigoríficos vêm sendo acusados de estimular o desmatamento ao negociar com criadores estabelecidos em territórios indígenas e em reservas de preservação e com propriedades onde existe trabalho escravo ou em condições degradantes.


Não se trata, porém, de uma súbita conversão aos bons modos nos negócios: o grupo JBS-Frigoi está apenas tentando escapar de uma multa que poderia chegar a R$ 57,8 milhões, se prosseguisse com sua prática criminosa.


Segundo os jornais, procuradores federais estaduais e do Trabalho no Acre, reunidos em uma força-tarefa, propuseram há duas semanas uma ação conjunta contra o frigorífico e outras 13 empresas do setor, juntando provas de que, entre 2007 e 2010, eles haviam comercializado 10 mil cabeças de gado de origem irregular.


O acordo assinado pela empresa prevê a suspensão de todas as compras de carne de propriedades que tiverem sido autuadas pelos órgãos de defesa ambiental ou de áreas onde a pecuária tiver sido legalmente proscrita.


O termo de compromisso deverá ser seguido pelas demais empresas do setor, até que se estabeleçam práticas mais sustentáveis.


Se o compromisso for rompido, os frigoríficos devem pagar uma multa de R$ 500 por quilo de carne comercializada.


No total, as multas poderiam chegar a R$ 2 bilhões.


Trata-se de uma notícia que merecia muito mais do que as magras colunas dedicadas a ela pelos grandes jornais de circulação nacional.


O Estado de S.Paulo e a Folha de S.Paulo apenas fazem um registro pouco alentado.


No Globo, o assunto ficou restrito ao artigo da colunista Míriam Leitão.


Um passo adiante


O acontecimento deveria ocupar lugar de mais destaque nas edições dos jornais.


Afinal, os editores sabem que a criação de gado é uma das principais causas de desmatamento, principalmente na Amazônia, e que a demanda de grandes frigoríficos empurra cada vez mais as pastagens para dentro da floresta.


Nesse sentido, a prática dos frigoríficos de adquirir o gado criado em reservas indígenas e áreas de preservação tem sido um fator decisivo para a destruição do patrimônio ambiental brasileiro.


O compromisso que as empresas foram obrigadas a firmar não elimina o problema, mas concretiza um termo que habilita as autoridades a agir rapidamente, aplicando multas significativas.


Como se sabe, quando falta consciência social só mesmo mexendo nos bolsos.


A ação conjunta dos procuradores do Acre teve esse sentido claro.


Mas o efeito poderia ser ainda maior se a imprensa de circulação nacional desse ao fato seu devido valor.


O grupo JBS-Friboi e outras empresas do setor tem ações negociadas em bolsa.


Se a imprensa costumasse destacar seus malfeitos, talvez o próprio mercado tivesse avaliado os riscos de perdas com um eventual escândalo internacional envolvendo desmatamento e trabalho escravo.


Mesmo com o crescimento das novas mídias e das redes sociais virtuais, as demandas da sociedade ainda precisam da caixa de ressonância da imprensa tradicional, que influencia diretamente autoridades e instituições.


Estão marcadas manifestações de ambientalistas em várias cidades brasileiras, contra as mudanças no Código Florestal.


Milhares de assinaturas em campanhas contra o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) têm sido encaminhadas ao Executivo e ao Congresso Nacional.


Seu efeito poderia ser ampliado se a imprensa lhes desse atenção.


Um dos resultados desse movimento está registrado no Estadão desta quinta-feira: o deputado Aldo Rebelo, relator do projeto do Código Floretal, finalmente acena com a possibilidade de manter, no texto a ser votado, a exigência de que os proprietários rurais mantenham um percentual de vegetação nativa a título de reserva legal.


Ainda é pouco, mas já é um passo para o diálogo necessário.