Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Mídia aos espasmos
>>Veja e os espiões

Mídia aos espasmos


A madrugada foi estranhamente silenciosa e a manhã está quieta. Ônibus parados. Dificuldade para deslocamento das pessoas. Um integrante da Polícia Civil diz ao Observatório da Imprensa que o Estado em São Paulo não cumpre suas obrigações e negocia com facções criminosas. (Leia aqui.) As facções se fortalecem e o Estado continua lento. A mídia também é lenta. Incapaz de acompanhar sistematicamente as questões do crime, das polícias, das prisões, da justiça, dos advogados, trabalha por espasmos. E não sabe articular essas realidades com as questões sociais.


Voltará o descuido


Quando a onda passar, o cotidiano do crime e da polícia será esquecido. A mídia segue o passo das autoridades e da universidade. As elites vivem em redomas.


Veja e os espiões


Alberto Dines pede que a imprensa se manifeste contra a reportagem da Veja que usou, sem comprovação, espionagem do banqueiro Daniel Dantas.


Dines:


– Exatamente há um ano, através da Veja e em seguida do Fantástico, começava a mais prolongada e intensa crise política brasileira.. O vídeo da propina não foi um trabalho estritamente jornalístico da revista: foi filmado nos Correios por um espião profissional a serviço de um empresário prejudicado em licitações. A revista apenas o transcreveu. Mas abriu as comportas de um mar de escândalos comprovados em CPIs e depois pela Procuradoria Geral da República.


Um ano depois, a mesma Veja coloca a imprensa numa situação constrangedora ao veicular denúncias sem qualquer indício concreto e, ainda por cima envolvendo a pessoa do presidente da República e alguns de seus ex-ministros. A matéria da última edição de Veja não apenas compromete a revista de maior circulação do país, mas respinga no resto da imprensa no exato momento em que a palavra de ordem é colocar sob suspeita o jornalismo brasileiro justamente por causa dos seus acertos. Primeiro foi o ex-governador Garotinho, depois o ex-secretário do PT, Silvio Pereira, depois o presidente da Bolívia Evo Morales, depois o senador Ney Suassuna flagrado pela Operação Sanguessuga e, finalmente, a CNBB todos colocaram o trabalho da imprensa sob suspeita. E estavam errados, felizmente. Mas a lamentável façanha de Veja pode colocar tudo a perder. A diligência de muitos pode ser prejudicada pela irresponsabilidade de alguns. O presidente Lula, legitimamente indignado, colocou a culpa num repórter a quem se referiu com pesados adjetivos. O presidente também errou: a culpa nunca é de um repórter mas, sim, daqueles que determinam o que sai ou não sai publicado. Desta vez, a imprensa além de noticiar a aberração deve se manifestar contra ela. De forma candente. A solidariedade entre as empresas jornalísticas desta vez não pode impedir que a imprensa manifeste coletivamente o seu repúdio à difamação e às calúnias.


O arsenal de Dantas


No Globo de hoje (15/5), Teresa Cruvinel compara a denúncia publicada na Veja ao Dossiê Cayman, falsificação produzida às vésperas da eleição de 1998. O Estadão informa que o governo decidiu atacar a Veja mas poupar Daniel Dantas, por suspeitar que o banqueiro teria um arsenal de informações que poderiam ser usadas durante a campanha eleitoral.


Denúncias sérias


A Folha de S. Paulo publica hoje duas denúncias sérias, sem lances rocambolescos nem informantes suspeitos.


Uma reportagem diz respeito a verbas recebidas pelo Instituto da Cidadania, organismo criado pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. O dinheiro aumentou, mas os projetos minguaram. Em outra reportagem, volta à tona a ajuda dada pela Nossa Caixa a políticos do PSDB durante o mandato de Geraldo Alckmin.



Américas desconhecidas


Uma certa esquerda boliviana tenta ressuscitar a tese do subimperialismo brasileiro, relatam hoje os enviados da Folha de S. Paulo a La Paz, sem detalhar que tese é essa. No Brasil, um dos estudiosos do assunto é o dirigente do MST João Pedro Stedile.


O vice-presidente da Bolívia, Alvaro Garcia Linera, ex-guerrilheiro, declarou que discorda da aplicação da tese do subimperialismo às relações com o Brasil.


A cada dia que passa fica mais evidente que no Brasil os parceiros universidade e imprensa estudam muito pouco a realidade do continente, da Patagônia ao Alasca.


Isso em parte se explica pelo fato de ter sido o Brasil primeiro uma colônia européia, depois um país com povo colonizado de dentro pela elite. Permaneceu fechado.


Há 15 anos, um presidente da República, Fernando Collor, deu impulso a uma inserção internacional atabalhoada. O narcotráfico, que tinha começado a agir no país uma década antes, parece ter entendido melhor o contexto. Seus negócios prosperaram. Grandes empresas brasileiras também saíram do isolamento nessas décadas. Mas a imprensa e os intelectuais não acompanharam esses movimentos.


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