A edição de hoje, excepcionalmente, não conta com o comentário radiofônico de Luciano Martins-Costa.
Mídia vibra, deveria cobrar
Alberto Dines:
– Capas vibrantes, manchetes eufóricas, a animação foi construída ao longo de 18 dias e explodiu na tarde de uma sexta-feira que começou incerta, carregada de dúvidas. A renúncia de Hosni Mubarak teve um sabor extra para a mídia internacional: sua vigilância na praça Tahrir foi decisiva para manter a pressão dos rebeldes e conter a repressão ensaiada dias antes. Jornalistas também têm o direito de engajar-se, comemorar e… abusar de metáforas com faraós e múmias. Felizmente deixaram Cleópatra de lado. O lugar-comum não foi inventado na era digital, mas é o seu beneficiário universal. Apesar das duas semanas de intenso noticiário, os analistas preferiram não arriscar-se. Enquanto o velho ditador desabava, o esquema militar que o produziu e tutelou ficou esquecido. A república castrense do Egito ficou na sombra, os especialistas preferiram concentrar as suas atenções no chamado “perigo islâmico”, esquecidos de que a Irmandade Muçulmana, embora nascida às margens do Nilo, hoje não é ameaça. E no sábado quando o marechal Tantawi anunciou que o Egito respeitaria todos os acordos internacionais nossa mídia exultou tanto quanto os israelenses. Deveria aproveitar a boa notícia para pressionar o atual governo de Bibi Netanyahu a fazer a sua parte e acabar com um dos principais focos de tensões na região. No momento em que surge um novo Egito no cenário oriental a continuação dos assentamentos israelenses na Cisjordânia exibe a decadência dos velhos falcões.