Milícias ameaçaram repórter
O editor adjunto de cidade do Globo Jorge Antônio Barros denuncia ameaça de morte feita pelas chamadas milícias do Rio de Janeiro a uma repórter do jornal.
Jorge:
– A questão da milícia que eu acho grave é o grande envolvimento de policiais civis e militares. Esses integrantes das forças de segurança que faziam antes seus trabalhos de segurança particular, seu “bico”, que não é permitido por lei, mas que é uma coisa legítima, agora se uniram, formaram um outro grupo armado, um terceiro ator armado nesse processo, perigosíssimo, que inclusive ameaçou jornalistas que foram os primeiros a denunciar. Vera Araújo, repórter do Globo, foi ameaçada, por telefone, ameaçada de morte, porque foi a primeira a denunciar as milícias, do modo como elas se formaram. Sofreu ameaças, ficou oito meses afastada de licença, por traumas psicológicos gerados por essas ameaças. Então, esse grupo, que parece ser simpático às comunidades, é extremamente perigoso, porque eles têm envolvimento total com o aparelho policial oficial, conhecem os meandros, como tudo funciona, a tal ponto que no último dia do ano, pelo rádio da polícia, os PMs saudavam os milicianos, desejando a eles feliz 2007. Isso é que é lamentável. O atual secretário de Segurança, antes de assumir o cargo, duas semanas antes, prometeu que iria investigar o envolvimento dos policiais. Eu creio que isso seja muito difícil de acontecer, por causa do corporativismo dentro da Polícia. Mas se o novo governo quiser realmente implantar um sistema de ordem e de controle desses altos níveis de violência no Rio, vai ter que combater duro as milícias. Se não, está fadado a ser derrotado pelo crime.
Força virtual
Quinhentos homens da Força Nacional no Rio significam, em média, pouco mais de 150 homens por turno de oito horas. No sábado de manhã, em alguns quarteirões da praia de Ipanema perto do hotel Caesar Park, havia 36 homens e mulheres da PM. As Polícias do Rio têm 50 mil homens. Alguém dirá: não é a quantidade que importa, é a qualidade. Pode ser. Nesse caso, é preciso parar de agitar números para a arquibancada. Ontem, reportagem da Folha mostrou a Força Nacional como objeto de chacota de militares. Hoje, a mesma Folha revela, em entrevista do ministro da Defesa, Waldir Pires, a confusão que cerca o emprego das Forças Armadas na segurança pública. E o coronel da reserva da PM José Vicente da Silva Filho lembra em artigo no Estadão que não haverá solução rápida para a questão da segurança.
“Prender, prender, prender”
O deputado federal Luiz Antônio Fleury, que era governador de São Paulo quando houve o massacre do Carandiru, pede plebiscito para reduzir a maioridade penal para 16 anos. A Veja pede a construção de mais presídios e recomenda “prender, prender, prender”. O governo de São Paulo não fez outra coisa nos últimos anos. E o resultado se conhece.
Mortes nas estradas
Alberto Dines condena a acomodação geral diante do quadro de mortes nas estradas brasileiras.
Dines:
– Os humoristas deveriam ser levados a sério. Pelo menos às vezes, em algumas ocasiões. Ontem, por exemplo, dia sete de Janeiro, José Simão da Folha perguntou aos leitores: “Falta muito para acabar 2007?” A pergunta é perturbadora, incômoda, mas os humoristas estão ai para isso, para incomodar. E respondendo à pergunta de José Simão – hoje faltam 357 dias para acabar o ano. Mas para acabar o verão (que mal começou) ainda faltam quase três meses. Significa que até meados de março estão condenados a morrer em nossas estradas cerca de quatorze mil, oitocentos e cinqüenta compatriotas. Isso se for válido o número de 165 mortes por dia só em acidentes de trânsito. De quem é a culpa – das rotinas, das repetições ou da falta de atenção? As autoridades sabem que no início do ano, por causa das férias, as pessoas viajam mais. Também sabem que as fortes chuvas de verão tornam extremamente perigosas as favelas nas encostas dos morros. Hoje já temos repartições de defesa civil cuja missão principal é prevenir, avisar por antecipação. A imprensa também tem a obrigação de chamar a atenção para as sazonalidades. E, apesar disso, o cidadão parece alheio ao calendário, alheio às estatísticas e alheio às advertências. Vota nas eleições e não cobra dos eleitos, assiste à televisão e não leva a sério o que está vendo. E assim, por exclusão, chegamos à triste conclusão de que ano novo está parecendo um ano velho em grande parte por culpa dos humoristas.