Notícias do Brazil
O prêmio Nobel de Economia de 2001, o americano Michael Spence, declarou nesta semana que o Brasil vai liderar o surgimento na América Latina de um período de alto crescimento sustentado.
A notícia ganhou mais espaço em boletins eletrônicos de bancos e corretoras do que nos jornais de papel ou em seus sites na internet.
A declaração do economista foi na quarta-feira passada, em Londres, durante a apresentação de um relatório sobre estratégias de crescimento sustentável e desenvolvimento inclusivo.
O evento não despertou o menor interesse da imprensa brasileira.
Pois deveria.
O estudo resumido por Michael Spence situa o Brasil numa encruzilhada que pode definir se entra definitivamente no rol das nações desenvolvidas ou se vai ficar mais um século olhando para algum ponto no futuro.
A Comissão de Crescimento e Desenvolvimento, um centro de estudos independente formado por especialistas, empresários e representantes de governos, é considerada uma provável sucessora do Clube de Roma, fórum criado em 1968 para debater a solução de problemas mundiais.
Sugiu em 2006, dirigida pelo próprio Spence, mas ainda não entrou na agenda dos editores brasileiros.
O que mostra o estudo é que o Brasil é um dos países com maior capacidade para produzir surtos de crescimento rápido, devido a determinadas características de sua economia, de seu território e de sua população.
No entanto, historicamente, o País não tem sido capaz de manter por longos períodos esse crescimento, por motivos que não são difíceis de avaliar.
O relatório observa, por exemplo, que o Brasil foi um dos primeiros países a produzir um crescimento alto e sustentado no pós-guerra, acelerando sua economia nos anos 50, mas perdeu seu ímpeto nos anos 1980, por causa do alto endividamento e inflação elevada.
Michel Spence ressalta que, neste início do século XXI, o Brasil tem a inflação sob controle e resolveu o problema da dívida, criando condições para investimentos em infraestrutura e para a formação de uma poupança sólida, condições importantes para a sustentabilidade do seu crescimento.
Essas observações são essenciais para o entendimento do noticiário econômico que recebemos todos os dias, e também para a formação de uma opinião do cidadão sobre as políticas públicas que são discutidas pela imprensa.
Mas a agenda dos jornais é bem mais pobre.
Uma floresta no caminho
O debate sobre desenvolvimento na imprensa brasileira ainda está longe de amadurecer.
Basta folhear os jornais, mesmo os especializados em economia, para observar que a imprensa ainda fala em ‘crescimento econômico’, como se ignorasse a tendência mundial de identificar o desenvolvimento sustentável como objetivo estratégico.
A conciliação entre crescimento econômico, preservação ambiental e resgate social é a síntese dessa tendência, que a imprensa nacional parece ignorar ou desprezar.
Uma frase publicada hoje no jornal O Estado de S.Paulo resume claramente o que pensam dirigentes públicos e, por conseguinte, o que sai na imprensa.
Ela foi dita pelo governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, ao afirmar que não vai ceder policiais para a anunciada criação da Força Nacional de Segurança Ambiental.
Maggi disse: ‘Já tenho pouco efetivo para cuidar do povo, não tenho soldados para proteger a floresta’.
Maggi, como a maioria dos políticos brasileiros e a imprensa, entende que a proteção da floresta não tem relação com a defesa da população.
Mais grave: ele e muitos outros dirigentes públicos acham que a floresta é um entrave no caminho do desenvolvimento.
Essa parece ser a principal limitação do noticiário que recebemos todos os dias: o debate sobre a questão ambiental vem separado do noticiário econômico, que parece não ter nada a ver com a política, onde amadurecem as políticas públicas que definem a economia.
As notícias sobre a questão ambiental, que envolve o destino das populações indígenas, chegam apartadas do noticiário sobre os conflitos agrários e a política agrícola, sendo que não se pode formar uma opinião adequada sobre um tema sem levar em conta os demais.
O noticiário fragmentado também faz com que a imprensa não preste atenção em novos indicadores econômicos que não cabem nas planilhas tradicionais dos economistas.
A visão dos jornais ainda se prende à superada relação custo-benefício financeira.
Nessa conta, quem perde é o leitor.