O coro dos contentes
O acordo no Senado entre PT e PSDB em torno da nova legislação de campanha eleitoral não agrada ninguém de fora do esquema. O texto que será agora examinado pelo Tribunal Superior Eleitoral, onde o ministro Marco Aurélio já disse que só valerá em 2008, é a prova mais completa e acabada de que: um, os partidos dominantes não estão interessados em mexer com caixa dois de campanha e outros desvios; dois, o PT perdeu os traços que vinte anos atrás o tornaram uma novidade na política nacional.
A imprensa deixa dias, semanas e meses passarem sem analisar esse pano de fundo da política brasileira.
O próximo é Vadão
Os três grandes jornais dão hoje na primeira página a absolvição do deputado petista José Mentor por falta de quórum. Mas a mídia deixou o assunto esquecido nos últimos dias e contribuiu, assim, para a erosão das instituições. Agora é tarde. Ausentes do PMDB deram a maior contribuição a favor de Mentor.
O próximo candidato a absolvição é o pepista Vadão Gomes, de São Paulo.
Mídia é discreta sobre mídia
Alberto Dines diz que a mídia não se entusiasma quando a notícia dos pedidos de indenização feitos pelo caseiro Francenildo Costa afeta um veículo da imprensa.
Dines:
– Coisas curiosas e surpreendentes acontecem no misterioso mundo da mídia. Repare neste caso: na terça-feira, estava na primeira página dos três jornalões a informação de que o advogado do caseiro Francenildo Costa entrou com duas ações de indenização por danos morais. Uma contra a Caixa Econômica Federal no valor de dezessete e meio milhões e outra contra a revista Época no valor de quatro milhões e meio de reais. Foi uma notícia importante e a imprensa soube valorizá-la devidamente. Mas no dia seguinte, ontem, o assunto evaporou-se completamente dos mesmos jornais. Pergunto: deixou de ser importante apenas 24 horas depois, não merecia algum tipo de desdobramento? Claro que merecia. Se a ação de indenização fosse apenas contra a Caixa Econômica, a questão seria acompanhada por muitos dias. Mas o pedido de indenização contra a revista magicamente tirou o sabor da informação. Era picante num dia e no seguinte ficou desagradável. Quando se trata de indenizações de vulto a mídia comporta-se corporativamente, na defensiva, os concorrentes tornam-se parceiros mesmo que Veja tenha brigado com Época por causa do mesmo caseiro, poucas semanas antes. As empresas jornalísticas sempre reclamaram contra a indústria da indenização que às vezes leva veículos à falência. A reclamação é valida, merece ser discutida. Mas a ação indenizatória do caseiro também é legítima, não deveria ter sido engavetada no dia seguinte à sua divulgação.
Palocci, como Delúbio
Ontem, um dia antes do depoimento do ministro Márcio Thomaz Bastos no Câmara, a Polícia Federal chegou à conclusão de que ele não teve nada a ver com a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. É provável que Antonio Palocci, como Delúbio Soares, pague o pato sozinho.
Futebol paulista
Apareceu mais uma revista que recebeu verbas do governo paulista e publicou reportagem de capa com o então governador Geraldo Alckmin. Chamava-se Futebol Paulista, era ligada à Federação Paulista de Futebol e já deixou de circular. O governo dá as explicações de praxe.
Genro de Lula
E apareceu também um genro do presidente Lula que, segundo o Globo desta quinta-feira, 20 de abril, recebe reivindicações de prefeitos de Santa Catarina e as repassa à senadora Ideli Salvatti, do PT catarinense. A reportagem do Globo apresenta um vívido retrato da teia de relações do PT catarinense com o poder federal.
Mais combustível para a chamada CPI do Lula, se vier de fato a se instalar.
Poder iraniano
O Estadão dá hoje informações mais substantivas sobre as forças armadas do Irã, classificadas como perigosas, mesmo sem a posse de bombas atômicas, pelo especialista Roberto Godoy. A reportagem mostra por que o primeiro-ministro Tony Blair considera temerário realizar ação militar contra o Irã.
Sustos na América do Sul
Enquanto o Brasil ainda se espanta com acontecimentos na Bolívia, a Petrobrás enfrenta problemas no Equador. E o presidente da Venezuela, Hugo Cháves, pediu audiência fora da agenda ao presidente Lula. A imprensa cobre apenas eventos na América do Sul, não discute tendências. E vive levando sustos.
Mídia prefere Daslu
O rapper MV Bill disse ontem na USP que no dia 5, quando houve sua badalada visita à Daslu, esteve antes no Real Parque, favela de São Paulo. Nem sombra de reportagem sobre essa primeira visita. Favela, mesmo encravada na cidade, é periferia. A mídia só toma conhecimento dela quando ocorre algo muito chocante.
# # #
Leitor, participe: escreva para noradio@ig.com.br.