Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

>>O destino de Palocci
>>Lula crítico da mídia

O destino de Palocci


Segundo a Folha de S. Paulo desta terça-feira, 22 de novembro, Antonio Palocci pediu para sair do Ministério da Fazenda e já há um sucessor escolhido, o senador Aloisio Mercadante. Em editorial, o Estado de S. Paulo constata que existe uma investida política contra a seriedade da gestão econômica. O Valor diz que Palocci traçou sozinho um caminho de defesa e poderá contar com amparo na oposição, que não gostaria de dar a Lula bons pretextos para trocar gastos por votos em 2006.


Palocci será ouvido hoje em duas comissões da Câmara. O presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, amigo e colaborador de Lula, presta depoimento na CPI dos Bingos.


Lula crítico da mídia


O Alberto Dines diz que o presidente Lula às vezes tem razão em criticar a mídia.


Dines:


– Mauro, o presidente Lula vai se transformando aos poucos num crítico da mídia. Raras são as semanas em que deixa de fazer uma crítica ao desempenho dos jornais. Às vezes erra, outras vezes está coberto de razão. Foi o que aconteceu ontem quando o presidente reclamou das especulações da mídia a partir dos elogios que fez a Dilma Roussef na solenidade que comemorou o lançamento do programa de bio-diesel. Se a ministra foi a coordenadora do programa ainda quando ocupava a pasta das Minas e Energia, cabia a ela os aplausos do chefe da nação. Comentamos o episódio aqui neste Observatório.


A verdade, Mauro, é que a mídia voltou a ficar afobada e excitada. Quer ver sangue. Está errada: a imprensa é a única que não pode perder a cabeça. A continuação de Antônio Palocci no ministério da Fazenda, ao contrário do que aconteceu com o então ministro José Dirceu, é uma questão que ultrapassa o governo Lula, mobiliza o país de ponta a ponta, entrou na esfera internacional. Por isso foi focalizada na edição desta semana do Economist. A mídia não deve torcer por ninguém, nem distorcer o que está acontecendo. É sobre a mídia e Palocci que vamos falar hoje à noite no Observatório da Imprensa: às dez e meia na TVE e às onze na TV Cultura.


A mídia não inventou a crise


Dines, eu discordo dessa visão do presidente Lula sobre a mídia. A imprensa não inventou a briga pública no ministério, a hesitação em relação à política econômica, a vociferação dos adversários dessa política, a fragilidade de Palocci devido às denúncias sobre Ribeirão Preto. A crise não é de “denuncismo”, como diz Lula, mas de “mensalão”.


A imprensa comete erros. A oposição faz jogadas oportunistas. Mas a crise não foi fabricada pela mídia. Assim como a mídia não inventou os assassinatos de prefeitos petistas de Campinas e Santo André.


PT também ataca a mídia


A propaganda obrigatória do PT paulista ontem à noite foi um ataque em regra à imprensa. O presidente do partido no estado, Paulo Frateschi, chegou a dizer que não quer censura. Mas quem falou em censura?


Silêncio branco


Passou em brancas nuvens a estréia, no domingo, da TV da Gente, voltada para o público negro e dirigida pelo cantor e apresentador Netinho de Paula. Só a TV Bandeirantes, que é parceira de Netinho, noticiou ontem o advento da emissora. Fora disso, apareceu a agressão de Netinho a um comediante.


Ou cotas, ou diplomas


A política de cotas proposta no Estatuto da Igualdade Racial, ainda pendente de aprovação no Congresso, estabelece que todas as empresas com mais de 20 empregados deverão ter no mínimo vinte por cento de afro-brasileiros. Isso inclui, evidentemente, as empresas de mídia.


O diretor de Redação do Globo, Rodolfo Fernandes, afirma que a imposição de cotas, no caso, se chocará com a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo.


Rodolfo:


– Um projeto que preveja 20 por cento de jornalistas contratados pelo critério de serem afro-descendentes é totalmente incompatível com a outra exigência que existe para a contratação de jornalistas, a lei que obriga a contratar apenas pessoas com diploma. Como as universidades no Brasil não formam 20 por cento de jornalistas afro-descendentes por ano, uma dessas duas leis é totalmente incompatível com a outra. Não vai existir mão-de-obra suficiente para ser contratada se o Estatuto entrar em vigor com a exigência do diploma. Imagino que numa situação em que essa lei venha a ser aprovada, vai ter que ser colocada uma cláusula de entrada em vigor efetiva dessa nova legislação de muitos e muitos anos, sob pena de ela praticamente virar letra morta.