Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O fio da navalha
>>Guerra interna

O fio da navalha
 
Diante da variedade de escândalos e vertentes de noticiário a explorar, a mídia faria bem se concentrasse o foco no território que produz as principais articulações da corrupção na política brasileira: os fatos denunciados na Operação Navalha, que trata da relação de empreiteiras com políticos e autoridades, inclusive policiais. Se, em torno desse canal principal, vierem a se agregar afluentes, como as atividades de um compadre e de um irmão do presidente Lula, ou a ligação do senador Renan Calheiros com as empreiteiras Gautama e Mendes Júnior, tanto melhor. Quer dizer, tanto pior. Mas não se pode brigar com os fatos.


Polícia e show
 
O ministro da Justiça, Tarso Genro, quer rever procedimentos usuais da Polícia Federal, como algemar detidos e enfiá-los na traseira de camburões. Mas como ficariam as imagens para a mídia?


Caras na Veja
 
Alberto Dines discute a reportagem principal da Veja desta semana.


Dines:
 
– As denúncias contra o senador Renan Calheiros ganharam novo fôlego neste fim de semana: o advogado da jornalista Mônica Veloso foi substituído pela própria cliente enfeitando a última edição de Veja com novas acusações contra o senador. A revista estava nas bancas no sábado pela manhã com a charmosa capa, mas horas depois, sábado à noite, o advogado comunicou à Polícia de Brasília que ele e sua cliente estão sendo ameaçados de morte. O que chama a atenção neste caso são as opções editoriais de Veja. Vejamos: o PSOL conseguiu abrir um processo na Comissão de Ética do Senado para investigar eventuais ligações de Renan Calheiros com uma grande empreiteira;  as contas do senador estão sendo verificadas de perto pela mídia para saber se a pensão paga à jornalista por conta de uma filha que tiveram saiu do seu bolso ou de terceiros; então por que esta insistência do maior semanário brasileiro em levar o caso para a esfera privada? O caso do senador Renan é agora um caso de interesse público, a sua permanência na presidência do Senado está sendo abertamente discutida nas colunas políticas. Esta obstinação da Veja em esquentar o episódio com os ingredientes apelativos de Caras não ajuda a cruzada nacional contra a corrupção e pode convertê-la numa farsa.


África e América Latina
 
O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, criticou a mídia brasileira por não ter correspondentes em países africanos, dando a entender que a futura rede pública os terá. Mas não precisaria atravessar o oceano. São raros os correspondentes brasileiros em países da América do Sul. Tão pouco conhecida que será objeto de uma série no Fantástico, como narra hoje reportagem de Flávia Guerra no Estadão.


Rádios ilegais
 
A Revista da Folha de S. Paulo publicou ontem reportagem de João Wainer onde entrevistados questionam o discurso oficial sobre as chamadas rádios piratas. A reportagem chama-as de ilegais, mas mostra que o governo não promove a tramitação dos pedidos de legalização.


Guerra interna
 
O jornalista Merval Pereira passou três dias discutindo em sua coluna no Globo, sob o título “O Haiti é aqui?”, a possibilidade de uma intervenção do Exército em favelas do Rio de Janeiro. Deixou de lado, entre outros, dois pontos: primeiro, o papel da própria polícia nas redes de criminalidade. Tratou-a como uma força homogênea a serviço da lei, o que ela não é. Segundo, não disse uma palavra a respeito da Força Nacional de Segurança, que chegou ao Rio de Janeiro há seis meses para “garantir a tranqüilidade da população e dos visitantes do estado”, nas palavras do governador Sérgio Cabral Filho.
 
O mais recente plano de dar um “banho de sangue” nas favelas do Rio, sob o comando das Forças Armadas, tem quase duas décadas. Foi muito discutido na época da Rio 92, a grande reunião internacional sobre o meio ambiente durante a qual a segurança foi reforçada por militares. O plano previa muitos milhares de mortes. No final de 1994 e início de 95 o Exército foi empregado novamente. Até hoje correm na Justiça processos contra militares participantes dessas duas ações.


De frente para o crime
 
Reportagem de André Caramante na Folha de hoje revela a difícil situação de um empresário que comprou em Mauá, Grande São Paulo, imóvel de um homem acusado de ser ligado ao PCC. A reportagem dá um painel muito precioso das articulações do chamado crime organizado.
 
No Estadão, uma pequena nota, citando o jornal boliviano La Razón, informa que 80% da cocaína da Bolívia é vendida para o Brasil e que o principal comprador é o PCC. A venda dessa coca para a Europa movimentaria duzentos milhões de dólares por ano.