Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O mesmo de sempre
>>Faltou sensibilidade

O mesmo de sempre

A campanha eleitoral dos candidatos a prefeito começou neste domingo em tom de quermesse.

Nas principais capitais, os jornais noticiam passeios dos candidatos por feiras, festas populares e outros locais de concentração da população, com os tradicionais tapinhas e abraços.

Os jornais descrevem as caminhadas e aparições organizadas pelos marqueteiros de campanha, reproduzem declarações e registram episódios pitorescos, como escorregões, gafes e o desconforto de uns e outros na desagradável tarefa de pisar a lama da periferia.

Em todos os relatos, as mesmas velhas promessas de todas as eleições.

A edição de hoje dos jornais não oferece esperança de melhora na cobertura das disputas eleitorais.

Embora, em alguns casos, tenham sido destacados repórteres experientes para acompanhar os candidatos, o resultado é o mesmo de sempre: apenas o factual, as declarações e, quando muito, o anedótico.

Se o observador considerar que a cobertura de uma campanha eleitoral deve ter o objetivo de ajudar o eleitor a fazer uma escolha, o que se vê na abertura da temporada é um mau serviço.

Noticiar que tal candidato escorregou na beira de um córrego, ou que fulana comeu um bolinho de bacalhau não ajuda a avaliar as qualificações de um e outro em suas pretensões de administrar uma cidade.

Revela, no máximo, que para ser canditado a prefeito é preciso ter sapatos adequados e estômago resistente.

Quase todas as capitais brasileiras cresceram desordenadamente nos últimos anos e acumulam problemas de moradia, de transporte, de saneamento básico e de violência.

Os candidatos a resolver ou amenizar esses problemas estão nas ruas.

E os jornais os tratam como celebridades que saem ao ar livre para testar a fidelidade dos fãs.

Nenhum repórter se deu o trabalho de confrontar as promessas dos candidatos com os desafios que se apresentam a quem vencer a eleição.

A campanha começou mas a imprensa ainda não se apresentou para fazer o seu trabalho.

Faltou sensibilidade

A imprensa brasileira chegou à Colômbia para cobrir a volta à cena pública da ex-senadora Ingrid Betancourt quando ela já viajava para Paris.

Mas os relatos que os jornais trouxeram no final de semana revelam uma posição controversa da diplomacia brasileira.

Alberto Dines:

– A novidade jornalística do fim de semana tem a ver com o resgate de Ingrid Betancourt e mais propriamente com o investimento feito pelos três jornalões nacionais, que rapidamente despacharam repórteres para Bogotá. Quando chegaram à Colômbia a ex-refém já estava a caminho de Paris para rever os filhos e receber as homenagens de sua segunda pátria. Mas os enviados especiais trouxeram uma contribuição importante para o leitor brasileiro, a Folha especialmente: a fria e distante posição do nosso governo não apenas durante o longo seqüestro e as tentativas de negociação, mas também na hora da libertação dos 15 seqüestrados decepcionou os colombianos. Hugo Chávez até há pouco inimigo do presidente Uribe, depois da façanha chamou-o de ‘hermano’ e Fidel Castro condenou o seqüestro como anti-revolucionário e desumano. A nossa diplomacia, famosa por sua competência e agora sob tripla direção perdeu uma rara oportunidade para projetar-se na América do Sul, simplesmente porque não queria desagradar as FARC. A prova disso está nos efusivos agradecimentos de Ingrid Betancourt à presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pelas demonstrações pessoais de carinho. Nenhuma palavra ao Brasil, nenhuma palavra ao governo e ao povo brasileiro. Se nossos grandes veículos tivessem correspondentes fixos nas principais capitais sul-americanas, nossa diplomacia seria mais cobrada e talvez se comportasse de forma mais esperta e mais humana.