Jornalistas de política e fontes
O surgimento do nome de um assessor próximo do presidente Lula no caso da máfia Vedoin deixa a descoberto um velho e conhecido problema da cobertura da política pela imprensa. É a relação entre jornalistas e fontes. Sabe-se muito mais do que se noticia. Jornalista, no exercício da profissão, não tem amigos. Apurou, sem pedido de reserva, tem o dever de publicar. Mesmo que isso o faça perder uma determinada fonte. E se há pedido de reserva em torno de um assunto de interesse público, o jornalista deve procurar saber mais por seus próprios meios, ou repassar o assunto, não necessariamente a informação confidencial, para um colega ou para um editor.
O papel da revista na crise
Alberto Dines anuncia que o papel da revista IstoÉ na crise das denúncias será o tema do programa de hoje do Observatório da Imprensa na televisão.
Dines:
– A campanha eleitoral esquentou de repente, na reta final, e a imprensa tem grande responsabilidade nesta virada. E pelas piores razões. Se uma revista de circulação nacional recusasse a publicação do ‘Dossiê Vedoin’ nada teria acontecido: os sanguessugas teriam apenas faturado mais dois milhões de reais e o caso não viria à tona. Mas apareceu a IstoÉ disposta a divulgar o dossiê ainda que calunioso e ainda que incompleto. A matéria publicada pela revista é uma armação tosca, espécie de trailer feito às pressas para chamar a atenção para a matéria-bomba que seria publicada na semana seguinte, caso o pagamento fosse completado. Como os chantagistas não receberam a bolada, não adiantaram mais informações. Para quem está interessado em conhecer os detalhes e desdobramentos deste episódio que tanto prejudica a imagem da nossa imprensa e da nossa política vale a pena assistir hoje à noite ao Observatório da Imprensa. Às 23:40 pela Rede Cultura e, antes, às 22.50, ao vivo, pela TV-Nacional e a rede da TV-E.
Informações sobre o PT
No noticiário sobre a nova produção da máfia Vedoin fica evidente um cochilo da imprensa: debruçou-se muito pouco sobre a composição e as atividades da Executiva Nacional do PT eleita após a queda de José Genoíno, em julho de 2005. Numa primeira etapa, assumiu Tarso Genro. A insistência de José Dirceu em integrar o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores levou à substituição de Tarso por Ricardo Berzoini. A atual direção petista ainda é hegemonizada pelo grupo que Dirceu liderou desde 1993. No site do PT está a lista dos 974 contribuintes do partido em cargos de confiança do Poder Executivo, atualizada em 3 de maio. Entre eles, o agora notório Freud Godoy. Quem sabe quantas pautas jornalísticas repousam nessa lista nunca antes estudada, ou insuficientemente estudada?
No noticiário da Folha percebe-se outro repositório carente de apuração jornalística: os integrantes das prefeituras petistas.
Leitor de José Dirceu
Continua a circular a versão de que José Dirceu falou em envolvimento do candidato Geraldo Alckmin no caso dos sanguessugas mesmo sem que tenha aparecido qualquer referência a ele na reportagem da IstoÉ. Dirceu diz que apenas reproduziu em seu blog comentário de um leitor. É fato. O nome do leitor está lá.
IstoÉ ama a Polícia Federal
É tanto escândalo que ia passando despercebido o tema de capa da revista IstoÉ na semana passada, mencionado hoje pelo Estadão: a esplendorosa atuação da Polícia Federal. Foi uma reportagem sem um pingo de visão crítica, como se a Polícia Federal fosse o maior reduto brasileiro da lisura e da competência.
Palavras de papa
Como no caso das charges dinarmarquesas do final de 2005, diante das palavras do papa Bento XVI sobre o islamismo é preciso dizer em primeiro lugar que a liberdade de expressão deve ser defendida com unhas, dentes e até armas, se for necessário. Mas daí a não avaliar a responsabilidade que tem um líder como o papa vai uma distância cósmica. Bento XVI deu sua contribuição para atiçar a fogueira de conflitos dos quais nada de bom poderá resultar.
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