O risco nuclear
Passado o principal impacto das notícias sobre a catástrofe provocada no Japão pelo terremoto seguido de tsunamis, a imprensa segue moderadamente os relatos sobre o agravamento da situação criada por vazamentos na usina nuclear de Fukushima.
Para a população em geral, a ausência do assunto nas primeiras páginas pode dar a entender que a crise está sob controle, mas é em circunstâncias como essa que a falta de atenção inibe medidas preventivas e pode resultar em desastres no futuro.
Uma coleta de reportagens nesta quarta-feira ensina que a detecção de plutônio no solo e a descoberta de alta radioatividade na água, na região da usina, obrigam o governo japonês a decretar estado de “alerta máximo”.
O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, declarou em reunião no Parlamento que a situação continua imprevisível e que o risco de uma catástrofe nuclear total, com a exposição do núcleo dos reatores, ainda não está descartado.
Também está publicado que as autoridades japonesas estudam aumentar a área de isolamento, mudando o alerta de aconselhamento para uma ordem de retirada da população.
Do Brasil e de outros países partem notícias de que vários governos determinaram o monitoramento de produtos alimentícios originários do Japão.
A presença de plutônio no solo preocupa cientistas, segundo a imprensa internacional, mas esse seria um risco local, que se associa à possibilidade de vazamento de água radioativa para o mar e de lançamento de material contaminado na atmosfera em grande quantidade.
Paralelamente às notícias crescentemente preocupantes, falta um debate essencial: o que fazer com o programa nuclear brasileiro.
Nos últimos dias, algumas reportagens informaram que as autoridades brasileiras estudam novas rotas de fuga em caso de acidente em Angra dos Reis e alguns cientistas manifestaram suas opiniões sobre os riscos da geração nuclear de energia.
Mas a imprensa brasileira segue longe de propor um debate sobre o sistema nacional de energia.
Se um desastre nuclear não é suficiente para mover os editores, o que seria?
Ligações perigosas
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Continuam muito tensas as relações entre o governo argentino e os dois principais jornais do país – La Nación e Clarín – em especial no que respeita ao Clarín, o de maior circulação. Desde o governo de Néstor Kirchner, falecido ano passado e marido da atual presidente Cristina, a administração federal e o maior jornal da Argentina não se bicam. Se na gestão de Néstor ele próprio se encarregava de confrontar o diário, no governo de Cristina a presidente agora se preserva do desgaste enquanto dá rédea solta aos seus prepostos, sobretudo os encastelados no aparelho sindical simpático ao oficialismo.
Foi o que ocorreu no último fim de semana, na noite de sábado para domingo, quando piqueteiros ligados ao sindicato dos caminhoneiros bloquearam as saídas da gráfica e impediram a circulação da edição dominical do Clarín. Foi um ato de força tolerado pelo efetivo policial ali presente e até justificado pelo ministro do Interior Florencio Randanzzo, que construiu uma intrincada teoria da conspiração para denunciar que se pretendia transformar um simples protesto sindical em um atentado à liberdade de imprensa.
Não é bem assim. O dirigente do sindicato que promoveu o bloqueio é filho do todo poderoso Hugo Moyano, que controla a CGT, a central sindical peronista, unha e carne com a família Kirchner. A edição de domingo do Clarín – que acabou circulando na segunda-feira – trazia matéria sobre a abertura de procedimento judicial para investigar o patrimônio de Moyano, suspeito de enriquecimento ilícito. Com o pano de fundo das eleições presidenciais, convocadas para outubro, resta uma constatação: está mala la cosa.