Observadores da mídia
O Colóquio Latino-Americano de Observação da Mídia será aberto hoje à noite. Amanhã se realizam os debates. O organizador do encontro, Carlos Castilho, responsável neste Observatório da Imprensa pelo blog Código Aberto, disse em entrevista publicada ontem pelo ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba, que os observatórios ganham importância cada vez maior devido à necessidade de contextualização das notícias, como condição “para que o leitor possa separar o joio do trigo na avalancha informativa gerada pela internet”.
Onze de Setembro
Alberto Dines diz que 11 de setembro de 2001 marca o início de uma era de terror na qual a mídia precisa compreender com toda clareza que não pode se submeter ao terrorismo.
Dines:
– Setembro 11 é para o mundo contemporâneo o que foi Maio, 8, 1945, para a geração anterior. A diferença é que esta última data foi festiva, marcou o fim da 2ª Guerra Mundial na Europa. Já a catástrofe que destruiu as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York marcou o início senão de uma guerra pelo menos de um novo tipo de confronto — intenso, contínuo e globalizado. A mídia nacional e a mídia internacional estão lembrando de forma extensiva e intensiva o quinto aniversário da maior ação terrorista de todos os tempos. Mas o que sobrará desta cobertura amanhã, depois, ou na próxima semana? Além dos intensos combates no Afeganistão, mudou a percepção do leitor com relação ao mundo em que agora vive? O telespectador tem noção do corte abrupto que aconteceu naquela terça-feira, 11 de Setembro de 2001? Além das dificuldades nos aeroportos e nas viagens aéreas está clara a idéia de que o mundo mudou e ainda pode mudar muito, mas muito mais? Ou será que só o agravamento da situação levará as pessoas a compreender as dimensões verdadeiras da Era do Terror? Uma coisa é certa, os terrorismos precisam da mídia para aterrorizar. Mas a mídia não pode submeter-se ao terrorismo. Basta ter isso em mente.
Censura chinesa
O noticiário das agências estrangeiras que trabalham na China será censurado pelo governo do país.
O governo chinês criou multas que chegam a 12 mil e 500 dólares e serão aplicadas, a partir de outubro, a toda mídia que noticiar, sem autorização prévia das autoridades, “emergências de caráter público”. Isso vai desde casos de gripe aviária ou Aids até passeatas. A desculpa é de tipo soviético: evitar pânico com notícias infundadas. O que se imagina, segundo o correspondente do Globo em Pequim, Gilberto Scofield, é que a população pagará o pato porque vai desconhecer situações de risco.
Financiamento de campanha
O Globo de ontem (10/9) dá na primeira página um pequeno título, de trinta letras, que vale todo um tratado de sociologia e política: “Acusados captam mais que relatores”. Na página interna, uma variação ocupa a manchete: “Investigados arrecadam mais que investigadores”. A reportagem mostra que o título generaliza situações diversas. Não existe apenas rejeição a investigadores, por parte de financiadores de campanhas eleitorais, e atração por acusados de cometer patranhas. Existem diferenças regionais e de tipo de campanha. Por exemplo, Pedro Henry, do PP de Mato Grosso, havia arrecadado até então 145 mil e 500 reais, e Orlando Fantazzini, do PSOL de São Paulo, apenas 31 mil e 500 reais. Não é preciso descer a minúcias sobre a diferença entre o Partido Progressista e o PSOL. Sandro Mabel, do PL de Goiás, arrecadou o dobro do que Benedito de Lira, do Partido Progressista de Alagoas. Nesse caso, a diferença remete talvez ao tamanho dos dois estados e aos respectivos custos de campanha. Além disso, os dados são parciais.
Mas quem conhece minimamente a maneira como, com as honrosas exceções de praxe, o setor privado se coloca historicamente diante da vida pública sabe que um parlamentar, digamos, maleável é mais atraente do que alguém que se destaca por formar no time dos que investigam e pedem punição.
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