Palavra de réu, não de rei
Tomar ao pé da letra depoimentos do acusado Vedoin filho sobre a máfia das ambulâncias é abrir caminho para manipulações. A mídia tem divulgado declarações do empresário da Planam como plena expressão da verdade. Equivale a acreditar em Marcola ou Beira-Mar.
Briga de TVs abre brechas
Alberto Dines diz que a briga entre as Redes Globo e Band abre uma brecha para o aperfeiçoamento da cobertura da campanha eleitoral.
Dines:
– A guerra entre a TV-Globo e a Band é uma guerra de anúncios, de mentirinha. Não vai melhorar a qualidade da cobertura jornalística na TV brasileira nem, muito menos, ajudar o eleitor a escolher melhor os seus candidatos – sobretudo no Legislativo. O primeiro anúncio (da Globo), estava correto. Prometia investimentos na cobertura televisiva e oferecia ao conhecimento do público as normas que os seus profissionais seguirão na cobertura eleitoral. É assim que se faz. A Band preferiu partir para a briga e lembrou antigas falhas da concorrente. Essa roupa-suja não interessa ao cidadão-telespectador, é puro marketing. O telespectador quer que as emissoras de TV impeçam a re-candidatura dos mensaleiros e dos sanguessugas, quer que os escândalos sejam acompanhados com afinco e o caixa-dois seja impedido de funcionar novamente. Mas é bom saber que as emissoras estão brigando. Significa que elas querem aperfeiçoar as suas coberturas, querem acabar com as abobrinhas e significa, sobretudo, que vão acabar com o pool que impedia qualquer diversidade.
Cuba caricatural
As opiniões ideologizadas publicadas na imprensa brasileira sobre a situação em Cuba são em muitos casos simplificações grotescas. Até aí, trata-se da incapacidade de achar opinionistas de melhor qualidade para ocupar páginas nobres dos jornais. Mais dramático é quando reportagens seguem o mesmo caminho, como aconteceu com a Veja desta semana. Ignora-se todo o passado de Cuba, as relações dos Estados Unidos com a Ilha, e produz-se uma narrativa que parte da ascensão de Fidel Castro ao poder. Não explica nada, só agita. Recomenda-se ler notícias e entrevistas nos jornais.
Judeus e palestinos
Também em relação ao Oriente Médio o noticiário sofre um grau considerável de manipulação. A maior delas talvez seja iniciar o relato a partir de determinado momento, a divisão estabelecida pela ONU em 1947, ou, antes, em 1917, a promessa britânica de um lar nacional para os judeus. Os relatos quase sempre omitem o drama multissecular dos judeus na Europa e a submissão dos palestinos aos impérios turco-otomano e britânico, para não recuar mais no tempo.
Mães sem filhos
Eliane Brum, autora da reportagem de capa desta semana da Época, sobre o físico Marcelo Gleiser, publicou na semana passada reportagem chamada “Meu filho foi assassinado”, com depoimentos, colhidos ao longo de meses, de mães de soldados do narcotráfico. É um relato em que a grande imprensa dá a palavras a personagens que quase nunca têm voz e rosto na mídia.
Eliane:
– O Brasil é um país tão desigual que às vezes as pessoas, os mundo só se encontram pela violência. E a função do jornalista, e eu acho que essa é uma função bem importante, é aproximar esses mundos. O que essa matéria das mães fez foi isso, foi aproximar mundos. Uma mãe, ou não precisa ser uma mãe, alguém de classe média pode ler o depoimento dessas mães e pode se identificar, pode ver que ela é muito mais parecida do que diferente. Pode alcançar o que ela está sentindo. E pode começar a vê-la de uma outra maneira. Então, ela deixa de ser aquele jargão, deixa de ser a “mãe do bandido” – como se isso explicasse alguma coisa, isso não explica nada – e passa a ver como ela vive. Quem ela é, o que ela sente, o que ela sofre, o que ela sonhou, como ela tentou dar um outro destino para esse filho, porque nenhuma mãe quer que o filho seja traficante, nenhuma mãe quer enterrar o filho e nenhuma mãe quer sobreviver ao seu filho.
Mauro:
– Eliane Brum lança no dia 22 o livro A Vida Que Ninguém Vê, com histórias publicadas na Zero Hora, de Porto Alegre, no final dos anos 90.
Ler também, de Eliane Brum:
Revisão penal
A situação das prisões paulistas é hoje pior do que antes dos ataques desencadeados pelo PCC em maio. A promessa de fazer um mutirão para atualizar a situação penal de cada preso, embora chegue tarde, é positiva.
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