Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Por maior que pareça, crise ainda é subestimada
>>A imprensa metida na confusão

Por maior que pareça, crise ainda é subestimada


O Estado de S. Paulo informa hoje que o então ministro Antonio Palocci tentou acionar a Abin, Agência Brasileira de Inteligência, para uma operação contra o caseiro Francenildo Costa. Teria havido recusa do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix. É uma notícia que mostra como foi infeliz a idéia de hospedar Palocci no Palácio do Planalto após o depoimento do caseiro.


Fica claro que o governo Lula subestima a gravidade da crise de corrupção. O que constitui uma dificuldade para a imprensa, sempre tão dependente de fontes governamentais.


Delúbio não fez escola


O padrão Delúbio de comportamento – que consiste em calar o bico –, vinha sendo apontado no PT e mesmo na imprensa como quase heróico. Parou de funcionar a partir do momento em que o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, recusou-se a assumir sozinho a culpa pelo ataque ao caseiro.


De volta ao começo


O que há de mais importante em torno da acareação entre o ex-petista Paulo de Tarso Venceslau e o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, marcada para esta terça-feira, 4 de abril, é que ela remete à gênese das irregularidades que o PT é acusado de patrocinar desde quando começou a canalizar recursos em prefeituras conquistadas a partir de 1988. Outros partidos tinham fontes mais estáveis e mais polpudas de financiamento irregular.


A imprensa metida na confusão


Alberto Dines chama a atenção para a colaboração dada pela revista Época na montagem da operação contra o caseiro Francenildo.


Dines:


– A quebra do sigilo do caseiro Francenildo e a queda do ministro Palocci continuam atraindo as atenções e as emoções, mesmo diante da prometida votação amanhã do relatório final da CPI dos Correios. O episódio Palocci versus Francenildo contém todos os elementos para convertê-lo numa telenovela de longa duração. Mas o papel da mídia neste caso não pode ser minimizado nem utilizado parcialmente. Ontem, o filósofo gaúcho Denis Lerrer Rosenfield louvou a mídia por ter impedido o governo federal de ter consumado um ato antidemocrático. Mas esqueceu de mencionar que um importante semanário, Época, ajudou o governo na tentativa de pichação e desqualificação do caseiro, o que levou outro semanário, Veja, iniciar uma inédita discussão pública sobre vazamentos e fontes secretas. O assunto vai render. Hoje será o tema central do Observatório da Imprensa – às dez e meia na rede da TVE e às onze da noite na rede Cultura.


Partidarização


É lamentável, mas surge hoje mais uma suspeita de participação de jornalistas na tramóia contra o caseiro. Segundo o Estadão, as primeiras suspeitas, levantadas pelo jardineiro de uma casa vizinha, foram levadas por jornalistas a parlamentares petistas. A ser verdade, será que não deveriam ter procurado seus editores?


TV Educativa mais pobre


A TV Educativa deixou de reprisar aos sábados à noite o Observatório da Imprensa. Mais um desfalque lamentável na programação da emissora.


Os limites da lei


Diz o presidente Lula que a oposição está passando dos limites. Nunca é demais lembrar que os limites, para o ocupante de cargo público, são dados pelo que determina a lei. Se o presidente julga que a lei está sendo transgredida, cabe-lhe tomar providências. Tem a obrigação de fazê-lo.


Diplomacia e Forças Armadas


A política do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e a política do presidente da Bolívia, Evo Morales, constituem desafios muito sérios para o Brasil. Não são as respostas esperadas pelos formuladores da política externa do governo Lula. Faz muita falta uma discussão séria, na mídia, dessa política. E ainda não houve a eleição no Peru.


As dificuldades nas relações com vizinhos encontram o Exército brasileiro preocupado em desculpar seu comandante por um gesto considerado abuso de autoridade e em colocar lenha na fogueira dos saudosistas do golpe de 64. Também faz falta uma discussão sobre as Forças Armadas.


Rampas antimendigo


A Folha de S. Paulo fez grande alarido em torno da construção da chamada rampa antimendigo na passagem subterrânea entre as avenidas Doutor Arnaldo e Rebouças e a Avenida Paulista.


Quinze anos antes, dispositivo semelhante foi construído na Rua Amaral Gurgel, debaixo do famigerado Minhocão. Ninguém se deu o trabalho de verificar o que tinha acontecido na chamada Boca do Lixo de São Paulo, onde as próprias rampas foram ocupadas.


Agora, moradores de rua voltaram a habitar os baixos do viaduto que leva à principal avenida da capital paulista. Mas nenhum jornal parece ter julgado que isso merece notícia.


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