Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Show de irrelevância
>>Fim do pacto de silêncio?

Parceria estremecida


O secretário de Segurança de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, entrou em conflito com a Folha de S. Paulo em entrevista coletiva dada ontem. A exigência de apuração correta de todos os casos de mortes na semana da ofensiva do PCC em São Paulo cria atritos entre autoridades e imprensa. Seria uma boa oportunidade para rever métodos de trabalho de ambas as partes e questionar os termos de uma antiga e mal-sucedida parceria.


Show de irrelevância


O deputado Antonio Carlos Biscaia, do PT do Rio de Janeiro, diz que os dois advogados ouvidos ontem na CPI da Câmara estão envolvidos com o PCC, mas que a prisão de um eles por desacato é irrelevante. Assim como outras iniciativas feitas de olho nos holofotes.


Biscaia:


– Não se pode transmitir para a sociedade a falsa impressão de que essa ou aquela medida vai resolver um problema dessa profundidade, dessa intensidade, dessa gravidade. O que acontece aqui no Congresso, por exemplo? O Congresso acha que vai resolver o problema com alterações legislativas. E, além de não resolver, traz para si a responsabilidade. Uma coisa que eu acho que é muito perigosa. E vai o Senado… Antônio Carlos Magalhães se reúne, escolhe onze projetos, aprovam em um dia, mandam para a Câmara. A Câmara está caçando diversos projetos. Alguns deputados vão apresentando outras propostas. Como se isso tivesse algum efeito. Pode ser que um deles tenha algum efeito positivo. Mas é um contexto todo. E acho que a mídia não pode embarcar nessa. Não é você atemorizar mais do que já está a sociedade com a violência e a criminalidade. Mas você também não pode transmitir a falsa sensação de que a pena hoje é quinze, aumentando para vinte vai de leve significar alternativa. É lógico que não. Esse papel da mídia tem que ser, a meu ver, um papel fundamental.


(Leia aqui entrevista de Biscaia.)


A foto das algemas


O Estadão acertou em não dar hoje na primeira página a foto do advogado algemado, como deu a Folha. Na própria Folha, o secretário de redação da sucursal de Brasília, Igor Gielow, chama de ‘cretinice’ o show no Congresso. Se é cretinice, por que tanto destaque? O Globo e o Jornal do Brasil fizeram pior, transformaram o circo em manchete. Mas o Globo fez uma coisa que os jornais estão devendo desde o início da temporada de CPIs: uma pequena ficha, ainda que precária, de cada deputado em destaque.


Fim do pacto de silêncio?


Alberto Dines diz que a mídia, quando discute seus próprios métodos e os dos concorrentes, realiza uma competição salutar para o telespectador.


Dines:


– É muito importante retomar aquela notícia do Jornal Nacional de quarta-feira sobre o inquérito para investigar as supostas entrevistas de lideranças do PCC a três emissoras na semana passada. A mídia no Brasil não fala da mídia e essa é uma das mais lamentáveis falhas no panorama jornalístico nacional mas se a moda pega passaremos a ter grandes novidades na pauta. Se a imprensa fiscaliza o Executivo, fiscaliza o Judiciário e fiscaliza o Legislativo por que razão a imprensa não fiscaliza a própria imprensa, o chamado Quarto Poder?


Se a Rede Globo passar a acompanhar o trabalho das concorrentes e se as concorrentes da Globo começarem a acompanhar o o seu trabalho não ficará pedra sobre pedra. Este pacto de silêncio vigente tanto na mídia impressa como na mídia eletrônica é um dos responsáveis por algumas deficiências do nosso jornalismo. Como diz o ditado: quando os jornais brigam quem sai ganhando é o leitor. Quando as televisões se enfrentam o beneficiado só pode ser o telespectador.


Gangorra sem campanha


Quando um candidato é apontado em pesquisas de intenção de voto como “favorito”, na mídia ele aparece como já ‘vitorioso’. A imprensa parece ter necessidade de trabalhar com percepções definitivas, preto no branco. Por isso o presidente Lula já foi apresentado como imbatível, depois como fora do páreo, agora novamente como imbatível. Sem que nem sequer a campanha tenha começado. A meses de distância do dia em que o eleitor vai digitar o seu voto.


Será que os candidatos, suas equipes de campanha, seus pesquiseiros e marqueteiros compartilham essas certezas? Não, é claro que não. Mas convivem com o teatro de especulações da imprensa.


Dose dupla


Desde ontem à noite aumentou, com três pesquisas estaduais, o campo das especulações. A parceria da TV Globo com o Datafolha transforma a divulgação de pesquisas de intenção de voto num potente espetáculo político-midiático. Mas também permite, nos jornais, uma reflexão séria.


No Irã


A Folha dá hoje (26/5) entrevista de Sérgio Dávila com o aiatolá Hussein Ali Montazeri, considerado o principal clérigo iraniano dissidente. Entrevistado e entrevistador fogem do maniqueísmo.


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