Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Sugestão de leitura
>>Fogo no alojamento

Sugestão de leitura


O governo martela e martelará até o fim dos tempos o argumento de que não houve “mensalão”. Ontem foi a vez do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, contrariar o relatório parcial da CPI dos Correios. No Estadão de hoje, o senador Delcídio Amaral, que é do PT, sugere ao presidente Lula que leia o texto preparado pelo relator, deputado Osmar Serraglio.


Ordem na arapongagem


Em entrevista à Folha de S. Paulo desta sexta-feira, 23 de dezembro, o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, anuncia que o governo vai propor legislação para disciplinar o uso do conteúdo de escutas telefônicas autorizadas. Bastos defende o princípio de que não pode haver censura de nenhum tipo, mas punição de abusos. É uma linha sensata. Cabe à imprensa, agora, acompanhar com a maior atenção a redação final da lei, na Casa Civil.


O público e o partidário


O Painel da Folha volta hoje à absolvição, na Assembléia Legislativa do Ceará, do deputado estadual José Nobre Guimarães, irmão de José Genoíno e um dos líderes do PT no estado. Registra a ativa presença no plenário, durante a votação, na segunda-feira, do presidente do Banco do Nordeste, Roberto Smith. Segundo a Folha, os dólares na cueca e os reais na mala de José Adalberto Vieira da Silva, preso no Aeroporto de Congonhas, poderiam ser fruto de comissão recebida graças a um contrato fechado pelo Banco do Nordeste. Faltou dizer que Roberto Smith integra com José Guimarães, há muitos anos, o comando do grupo hegemônico no PT no Ceará.


O caso da cueca é um retrato exemplar da maneira como o PT mistura atividade político-partidária com ações de governo. Um comportamento que criticava com veemência quando era oposição.


Fogo no alojamento


A mídia foi desbordada pela abundância de acontecimentos que requerem cobertura jornalística. Eis um exemplo. Na madrugada de 29 de novembro, um alojamento para 1.500 empregados da construtora Camargo Correia em Barão de Cocais, no Vale do Aço mineiro, foi incendiado. Operários que participam da construção de instalações da Vale do Rio Doce na mina de Brucutu, na cidade vizinha de São Gonçalo do Rio Abaixo, fizeram um protesto.


O dia 29 foi uma terça-feira. No sábado anterior tinha havido um tumulto controlado pela Polícia Militar. Dois dias depois, a polícia não chegou a tempo. Os operários protestavam contra salários que consideravam baixos e más condições de trabalho. Alguns queriam fazer uma greve, outros, não, e enquanto não se chegava a uma decisão alguém colocou fogo no alojamento, de 10 mil metros quadrados.


Só a mídia local abordou o assunto. O jornal Estado de Minas publicou reportagem com bastante informação no dia 30. A TV Globo Minas deu notícia do incêndio, com imagens feitas por um cinegrafista autônomo, e outras emissoras noticiaram, sem mencionar um protesto de operários como causa. O assunto morreu sem ter chegado à mídia nacional.


Uma obra gigantesca numa gigantesca mina a céu aberto, duas das maiores empresas do país, concentração de operários e conflito social. E não foi nos confins da Amazônia, mas a 100 quilômetros de Belo Horizonte. Uma grande reportagem que não foi feita.


Fundos sem fundo


O jornal Valor publica hoje ampla reportagem sobre, abre aspas, “operações fraudulentas que desviam milhões dos cofres dos fundos de pensão para bolsos alheios”, fecha aspas. Os prejuízos, diz o jornal, passam de 1 bilhão de reais. Que tamanho precisam ter as irregularidades para que a mídia as enxergue?


Empresas na penumbra


Está cada vez mais confuso o noticiário sobre a Varig. Cada jornal trabalha numa linha diferente. Mas há uma unanimidade de silêncio em torno da denúncia publicada pela Veja desta semana sobre ilegalidade que teria sido praticada pelo McDonald´s junto à Receita Federal. De duas, uma: ou a reportagem da Veja não tem fundamento, apesar de ter exibido cópia de uma nota fiscal adulterada, ou os outros veículos de imprensa continuam dormindo no ponto.


Critérios de edição


Duas maneiras de dar na primeira página fotografias da enchente de ontem em São Paulo. Na Folha, acima da dobra, ônibus quase submersos na Zona Leste da capital paulista. No Estadão, em foto cortada pela dobra, meninos brincam na água barrenta de uma espécie de lago formado perto da favela de Paraisópolis.


São escolhas editoriais, mas não se pode ignorar como os leitores as recebem, ou as percebem. Um exercício interessante é imaginar qual das duas fotos poderia ser utilizada contra a gestão do prefeito José Serra na campanha eleitoral de 2006.