Tapetão e princípios
A discussão sobre o voto secreto no plenário do Congresso é complexa e não pode de modo algum ser simplificada, como assinalou ontem na Folha Janio de Freitas. Mas é da mentalidade brasileira ficar mexendo nas regras, em vez de trabalhar com os princípios. Será que em algum outros país existe expressão equivalente a “tapetão”?
Mais investigação
Alberto Dines comenta o depoimento de ontem do ministro Márcio Thomaz Bastos e pede que a imprensa investigue melhor.
Dines:
– O depoimento do ministro Márcio Thomas Bastos ontem na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal veio confirmar o que Observatório da Imprensa vem dizendo há algum tempo: nossa imprensa não se antecipa, vai sempre a reboque, em geral vai a reboque de declarações. Há cerca de um mês, quando se descobriu a violação dos direitos do caseiro Francenildo, surgiram suspeitas sobre a eventual participação da Polícia Federal no esquema. Fazia sentido: pouco antes da quebra do seu sigilo, Francenildo entregou aos federais toda a sua documentação, inclusive o seu cartão de correntista da Caixa. Essas suspeitas, no entanto, não foram acolhidas pela imprensa. Pois bem: ontem, cerca de 30 dias depois, estas suspeitas de cumplicidade da Polícia Federal foram mencionadas abertamente por alguns deputados durante o depoimento do ministro Bastos, que, obviamente, preferiu minimizá-las. Para ele a entrega de todos os documentos é procedimento normal no caso de quem apela para o Programa de Proteção das Testemunhas. Não é bem assim. Mas a questão só vai ficar esclarecida se a imprensa resolver investigar o assunto. Investigar mesmo. Para isso, é indispensável algo mais do que uma pitada de coragem.
Campanha na Venezuela
O editor do jornal Tal Cual, de Caracas, Teodoro Petkoff, ex-guerrilheiro e ex-ministro, lançou anteontem sua candidatura a presidente da Venezuela.
Petkoff assinou ontem editorial sobre a ação do governo em face da criminalidade no país.
Desde a posse do presidente Hugo Chávez, em 1999, a taxa de homicídios quase triplicou, informa a revista The Economist que circula hoje. O assunto vai entrar na campanha eleitoral.
Enigmas brasileiros
O jornalista Tom Murhpy está no Brasil há quase 30 anos. Ele já trabalhou em jornais brasileiros. Hoje está na agência Dow Jones em São Paulo. Murphy relativiza a singularidade da crise brasileira:
Murphy:
– Se é difícil explicar o que se passa no Brasil, também é difícil explicar o que se passa na Itália e em outros países. Venezuela, por exemplo, é outro caso. Oriente Médio a gente nem tenta explicar. Eu praticamente já desisti de tentar entender o que passa pela cabeça, por exemplo, do presidente do Irã. O Brasil, dentro do contexto atual, talvez não seja tão difícil de entender.
Mauro:
– Tom Murphy fala do que talvez seja o maior paradoxo da conjuntura brasileira.
Murphy:
– A economia continua, e principalmente as empresas continuam gerando lucros. Essa última rodada de lucros mostrou em alguns setores lucros até recordes. E tanto o real quanto a Bolsa se mantêm em níveis elevados. Quem está investindo no país está ganhando muito. O dólar perdeu quase 15% em 2005 e mais 10% nos primeiros meses de 2006. A explicação talvez seja que no mundo inteiro o governo hoje não tem o peso que tinha 30 ou 40 anos atrás.
Mauro:
– O jornalista da Dow Jones conta que era estudante em Washington quando houve o escândalo de Watergate. Acompanhou o trabalho do Washington Post e elogia a conduta da imprensa brasileira.
Murhpy:
– Não só nesse episódio agora com Palocci, com mensalão, mas também na época do Collor a cobertura é muito completa. Os grandes jornais, aparentemente, não perdem nenhuma oportunidade de pesquisar, perguntar, não deixam nenhuma pergunta no ar.
Ouvintes, leitores e telespectadores
Este programa faz um ano na semana que vem. Queremos agradecer a participação dos seguintes ouvintes entre os que nos enviaram mensagens com suas observações e opiniões: Adilson dos Santos, Alisson Quaresma, Antonio Carlos Martino, Arruda Filho, Barcímio Amaral, Cesar Augusto Silva de Souza, Cesar Fonseca, Cleide Fayad, Fernando Silveira, Lilian Biasutti, Maria Isabel Tirelli, Sandra Maria de Souza, Saul Franklin, Vera Lúcia Faria e Vilma Costa.
O Observatório da Imprensa Online completa em 2006 dez anos de existência. O programa de televisão, conduzido por Alberto Dines, estreou há oito anos.
Do sermão à conversa
A The Economist traz amplo dossiê sobre as novas mídias, em primeiro lugar a chamada blogosfera. O criador do Hotmail, Sabeer Bathia, diz que daqui a cinco anos todo mundo terá seu blog, como todo mundo na internet hoje tem e-mail. Isso significa, para ele, que o jornalismo deixará de ser um sermão para se transformar numa conversa.
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Leitor, participe: escreva para noradio@ig.com.br.