Técnica stalinista
A técnica de desqualificar o ex-secretário de Organização do PT, Silvio Pereira, chamá-lo de desequilibrado, é cinematograficamente stalinista. Até agora, o presidente Lula foi mais hábil, ao sair pela tangente com a declaração de que Pereira é livre para “falar o que quiser”. Lula tem uma margem razoável de manobra, porque o depoimento de Pereira lhe é parcialmente favorável.
Mais reverente à opinião pública foi o senador Eduardo Suplicy ao propor que o presidente tome a iniciativa de dar todas as explicações cabíveis sobre as denúncias do ex-dirigente do partido que Lula criou e conduziu por um quarto de século.
Corrupção privada
O aspecto mais importante do desabafo de Silvio Pereira é a denúncia do modo como empresas agem no Brasil. É um assunto tão difícil que explica por que governo e oposição se igualam em matéria de inércia nesse terreno. Cabe repetir: a corrupção no setor privado é mais grave do que a corrupção no serviço público. A primeira alimenta a segunda.
Concorrentes pouco elegantes
Alberto Dines critica a maneira como os concorrentes do Globo repercutiram a entrevista de Silvio Pereira.
Dines:
– A entrevista-bomba do ex-secretário do PT ao Globo publicada ontem com grande destaque sugere algumas observações não-políticas, eminentemente jornalísticas. Em primeiro lugar: foi a repórter que procurou o entrevistado e não o contrário. Soraya Aggege fez um trabalho sério e muito difícil, considerando o surto que acometeu o entrevistado na segunda sessão do depoimento. O Globo fez um trabalho impecável mas o mesmo não se pode dizer dos outros dois jornais de referência nacional que reproduziram a sua matéria. O superlativo “Estadão-ão-ão” aproveitou-o de maneira farta mas não mencionou o nome da profissional que obteve a entrevista. Quase nada foi acrescentado à matéria original e este quase nada ainda saiu assinado por outro. A Folha também tropeçou no resumo da matéria do Globo – atribuiu-a a um repórter paulista – mas teve o cuidado de dar seqüência às declarações de Sílvio Pereira. É licito que concorrentes reproduzam matérias às quais tiveram acesso prévio mas é imperioso que estas informações sejam verificadas e sejam acrescentadas por seus próprios jornalistas. Caso contrário, voltaremos ao velho e suspeito pool de informações, que contraria frontalmente a idéia de uma imprensa diversificada, competitiva e pluralista.
Reforma agrária
Perto da natureza incendiária da questão agrária na Bolívia, levantada ontem no Globo e hoje na Folha, os problemas do gás e do petróleo são quase amenos.
Estadão economiza Ponte Aérea
Chico Buarque fez como Caetano Veloso em novembro do ano passado: convidou jornalistas dos principais veículos para entrevistas que foram publicadas quando seu novo disco, Carioca, chegava às lojas e aos depósitos das vendas online. Acertou na mosca: os segundos cadernos de sábado (6/5) dos três jornais mais importantes deram Chico na cabeça. E muito bom, por sinal. O que causa certa tristeza é ler, no pé da entrevista publicada no Estado de S. Paulo: “O repórter viajou a convite da gravadora”. É de lascar. O jornal economizou uma passagem de ida e volta de São Paulo para o Rio. Que grande proeza gerencial.
A mídia, Pimenta e os outros
O Fantástico fez ontem uma reportagem na qual mostrou que houve em 20 de agosto de 2000, dia em que o jornalista Pimenta Neves matou a jornalista Sandra Gomide, 24 homicídios na periferia de São Paulo. Dos acusados pelos crimes, só dois foram julgados e estavam presos ontem, quase seis anos depois. Discutiu-se a fraqueza técnica da Polícia, a lentidão da Justiça, a inadequação do Código de Processo Penal.
O que não se mostrou e não se discutiu foi espaço dado ao julgamento de Pimenta Neves na mídia, comparado com o espaço dado aos outros crimes, todos eles ocorridos na mesma região.
Ombudsmans
A atividade de crítica da mídia galga nesta segunda-feira, 8 de maio, um novo patamar. A Folha de S. Paulo publica hoje uma seqüência de anúncios para exaltar a renovação do contrato com seu ombudsman, Marcelo Beraba. É um reconhecimento da importância desse trabalho. Na edição de ontem, Beraba fez uma homenagem ao Observatório da Imprensa, cujo embrião foi uma coluna de Alberto Dines na Folha, e a outros institutos. Ao longo da semana, a Folha promove um encontro internacional de ombudsmans.
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