Terra da impunidade
Os brasileiros que se preparem para novos episódios de impunidade. O Supremo não tem condições técnicas de julgar os acusados de envolvimento no “mensalão”. A Polícia Federal não consegue achar o fio da meada do chamado Dossiê Vedoin.
O país sangra
As estatísticas sobre homicídios no Brasil, em comparação com outros países, são também um retrato de uma crise social tão precariamente exposta pela mídia.
Jornal no interior
O editor da Tribuna Impressa, de Araraquara, José Eduardo de Carvalho, que passou mais de duas décadas em jornais do Grupo Estado, fala das falhas da cobertura das cidades do interior paulista pelos grandes jornais da capital.
Eduardo:
– O esquema industrial dos jornais, o fechamento cada vez mais cedo, a mudança de mercado, o surgimento da internet, os novos esquemas tecnológicos, isso tudo foi afastando. Até porque era uma saída do jornal falar das coisas da própria cidade. Isso gerou um afastamento imenso do interior. Mas os estudiosos da mídia nunca perceberam o quanto isso era grave. Porque isso afastou os grandes jornais do público do interior. O público do interior sabe que ele só encontra as notícias dele no jornal dele, agora. Não tem outro jeito. Nem a concorrência da internet o jornal do interior tem. Porque a notícia está aqui, na porta da esquina, não está na capital. E os jornais, infelizmente, enxergaram uma outra coisa e foram reduzindo suas equipes. A maioria dos grandes jornais tinha gente em pontos importantes do estado, pelo menos 15, 20 cidades. Isso aí, eu diria que nos últimos 15 ou 20 anos foi suprimido, e esse noticiário do interior dos jornalões foi ficando pobre. O jornal da capital dá a notícia do interior com dois, três dias de atraso, como se a gente vivesse ainda na época da fita cassete, de levar de carro uma notícia para São Paulo. E não deveria ser assim. A notícia hoje é instantânea. Esse, pelo menos, é um ponto que favorece a imprensa regional em relação à imprensa da capital.
Mauro:
– José Eduardo de Carvalho explica a importância do jornal na cidade.
Eduardo:
– O papel da Tribuna Impressa em Araraquara, eu diria que é a verdadeira função social da imprensa, porque numa cidade com menos de 200 mil habitantes e com uma sociedade relativamente conservadora, uma sociedade agrícola – o motor econômico de Araraquara é a cana e a laranja – o papel do jornal… eu diria que ele funciona como uma espécie de fórum geral para todas as classes sociais aqui. Porque na hora em que o indivíduo da periferia precisa fazer uma denúncia sobre algum caso policial, ou uma violência familiar, ou um problema de asfaltamento, ele lembra do único veículo que consegue falar ao mesmo tempo com todo mundo, que é o jornal. O sujeito da classe média, que tem problema de vaga na escola pública, ou também alguma coisa de infra-estrutura viária, ele lembra do jornal. E o sujeito que é mais acostumado a ler jornal é assinante do jornal, então, obviamente, ele sabe do papel que o jornal pode exercer socialmente.
Mauro:
– O editor da Tribuna de Araraquara destaca o penhor da sobrevivência.
Eduardo:
– O grande trunfo desse jornal é não ter nenhum vínculo com o governo. Eu diria que se houvesse o menor vínculo com o governo, o jornal perderia imediatamente, instantaneamente, a credibilidade. E um jornal de apenas dez anos, como é o caso da Tribuna, que ainda não tem uma tradição, como a maioria dos jornais, que já têm no mínimo 40, 50 anos, um jornal desse tamanho perder a credibilidade seria o fim, seria a morte. Porque o jornal vive disso, o jornal depende disso.
Causas, não culpas
O relatório parcial da Aeronáutica sobre a tragédia do avião da Gol contrasta com a busca por alguns veículos de comunicação, logo após o acidente, de culpados para apontar à execração pública.
Ilusão diplomada
O ministro do Supremo Gilmar Mendes suspendeu provisoriamente a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Diploma obrigatório não melhora a qualidade dos meios de comunicação.
Imprensa louvada
Do senador Delcídio Amaral, do PT de Mato Grosso do Sul, na tribuna do Senado, ontem: “A imprensa desenvolveu um papel fundamental nesses últimos 18 meses. Dias difíceis enfrentamos, a a imprensa nada inventou: registrou o que acontecia”.
É verdade. Mas faltou um pouco mais de apuração própria. Esse pouco fez muita falta.