Truculentos e truculentas
A mídia está tão acostumada à truculência que levou 24 horas para reagir à absurda ameaça de surrar o presidente da República feita pelo líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio. Ontem, o deputado ACM Neto deixou derreter o verniz de educação e juntou-se a Virgílio. Foi acompanhado pela senadora Heloísa Helena, que não tem verniz. Será que a imprensa pode dar alguma contribuição para tentar melhorar o nível do parlamento na eleição do ano que vem?
Maluf come pastel
A Folha de S. Paulo e o Estado desta quarta-feira, 2 de novembro, mostram que Paulo Maluf tem em Campos do Jordão uma dieta de quem não está com a saúde abalada. Pode ser. Mas se Maluf foi libertado pela Justiça, o que ele come ou bebe é problema dele. Os jornalistas já deveriam saber: Maluf é como José Dirceu. Fiel à imagem que criou para si mesmo.
Diálogo de surdos
O presidente Lula não dá entrevistas coletivas e depois reclama de “falta de educação” de repórteres que gritam para tentar ouvi-lo. Lula prometeu entretanto ir ao Roda Viva, da TV Cultura, que comemora na semana que vem a milésima edição.
Um dos dois está doente
Foi bom o PT ter decidido processar a Veja por causa da reportagem sobre os dólares voadores de Cuba. Não faz bem à democracia o clima de leniência entre partes que dizem enormidades uma contra a outra e depois convivem como se nada tivesse acontecido.
O Alberto Dines chamou a atenção ontem à noite, no programa de televisão do Observatório da Imprensa, para uma velha máxima: quando a imprensa vira notícia, como no caso da reportagem sobre a suposta verba eleitoral de Cuba, um dos dois está com problema, ou a imprensa, ou a notícia.
Referendo não julgou governo
A diretora do Ibope Opinião, Márcia Cavallari, refuta interpretações que atribuem obscuras motivações políticas ao voto majoritário no Não.
Márcia:
– Não concordo que o resultado do referendo seja atribuído a uma desaprovação geral ao governo Lula. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Na questão do referendo a opinião pública foi se formando ao longo da campanha, também foi um tempo curto de maturação para essa opinião se formar sobre esse tema. Vejo isso de uma forma descolada da avaliação do governo. Se o não no referendo fosse um não ao governo como um todo, a avaliação do governo Lula, a confiança no presidente e as avaliações do governo em geral também teriam caído, e não foi o que aconteceu. As últimas pesquisas realizadas sobre esse aspecto, da avaliação do governo, mostram uma estabilidade tanto da confiança quanto da avaliação do governo Lula.
Diploma obrigatório
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, relata a comemoração da decisão judicial que restabeleceu a obrigatoriedade do diploma para jornalistas.
Egypto:
– Na quarta-feira passada, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região restaurou a obrigatoriedade do diploma para a obtenção do registro profissional de jornalista.
A pendenga jurídica começou em outubro de 2001, quando a juíza federal Carla Rister concedeu liminar a uma ação civil pública desobrigando qualquer cidadão de portar o diploma de jornalismo para conseguir seu registro. Numa canetada, ficou sem efeito a lei que regulamenta a profissão, e instituiu-se o vale-tudo no mercado de trabalho.
De lá para cá, sindicatos, estudantes e professores mobilizaram-se contra a liminar. E a decisão unânime dos juízes do TRF em favor de recurso impetrado pela Federação Nacional dos Jornalistas surpreendeu os mais otimistas.
A decisão reforça o entendimento de que é necessária formação específica para o exercício do jornalismo. Mas a questão ainda será julgada em definitivo pelo Supremo Tribunal Federal. Aguardemos, então.
Inteligência discutível
Policiais criticam desde domingo que a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro tenha revelado como foi montado o ataque ao traficante Bem-Te-Vi da Rocinha. Isso tornará mais arriscadas operações desse tipo. O Globo chegou a dar um infográfico descrevendo tudo e, no dia seguinte, elogiou o uso da inteligência em operações policiais. Faltou inteligência na comunicação.
Hoje, no jornal O Dia, do Rio de Janeiro, chega ao grotesco a fantasia de policiais que gostam de falar com a mídia. Uma namorada do traficante morto é apresentada como amante sucessiva de vários chefões. Um delegado se confunde e inclui na lista Orlando Jogador, que morreu há dez anos, quando a suposta cortesã do tráfico tinha 10 anos de idade. Essas são as fontes da reportagem de polícia carioca.