Um Brasil melhor nas revistas
As páginas amarelas de Veja, que já foram consideradas um marco do jornalismo nacional, por trazer entrevistas instigantes de personagens interessantes, andou perdendo importância nos últimos anos, na onda de ideologização que tomou conta de toda a publicação.
Mas a edição desta semana traz um conteúdo que vale o preço da revista: uma entrevista com a economista venezuelana Carlota Pérez, professora na Universidade Cambridge, na Inglaterra, na qual ela faz um retrato esclarecedor da atual crise econômica, anunciando uma nova era de prosperidade impulsionada pela tecnologia e a inovação.
O Brasil aparece com perspectivas muito otimistas.
Época, a principal concorrente da revista Veja, traz um pacote de presente para o leitor: uma edição especial de aniversário com um esforçado exercício de futurologia sobre como estaremos vivendo em 2020.
Com mais de cem páginas, a ampla reportagem especial sobre nossa próxima década se concentra na análise do processo de maturação de alguns fenômenos presentes, como as tendências demográficas e de educação e o avanço de tecnologias determinantes do nosso modo de vida.
Da mesma forma, o retrato pintado para o Brasil do ano 2020 é otimista.
Os grandes desafios, como a questão da educação, a previdência social, a violência e a qualidade de vida nas grandes cidades, também foram contemplados no trabalho jornalístico, mas em lugar do costumeiro ramerrão de lamentações, Época vai em busca de soluções possíveis, muitas delas já em desenvolvimento.
Escapando das armadilhas do viés político, a revista consegue compor um quadro que vale a pena ler e guardar.
E por que será que as duas revistas semanais de informação mais lidas do País resolvem apostar numa visão otimista do futuro?
Certamente porque, passado o primeiro terço do ano e desmentidas as previsões catastrofistas que a própria imprensa havia desenhado para os efeitos da crise internacional no Brasil, fica claro que podemos, sim, estar construindo um país melhor.
Necrológio preguiçoso
Alberto Dines:
– Os obituários de José Rodrigues Trindade, o Zé Rodrix, publicados na grande imprensa neste fim de semana, servem como eloqüente mostruário das deficiências do nosso jornalismo. A notícia da morte aos 61 anos deste incrível criador surpreendeu as redações na sexta-feira pela manhã, quando todos empenhavam-se na maratona de fechar as edições de sábado, domingo e parcialmente a de segunda-feira. Rapidamente produziram-se os necrológios possíveis, “naquela base”, com as indefectíveis enquetes entre os amigos mais notórios. Zé Rodrix, gozador em tempo integral e critico exigente, teria abominado a superficialidade com que foi apresentado no seu evento final. Verdadeiro homem dos sete instrumentos, cantor, letrista, compositor, multi-instrumentista, publicitário, na última década colocou toda sua alma no ofício de escrever. E justamente esta sua produção mais transcendental foi a mais sacrificada.
No “Caderno 2” do Estadão a Trilogia do Templo foi apresentada em duas linhas como “um calhamaço de milhares de páginas sobre a maçonaria”.
O obituário do Globo, o maior, no estilo clássico, menciona o “escritor de sucesso numa trilogia de romances sobre a maçonaria” e nem menciona o título.
A Folha sequer lembrou sua fase final como escritor e militante da causa maçom. Nenhum dos três jornalões deu-se ao trabalho de examinar os tais “calhamaços” mencionados pelo Estadão, editados pela Record, uma das mais importantes editoras brasileiras.
A criação do rock rural pode ser importante para a maioria dos nossos jornalistas, mas a trilogia de Zé Rodrix é um formidável esforço no campo das religiões comparadas, libelo contra a Inquisição e contra a intolerância religiosa da qual a maçonaria foi uma das vítimas. Zé Rodrix merecia obituários mais verazes. Estes, infelizmente, são os que vão ficar.
Zé Rodrix não merecia morrer, nem merecia tão canhestras homenagens.