Um futuro incerto
Sem repercussão nos jornais de circulação nacional, o site especializado em comunicação AdNews colocou no ar, segunda-feira, uma reportagem sobre o dilema vivido pela imprensa tradicional diante da necessidade de financiar suas operações online.
Sob o título “Nem só de publicidade vive o bom jornalismo”, o texto escancara o estado de incerteza que afeta as decisões das empresas jornalísticas.
Representantes dos principais diários do país afirmam que sabem da necessidade de cobrar pelo acesso ao conteúdo através da internet, mas reconhecem que dificilmente conseguirão manter seus leitores online se exigirem pagamento pela leitura de todos os seus conteúdos.
Os gestores da mídia brasileira estão de olho nos resultados do New York Times, que decidiu fechar o acesso gratuito, passando a cobrar uma assinatura mensal de US$ 20 para a leitura de seus conteúdos jornalísticos na interneet.
Embora alguns observadores entendam que o tradicional jornal americano vai perder poucos leitores com essa medida, ganhando em troca uma importante fonte de receita, o modelo pode não servir para o Brasil.
Por aqui não existe a tradição de valorizar o jornalismo de qualidade, avaliam alguns dos entrevistados, o que tornaria um risco limitar o acesso a quem paga.
O dilema não se refere ao momento presente, quando os jornais se beneficiam do crescimento econômico do país e da consolidação de uma nova classe média que precisa aprender a operar em outros padrões sociais.
O conteúdo produzido originalmente para o papel já tem acesso condicionado nos portais, na maioria dos jornais brasileiros, mas essa situação tende a se complicar com o crescente número de pessoas, principalmente os mais jovens, que preferem se informar através de aparenhos eletrônicos.
Desconfia-se de que eles não aceitariam pagar para ler reportagens.
De modo geral, um grande jornal brasileiro como o Estado de S.Paulo tem 65% de seu faturamento originado em publicidade, mas essa receita não é suficiente para pagar a produção jornalística.
Manter uma carteira de leitores fiéis ainda é fundamental.
O desafio da credibilidade
A equação parece bem resolvida no presente, também porque a maioria das empresas tradicionais fatura adicionalmente com os chamados títulos “populares”, lançados na esteira do surgimento da nova classe média, nos últimos anos.
Esses jornais têm um custo baixo de produção e captam muita publicidade miúda.
Portanto, o dilema não é como financiar o jornalismo em si.
O desafio é: como promover o encontro entre o jornalismo de qualidade e um modelo de negócio sustentável?
Esse dilema só se apresenta porque há na sociedade grandes questionamentos sobre a credibilidade da imprensa.
A insegurança dos gestores em apostar no acesso exclusivo para quem pode ou aceita pagar tem origem na falta de garantias de que o conteúdo jornalístico oferecido pelas empresas tradicionais atende as necessidades essenciais do leitor.
Diante de um histórico de dificuldade para se antecipar a novas tendências, marca de um jornalismo conservador, fica difícil apostar que a imprensa vai acumular rapidamente as qualidades que a tornaram, em tempos passados, uma instituição de valor para a sociedade.
Observatório na TV
Alberto Dines:
– No Observatório da Imprensa desta noite iniciamos uma série de programas gravados na Espanha em novembro passado sobre um dos jornais mais importantes do mundo: El País. Começamos com uma entrevista com o fundador do jornal e seu primeiro diretor, hoje num cargo chave do conglomerado Prisa: Juan Luis Cebrian, um dos jornalistas de maior prestígio na imprensa mundial.
A entrevista vai ao ar às 22 horas na TV-Brasil em rede nacional. Em S. Paulo, pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA. A íntegra estará disponível a partir de amanhã em nosso site. Não perca.