Um futuro preocupante
A imprensa dá conta de que o ex-governador paulista Paulo Maluf teve sua candidatura vetada pela Justiça Eleitoral, com base na Lei da Ficha Limpa.
Maluf avisa que continua em campanha, certo de que no final seguirá impune.
Da mesma forma, ficamos sabendo que o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, igualmente condenado à perda dos direitos políticos, segue em campanha para deputado federal.
Por todo o Brasil, pipocam notícias sobre candidatos com notórios problemas na Justiça que seguem habilitados a disputar cargos eletivos.
O que devem pensar disso os eleitores, e de maneira especial, os mais jovens?
O noticiário fragmentado que caracteriza o jornalismo contemporâneo provavelmente mais atrapalha do que ajuda no entendimento desse evidente conflito entre os interesses da sociedade e a capacidade das instituições de realizar aquilo que está expresso no espírito da lei.
Da mesma forma, a predominância de certo tecnicismo na interpretação das normas legais contamina a imagem do Judiciário.
Por outro lado, cabe aos magistrados aplicar estritamente o que está escrito nas leis.
A falta de uma abordagem ampla, por parte da imprensa, sobre as dificuldades da magistratura – em parte pelos limites do papel, mas uma clara omissão quando se trata das edições digitais – mantém grande número de cidadãos inseguros quanto à eficiência do aparato legal.
Quando se observa certos casos, como o do jornalista Antonio Pimenta Neves, assassino confesso da ex-namorada Sandra Gomide, que goza de liberdade por uma década completa, fica difícil alterar essa visão.
Constrói-se, assim, a tese de que a Justiça brasileira só funciona bem – bem demais, diga-se – para os mais ricos.
Da mesma forma se consolidou em grandes parcelas da população, por conta de simplificações divulgadas em programas ordinários de rádio e TV (chamados de jornalismo popular), certo viés contrário à defesa dos direitos humanos.
Sabe-se que as gerações que sucedem o momento de promoção social das famílias ascendentes tendem a se tornar mais conservadoras.
O fenômeno pode ser compreendido pela observação de que uma família pobre que ascende à classe média passa a ter um patrimônio a conservar, o que comumente torna seus integrantes mais defensivos.
O Brasil tem uma nova classe média, resultado dos milhões de cidadãos beneficiados por programas sociais e pelas melhores condições da economia.
Cidadãos nessa condição se tornam vulneráveis a pregações populistas, demagógicas e autoritárias.
A imprensa pode contribuir para que, no futuro próximo, esses brasileiros mantenham a confiança na democracia?
Confronto à vista
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Semana passada, dois importantes encontros profissionais agitaram o meio jornalístico. No Rio, o patronato reuniu-se em torno do 8º Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ); e, em Porto Alegre, os jornalistas realizaram o seu 34º Congresso Nacional, organizado pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj).
Como o esperado, o conclave patronal teve muito mais repercussão na mídia do que o encontro dos jornalistas. Quanto mais não fosse pela proposta, nascida na diretoria da ANJ, de constituição de um conselho de autorregulamentação da atividade jornalística para monitorar as relações dos jornais entre si, com os anunciantes, com os governos e com o público.
A proposta não obteve unanimidade entre os participantes. A presidente reeleita a ANJ, Judith Brito, garantiu que este deverá ser um conselho autônomo e representativo para examinar eventuais queixas contra jornais filiados à entidade e propor soluções de encaminhamento. E prometeu divulgar, até o fim deste ano, uma minuta sobre a composição e o funcionamento do conselho.
O movimento da ANJ deu-se na mesma semana em que a entidade viu rejeitada, numa decisão a que ainda cabe recurso, sua representação à Procuradoria Geral da República para que se aplicassem as restrições constitucionais ao capital estrangeiro em veículos jornalísticos que usam a plataforma internet. Na mesma ação, pedia providências contra a empresa Ongoing, controladora dos jornais Brasil Econômico e O Dia, que estaria em desacordo com a Constituição por ser de propriedade de estrangeiros.
De sua parte, os jornalistas congregados em torno da Fenaj divulgaram sua Carta de Porto Alegre, em que defendem a obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional, a criação do Conselho Nacional de Comunicação, do Conselho Federal de Jornalistas e de uma “nova e democrática” Lei de Imprensa.
É preciso ter claro que todas essas propostas têm uma origem comum e única: o novo protagonismo que os públicos – vale dizer, a sociedade – conquistaram no processo da comunicação. E o jogo está apenas começando.