Luciano:
O Congresso Nacional é uma instituição muito previsível. Basta ficar de olho, e antigos vícios sempre voltam.
Os jornais informam hoje que os parlamentares estão preparando mais um ‘trem da alegria’, que pode beneficiar até 300 mil servidores contratados sem concurso.
Enquanto isso, o senador Renan Calheiros usa um blog para se defender. Ele reclama do ‘ataque impiedoso da mídia’ e diz que tudo não passa de intrigas alagoanas.
E o episódio dos boxeadores cubanos continua nebuloso. Esse é o tema de Alberto Dines.
História inconsistente
Dines:
A historia da repatriação dos boxeadores cubanos está mal contada. Ao governo não interessava contá-la antes do desfecho porque, evidentemente, isto mudaria o próprio desfecho. A imprensa então encarregou-se de contá-la mas sem a colaboração das autoridades e, sobretudo, com a ausência dos protagonistas ficou mais difícil, mas não impossível. Tanto assim que os diferentes jornais do Rio e S.Paulo estão conseguindo reunir informações muito consistentes sobre o misterioso episódio. Uma coisa está ficando certa: desta vez a Polícia Federal está mais parecida com uma repartição do governo do que com um órgão de defesa dos interesses da sociedade. Este é o assunto da edição do Observatório da Imprensa desta noite. Às onze e quarenta na Rede Cultura e mais cedo, ao vivo, às dez e quarenta na TV-E.
Luciano:
Trem da alegria
Os jornais já grudaram a etiqueta e é assim que passarão a ser conhecidos os dois projetos de emenda constitucional que concedem estabilidade a milhares de servidores contratados sem concurso.
O Globo diz que serão beneficiados até 310 mil funcionários. O Estado de S.Paulo afirma que serão 260 mil.
Seja qual for o total de beneficiados, lembra o Globo, a votação vai na contramão dos interesses do governo federal, de manter sob controle os gastos públicos.
A Folha de S.Paulo não deu grande destaque à notícia, mas observa que um dos dois projetos, de autoria do deputado pernambucano Gonzaga Patriota, do PSB, contém uma armadilha perigosa. Ele permite que funcionários contratados por concurso numa prefeitura do interior sejam requisitado por um deputado ou senador e depois efetivados como funcionários públicos federais.
Hoje, lembra a Folha, há casos de deputados que levam para seus gabinetes parentes e amigos que prestaram concurso em seus municípios mas querem na verdade os cobiçados cargos da administração federal.
O presidente da Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia, concorda que a decisão é polêmica, mas observa que os líderes de todos os partidos foram favoráveis à votação.
Não será mera coincidência que a proposta tenha vindo à tona na mesma semana em que será votada a prorrogação da CPMF.
De volta ao ringue
Mesmo com algum atraso, já que os principais protagonistas da história já foram enviados de volta a Cuba, os jornais vão à luta e tentam recuperar a história dos boxeadores que tentaram escapar para a Alemanha.
Novos esforços dos diários revelam que os atletas desistiram apenas na última hora, quando foram abordados por policiais.
Segundo os jornais, eles não apenas assinaram os contratos como chegaram a dar entrada em papéis e vistos no consulado alemão no Rio.
Ex-deputado na cadeia
A notícia de que o ex-deputado Lino Rossi, acusado de envolvimento na chamada quadrilha dos sanguessugas, foi preso ontem, dá ao leitor a sensação de que nem tudo é impunidade.
Rossi, que é filiado ao PP de Mato Grosso, é apontado como o encarregado de cooptar parlamentares para a máfia que desviava recursos do Orçamento da União para compras superfaturadas de ambulâncias.
Ele foi preso por obstruir a ação da Justiça. Para retardar o julgamento, o ex-deputado se recusava a receber a intimação. Quando foi detido, estava tentando viajar para São Paulo.
Ao todo, foram denunciadas no caso dos sanguessugas cerca de 80 pessoas, entre as quais 40 deputados e senadores e ex-parlamentares.
Maluf condenado
A Folha de S.Paulo informa, em destaque, que o deputado Paulo Maluf vai ser obrigado a ressarcir os cofres públicos por prejuízos causados pelo desastrado consórcio Paulipetro.
Quando era governador de São Paulo, Maluf comandou uma frustrada prospecção de petróleo na bacia do Rio Paraná.
O valor da aventura é calculado em 250 mil dólares.
O Supremo Tribunal Federal confirmou a condenação, rejeitando um pedido de anulação de sentença anterior, do Superior Tribunal de Justiça.
Maluf é um dos protagonistas da reportagem publicada nesta semana pela revista Veja, na qual é apresentado um retrato de como os sucessivos recursos dificultam a execução de sentenças e a efetivação da Justiça no Brasil.
Os advogados de Paulo Maluf anunciam que deverão mover uma ação rescisória para anular a sentença.
Renan culpa a imprensa
O senador Renan Calheiros recorreu a um blog na internet para se defender das acusaçõs que podem lhe custar o cargo de presidente do Senado e o mandato.
Ele volta a atacar a imprensa, que acusa de haver comprado como certa uma intriga política provinciana.
Renan disse que lucrou 1 milhão e novecentos mil reais com a venda de gado e com isso pode pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha fora do casamento.
O senador não se referiu diretamente à compra de duas emissoras de rádio e um jornal em Alagoas, mas afirmou que não tem patrimônios clandestinos.
Tudo não passa, segundo ele, de intrigas alimentadas pelo usineiro e ex-governador João Lyra e pela ex-senadora Heloísa Helena, do Psol.
Enquanto isso, o Senado decide incluir no Conselho de Ética o terceiro pedido de processo contra Renan. Além do caso da pensão que teria sido paga por uma empreiteira e de suposto favorecimento a uma indústria de cerveja, ele vai ter que explicar a compra das emissoras de rádio e do jornal em Alagoas.
O lado bom
O lado bom do escândalo que envolve o presidente do Senado é publicado hoje pelo Estado de S.Paulo: por conta da suspeita de que Renan Calheiros usou ‘testas-de-ferro’ para comprar emissoras de rádio, o Ministério das Comunicações decidiu recadastrar todas as empresas do setor.
O Diário Oficial da União traz uma portaria que dá 60 dias para que elas informem dados da composição acionária e de seus diretores.
São 5 mil emissoras, entre geradoras de TV e rádio.
O Ministério das Comunicações quer formar um cadastro atualizado sobre a radiodifusão no Brasil.
Com esses dados, será possível saber quem é dono e quem é ‘laranja’ nesse negócio.