Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Hora de apaziguar
>>Os outros excluídos

Hora de apaziguar

A interrupção do julgamento das ações que contestam a criação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, no Supremo Tribunal Federal, cria a oportunidade para a imprensa oferecer mais informações sobre a disputa em Roraima.

Algumas das informações mais relevantes surgem do voto do relator, o ministro Carlos Ayres Britto.

Outras aparecem nas reportagens feitas por jornalistas enviados ao local.

Alguns detalhes do pronunciamento do relator, reproduzidos hoje pelos jornais: os plantadores de arroz ocupam terras públicas, não são proprietários; os arrozais mais antigos foram plantados em 1992, o que não dá aos agricultores direito adquirido; a presença de índios na fronteira nunca foi ameaça à segurança nacional.

O voto do relator, favorável à demarcação de terras contínuas para abrigar reservas indígenas, acrescenta ainda que a discussão sobre riscos à soberania é uma cortina de fumaça, para esconder o fato de que empresas estrangeiras e investidores privados estão comprando grandes áreas na região e promovendo a internacionalização da Amazônia.

Outro aspecto ressaltado na primeira fase do julgamento, e que vinha sendo omitido pela imprensa, é que os arrozeiros são os principais responsáveis pelos danos ambientais ocorridos nos últimos anos no Estado de Roraima.

Mas as melhores contribuições para o entendimento do caso vêm, como sempre, dos repórteres enviados ao local.

Através de seus relatos fica-se sabendo, por exemplo, que alguns fatores externos provocam a divisão na comunidade indígena entre os que defendem a reserva e os que preferem a permanência dos produtores de arroz.

Entre esses fatores está a presença de religiosos católicos e evangélicos nas aldeias.

Os índios sob influência da igreja católica defendem a demarcação das terras em reservas contínuas.

Os que se converteram às seitas evangélicas são a favor da permanência dos arrozeiros brancos.

Segundo relata a Folha de S.Paulo, os indígenas assistidos por missionários católicos preservam sua tradições culturais, enquanto os que freqüentam cultos evangélicos são obrigados a abandonar suas crenças.

Eis aí uma diferença relevante quando se discute a questão das populações tradicionais.

Os outros excluídos

No outro lado do grande mosaico das perversidades sociais no Brasil, o Globo traça um retrato das milícias que dominam favelas cariocas, substituindo a tirania dos traficantes pelo despotismo dos agentes públicos transformados em organizações mafiosas.

Numa ampla reportagem intitulada ‘A milícia mostra a sua cara’, o Globo dá seqüência à série ‘Favela S/A’, na qual tem revelado quem lucra com a exploração das comunidades pobres do Rio.

Agentes policiais e políticos já foram apontados como os principais beneficiários da comercialização de drogas e de serviços clandestinos de transporte, distribuição de energia e de ligações piratas de TV a cabo.

Na edição de hoje, o Globo revela que os chamados milicianos também se dedicam à exploração da prostituição infantil, negociando crianças de até 9 anos de idade para programas sexuais.

A reportagem foi baseada em observações dos jornalistas e nos dados apurados pelo Ministério Público do Rio e revela que muitos dos criminosos ainda estão lotados em órgãos públicos do Estado, especialmente a Secretaria de Segurança, enquanto outros são ex-policiais.

Esse agentes formaram grupos paramilitares para combater o narcotráfico há cerca de cinco anos, e em muitas comunidades expulsaram os traficantes e ocuparam seus negócios.

Aproveitaram as guerras de gangues para se apresentar aos moradores como salvadores da pátria e depois se estabeleceram como donos das comunidades.

Quase todos são egressos de grupos de extermínio que atuavam nas disputas entre os traficantes.

Em alguns casos, segundo o jornal, esses criminosos usam equipamentos do Estado, como armas, sistemas de comunicação e até veículos blindados para manter seus domínios.

Entre eles há policiais, bombeiros e agentes penitenciários.

As milícias que eles organizaram usam uniformes, seus líderes e integrantes são conhecidos pelo serviço de inteligência da Secretaria de Segurança.

A série de reportagens do Globo poderia servir como ponto de partida para alguma ação do Estado.

Se o Estado estivesse disposto a alguma ação.