Imprensa da região Sudeste
Luciano Martins:
Como não podia deixar de ser, os jornais de hoje destacam o início do processo, no Supremo Tribunal Federal, contra os envolvidos no chamado ‘mensalão’.
Mas há muito mais, inclusive assuntos que deveriam estar em todos os jorrnais, mas aparecem apenas na imprensa regional.
Alberto Dines constata que a imprensa nacional é cada vez mais uma imprensa da região Sudeste.
Alberto Dines:
– Quanta gente já morreu em Alagoas nos últimos três meses, desde que começou a greve no sistema de saúde? Esta é uma estatística impossível porque nossa grande imprensa já não tem correspondentes e muito menos sucursais nos estados. Mas a greve na Paraíba iniciada na última quinta-feira já provocou uma morte, a da cidadã Elizângela Ferraz cujo coração não podia esperar a volta dos cardiologistas ao trabalho. O caso teve imediata repercussão nacional simplesmente porque foi parar no Jornal Nacional de ontem. Vai alimentar a pressão para que as greves nos serviços públicos ofereçam um atendimento mínimo à população. Mas serviu como atestado de óbito daquilo que um dia já se chamou de imprensa nacional. Os três jornalões não têm espaço para o noticiário regional e as redes de TV são ficções, cada afiliada cuida do seu pedaço. Enquanto a futura TV-Brasil, a rede pública de televisão, não entra no ar, o Jornal Nacional continua sendo a única janela para saber o que se passa no país. Parabéns, mas alguma coisa está errada.
De olho no tribunal
Os principais principais jornais do País, e toda a imprensa de rádio e televisão, estão com olhos e ouvidos voltados para o Supremo Tribunal Federal.
Amanhã, o STF decide se os dados reunidos pelo Ministério Público Federal são suficientes para a abertura de ação penal contra os acusados de criar e alimentar um esquema de repasse de dinheiro público para a formação de uma base parlamentar de apoio ao governo.
O esquema, que foi batizado de mensalão, porque supostamente deveria se repetir como uma mesada, foi a origem do escândalo que abalou o primeiro mandado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Novas frentes
Hoje, temos manchete única em todos os jornais: o Ministério Público abriu novas frentes, propondo ações por improbidade administrativa que vão tramitar em varas cíveis da Justiça Federal em Brasília.
São cinco ações que envolvem os ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, os ex-dirigentes do Partido dos Trabalhadores Delúbio Soares, José Genoino e Silvinho Pereira, o empresário Marcos Valério e outras 32 pessoas, entre elas parlamentares do PT, PMDB, PP, PL e PTB.
Os procuradores da República querem reaver pelo menos 55 milhões de reais que teriam sido desviados pelo grupo.
A acusação diz que, sob a coordenação do ex-ministro José Dirceu, o grupo organizou um sistema financeiro de caixa 2 para a compra de apoio na votação de projetos de interesse do Executivo no Congresso Nacional.
Se condenados, eles terão que devolver o dinheiro e podem perder os direitos políticos por dez anos.
Hoje é dia de Renan
Os jornais lembram que hoje é dia crucial para o presidente do Senado, Renan Calheiros.
A Polícia Federal deve entregar ao Conselho de Ética do Senado o resultado da perícia nos documenos que Renan entregou para se defender da acusação de ter tido despesas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior.
Antes mesmo de conhecer a documentação, um dos três relatores do caso, no Conselho de Ética, o senador sergipano Almeida Lima, já declarou, segundo o Globo, que não vê motivo para condenar Renan.
Almeida Lima é peemedebista como o acusado.
Collor se abstém
Em meio às tentativas de antecipar o laudo da Polícia Federal que pode definir o futuro político de Renan Calheiros, os jornais destacam a decisão do senador Fernando Collor de Mello, que se licenciou por quatro meses.
Oficialmente. Collor estaria se afastando das atividades legislativas para atender a um grande número de convites que tem recebido para fazer palestras.
Mas, citando pessoas próximas ao ex-presidente, os jornais informam que, na verdade, ele quer distância do Congresso no período em que Renan Calheiros estiver sendo julgado.
Collor, que foi cassado por esse mesmo Congresso em 1992, não quer participar do julgamento de Renan.
Renan Calheiros foi o líder da chamada tropa de choque de Collor, que tentou inutilmente se opor ao processo de impreachment.
Obras de Abreu
A diretora da Agência Nacional de Aviação Civil Denise Abreu volta a frequentar o noticiário.
Desta vez, ela é acusada de ter enganado a juiza Cecília Marcondes, do Tribunal Regional Federal em São Paulo.
Segundo a queixa da juiza, Denise Abreu enviou a ela um documento com falsas medidas de segurança para pousos de aviões em pista molhada no aeroporto de Congonhas.
O documento foi usado, no início deste ano, para convencer a Justiça a reduzir as restrições a operações de alguns tipos de aeronaves em Congonhas.
Só que, na ocasião, a ‘norma’ citada por Denise Abreu como peça de argumento, não estava em vigor.
De falha em falha
Na semana passada, em depoimento na chamada CPI do apagão aéreo, Denise Abreu disse que o documento não tem valor legal, por se tratar de um ‘estudo interno’ publicado pela Anac em seu site na internet, por ‘falha técnica’.
Agora ela terá de explicar como a tal ‘falha’ foi parar num recurso juidicial.
O Ministério Público vai pedir que a Anac seja investigada por improbidade administrativa.
De falha técnica em falha técnica, há quem desconfie que, na verdade, a Agência Nacional de Aviação Civil tinha se transformado em braço institucional das empresas aéreas.
Alguém ficou com a CPMF
Longe do ambiente político, onde hoje se discute o destino da CPMF, cuja prorrogação está em votação no Congresso, uma das reportagens mais instigantes do dia vem da especializada Gazeta Mercantil.
A Gazeta revela, em manchete, que 366 instituições financeiras, entre bancos, seguradoras, cooperativas de crédito e distribuidoras de títulos e ações deixaram de repassar ao governo uma parcela da CPMF.
Informa o jornal de economia e negócios que, de janeiro a julho deste ano, a Receita Federal aplicou multas no valor de 9 bilhões e 400 milhões de reais a essas instituições.
A retenção de recursos recolhidos dos clientes – que deveriam ser repassados ao Tesouro a cada dez dias, nunca havia acontecido em volume tão elevado.
Um exercício interessante de observação da imprensa será acompanhar como os jornais não especializados vão dar seqüência à revelação da Gazeta Mercantil.