Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Inovação e conservadorismo
>>O pesadelo nuclear

Inovação e conservadorismo


O Estado de S.Paulo noticia nesta segunda-feira, como reportagem principal do caderno Economia & Negócio, que uma nova Política de Desenvolvimento Produtivo, a ser divulgada nas próximas semanas pelo governo, vai voltar a priorizar a inovação como motor do desenvolvimento nacional.


O plano original, lançado em 2008, foi atropelado pela crise financeira.


Trata-se de uma série de medidas para estimular a iniciativa privada a investir mais em pesquisa e desenvolvimento, elemento fundamental para que o atual surto de crescimento econômico venha a se consolidar.


Os estudos a respeito de inovação mostram que a indústria brasileira investe pouco no desenvolvimento tecnológico, em torno de 0,5% do PIB por ano.


O volume de investimentos é considerado baixo, mas o mais grave é a falta de continuidade, o que provoca a interrupção de trabalhos importantes, que acabam perdidos por falta de recursos.


Os grandes avanços ocorrem na economia rural, principalmente graças ao desempenho da Embrapa e aos grandes valores aplicados na produção de combustíveis de origem vegetal.


Outro setor que investiu bastante em inovação foi o de petróleo e gás, e foi graças a esse avanço que o Brasil criou condições para explorar as reservas do pré-sal.


No entanto, ainda há muito desconhecimento na imprensa brasileira sobre os desenvolvimentos no setor e o noticiário é quase sempre factual.


Uma característica da abordagem que o jornalismo nacional faz do tema inovação pode ser notada na localização das reportagens sobre o assunto: as reportagens ficam quase sempre restritas à área de ciência e tecnologia, sem vínculos com a economia e as políticas públicas.


As novas circunstâncias da economia mundial, afetada pela crise financeira e condicionada pelas urgências ambientais e sociais, exigem uma mudança em determinados paradigmas que orientam as escolhas dos jornalistas.


Um deles se refere ao fato de que inovação só pode ser considerada uma contribuição positiva quando favorece a busca da sustentabilidade.


Mas talvez a inovação mais sensível esteja esperando para acontecer nas próprias redações: a da mudança de mentalidade, que permita à imprensa enxergar a complexidade do mundo contemporâneo com todas as nuances que o caracterizam.


O pesadelo nuclear


Alberto Dines:


– A mídia brasileira parece não estar muito preocupada com a gravidade dos vazamentos radioativos da usina de Fukushima. Na capa dos três jornalões de  domingo, não havia uma única menção a uma situação que a cada dia se torna mais preocupante. Como resultado desta desatenção, nos portais de notícias da internet na noite de ontem, não se deu a devida atenção à informação de que a radiação da água em dois reatores do complexo nuclear havia alcançado níveis letais.


Tudo indica que os redatores de plantão – geralmente recrutados entre os mais jovens – não conseguem entender a terminologia nem avaliar as informações que manuseiam. Por outro lado, devem ter recebido instruções para valorizar os triunfos militares dos rebeldes líbios. O público gosta mais de guerras do que de catástrofes, avaliam os porteiros das redações. E catástrofes nucleares só acontecem nas superproduções de Hollywood. Infelizmente, as informações que chegam do Japão, mesmo filtradas pelas autoridades locais para evitar o pânico, sugerem um cenário extremamente perigoso.


O terremoto de ontem à noite – 6 graus na escala Richter –  assim como o mega sismo do dia 11 de março e o catastrófico tsunami  que provocou, são circunscritos ao Japão. Ao contrário da contaminação radioativa do mar ou do ar, que pode chegar aos quatro cantos do globo. Leva tempo, mas chega. Talvez por isso, para não apavorar o mundo inteiro, a mídia internacional e a brasileira em especial,  esteja procurando disfarçar com incompreensíveis explicações técnicas um quadro aterrorizante. Raros são os países do mundo que hoje não dispõem de centrais nucleares, em outras palavras – o que aconteceu no Japão pode repetir-se em qualquer país onde ocorra um “evento máximo” – terremoto, dilúvio ou deslizamento de encostas. Convém ficar de olho no noticiário sobre o pesadelo nuclear japonês. Em algum momento este pesadelo pode nos tirar o sono.