Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Limites para os bancos
>>A campanha na imprensa

Limites para os bancos


A decisão do Banco Central do Brasil de estabelecer limites para os ganhos de executivos de bancos brasileiros é manchete na Folha de S.Paulo e no Globo e destaque na primeira página do Estado de S.Paulo.


A medida, anunciada como parte das recomendações feitas pela cúpula dos vinte países economicamente mais influentes após a eclosão da crise financeira global do ano passado, apanha a imprensa nacional em aparente contradição.


Ferrenhamente apegados aos valores ditos liberais, segundo os quais o Estado deve andar sempre distante dos negócios privados, os chamados jornais de circulação nacional absorvem a medida, considerada importante para evitar que os executivos de bancos assumam riscos exagerados, de olho nos bônus milionários por desempenho.


Como se sabe, um dos elementos deflagradores da crise de 2008 foi o fato de dirigentes de bancos terem adotado operações para inflar artificialmente os lucros das instituições financeiras e dividir os ganhos entre si.


Agiram como uma quadrilha organizada.


Essa prática se generalizou e levou à sucessão de fraudes que foram descobertas no final de 2008.


Não há, nos jornais brasileiros, nenhuma contestação à decisão do Banco Central, que deverá ficar exposta em audiência pública por 90 dias e depois será regulamentada pelo governo.


A rigor, trata-se de medida que já foi adotada pelo Federal Reserve, o banco central americano, em outubro do ano passado; portanto, trata-se de intervenção estatal bem digerida pela imprensa.


O que talvez faça falta ao leitor seja um esclarecimento sobre os valores envolvidos nos bônus que os bancos pagam a seus executivos.


Esses altos funcionários definem a estratégia de cada instituição financeira, estabelecendo metas de desempenho que vão sendo empurradas de cima para baixo, até chegar à conta do cliente.


Os gerentes e demais funcionários subalternos são obrigados a cumprir essas metas, sob pena de perder promoções e até o emprego.


Na ponta do sistema, o cliente muitas vezes é ludibriado ou convencido a adquirir produtos e serviços, como seguros e pacotes de investimento, que não são adequados ao seu perfil ou favoráveis aos seus interesses.


Mas isso é história que não sai no jornal.


A campanha na imprensa


Os jornais tratam de maneiras diferentes as pesquisas eleitorais.


A mais recente delas, realizada pelo instituto CNT-Sensus, tem chamada na primeira página do Estadão, com um texto interno de mais de meia página, um pequeno destaque na Folha de S.Paulo, com texto curto, e está escondida na seção de Política do Globo.


Para se orientar ao longo das disputas eleitorais, seja em escala nacional ou nas eleições estaduais, o leitor precisa levar em conta alguns fatores determinantes.


O primeiro deles é a preferência do jornal por este ou aquele candidato, ou a rejeição explícita a determinado candidato ou candidata.


Aqui no Brasil, ao contrário do que acontece na imprensa americana, onde as preferências de cada veículo são declaradas em editoriais, os jornais e revistas fingem uma isenção e um distanciamento que não existem de verdade.


A imprensa brasileira prefere editorializar o noticiário, tentando induzir o leitor a assumir como verdadeiras versões editorializadas dos fatos políticos.


Mas tais práticas são tão viciosas que o leitor precisaria ser extremamente distraído para não perceber as tendências expostas em cada edição.


Outra questão a ser considerada são as alianças de cada empresa de comunicação.


A Folha de S.Paulo, por exemplo, possui seu próprio instituto de pesquisas, o Datafolha, e raramente dá destaque aos trabalhos dos institutos concorrentes.


A menos, é claro, que os resultados de suas consultas sejam coincidentes com as preferências da própria Folha.


A campanha eleitoral começa oficialmente no final de junho, mas na prática ela já está nas ruas e, principalmente na mídia.


A propaganda eleitoral não acontece apenas nos palanques e nas inaugurações de obras.


Ela ocorre também nas escolhas da imprensa, nos artigos e colunas que circundam o noticiário, no destaque ou na omissão diante de determinados acontecimentos, no espaço que ganha cada declaração colhida pelos repórteres.


Em ano de eleições, o leitor atento precisa redobrar seu senso crítico.