Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Luz no fim do túnel
>>Sucessão antecipada

Luz no fim do túnel

Saiu apenas no Globo, mas foi manchete: o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro decidiu vetar registros de candidaturas de políticos com ficha criminal,nas eleições municipais do ano que vem.

O presidente do TRE, Roberto Wider, reuniu quase duas centenas de juízes eleitorais do Estado e passou a orientação para que o rigor seja maior na origem.

Candidatos que respondem a processo na Justiça, mesmo que em primeira instância, serão impedidos de concorrer.

A decisão estabelece um controle mais eficaz sobre a qualidade das candidaturas, pois o pretendente terá que passar primeiro pelos juízes de primeira instância, e seu primeiro recurso será o Tribunal Regional Eleitoral.

Com um caminho mais longo para percorrer, aqueles que ainda não provaram sua idoneidade ficam impedidos de fazer campanha. Assim, o eleitor pode conhecê-lo melhor antes de escolher o nome que vai gravar na urna.

O Globo conta que, durante a reunião no TRE, uma juíza da Baixada Fluminense contou o caso de um canditado que, ao se inscrever nas últimas eleições, apresentoun uma ficha criminal com duas páginas de anotações por homicídio.

A medida é tão obviamente necessária, que chega a surpreender que a imprensa não tenha tocado no assunto em outras ocasiões.

O cidadão comum sabe que o mandato eleitoral para um pequeno delinquente é o passaporte para golpes mais ambiciosos.

A notícia do Globo dá conta que, nas eleições de 2006, o TRE do Rio já havia adotado esse critério, e o notório deputado Eurico Miranda foi vetado por unanimidade.

Mas recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral em Brasília e ganhou o direito de se candidatar.

A ficha de Eurico Miranda apresentava sete processos criminais, inclusive por sonegação fiscal e furto.

Sonho de golpista

O Tribunal Superior Eleitoral tem uma interpretação mais branda para a lei. Considera que devem ser vetados apenas os cidadãos condenados em processos sem possibilidade de recurso.
Como se sabe que a Justiça, no Brasil, é pródiga na oferta de recursos, o que temos é um Congresso Nacional com excesso de personagens de histórias policiais.



O caso do ex-deputado acreano Hildebrando Paschoal, que tinha o hábito de retalhar adversários com uma motosserra, é apenas uma vergonhosa caricatura.

A realidade é que, com a brandura dos critérios adotados no TSE, uma cadeira no Congresso Nacional torna-se um sonho possível na carreira de qualquer estelionatário.

Eis aí uma boa pauta para os outros jornais: revelar aos leitores as fichas criminais dos candidatos que eles escolheram. 
   
Demagogia e imprensa

Os jornais brasileiros cobriram burocraticamente as eleições na Argentina.

A rigor, o leitor brasileiro sabe apenas que a presidente eleita, Cristina Krichner, é esposa do atual presidente, Néstor Kirchner. 

O casal presidencial da Argentina não tem o hábito de prestar contas à sociedade através da imprensa.

Herdeiro do populismo peronista, Nestor governou no estilo auto-suficiente dos que têm a pretensão de falar diretamente ao cidadão, sem a mediação da imprensa. 

O noticiário de hoje relata que Cristina Kirchner foi eleita com a maioria dos votos obtidos no interior do país, onde supostamente o discurso direto faz mais efeito.

Quando os governantes desconsideram a imprensa, como a sociedade se informa sobre eles? 

Dines:

– Políticos populistas detestam a mídia. E por que? Porque detestam intermediários. O vitorioso casal Kirchner não foge à regra: Nestor e Cristina não escondem o seu desprezo por uma das imprensas mais qualificadas do continente — não concedem entrevistas, sequer recebem os correspondentes estrangeiros. Convém prestar atenção porque o fenômeno não é isolado, é continental. A edição desta noite do  ‘Observatório da Imprensa’ vai ouvir jornalistas argentinos que recentemente revelaram os escândalos do casal Kirchner e jornalistas brasileiros que vivem na Argentina. Hoje às 22:40, ao vivo pela rede Cultura e pela rede da TV-Educativa. 
   
Luciano:

Sucessão antecipada

A hipótese de um terceiro mandato do presidente Lula é o tema comum hoje nos principais jornais brasileiros.

 

Lula já declarou antes, e voltou a dizer ontem, conforme destacam os jornais, que não pretende mudar as regras para tentar uma terceira eleição. Mas o jogo político precisa de certezas. 

Segundo o Globo, o PSDB exige uma declaração cabal de Lula sobre suas pretensões a partir do dia 1o. de janeiro de 2011.

Os tucanos ameaçam até mesmo paralisar as negociações sobre o projeto de prorrogação da CPMF, se Lula não jurar que deixa o governo em 2010. 

Pode parecer uma data distante para o cidadão comum, mas para os políticos, que vivem a ilusão da eternidade, o futuro é logo ali.

A maioria dos candidatos à sucessão do presidente, lançados ou apenas cotados, precisa de tempo para construir uma base eleitoral eficiente. 

Depois de oito anos de Lula, a permanecer sua alta popularidade, seu sucessor precisará construir um discurso que não o coloque contra a corrente favorável ao atual presidente nas classes de renda mais baixa.

E tem que evitar a rejeição das classes médias e dos mais ricos. 

Queimando candidatos

O deputado e ex-ministro Ciro Gomes, do PSB, foi lançado pelo próprio Lula, como um balão de ensaio.

Foi imediatamente atingido por acusações, que envolvem um de seus homens de confiança em fraude no Banco do Nordeste. 

A imprensa deu pouca importância às acusações, que ficaram concentradas no jornal o Globo e na revista Época, que são do mesmo grupo empresarial.

O Globo também vem disparando contra o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que voltou à política com a missão de organizar o sistema de aviação civil. 

Jobim garante que não pretende disputar a presidência, mas o Globo lhe faz marcação cerrada.

O ministro da Defesa tem sido a vítima predileta do caricaturista do jornal carioca, Chico Caruso.
   
Pelos lados da oposição, disputam a candidatura os governadores José Serra e Aécio Neves.

Não se percebe contra eles qualquer movimento dos jornais. Pelo contrário, as denúncias do chamado ‘mensalão mineiro’, que tem como epicentro o senador tucano Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas, desapareceram do noticiário depois que surgiu a suspeita de que poderiam atingir outras figuras do partido.



Para o cidadão comum, falar em eleições presidenciais parece prematuro.

Mas o jogo já está em andamento, e a canelada corre solta.