Má notícia para a mídia
O estudo econômico sobre a mídia noticiosa online que é parte do último relatório do Centro de Pesquisas Pew para a Excelência em Jornalismo reserva uma ducha de água fria para as intenções das empresas de comunicação de cobrar pelo acesso a informações na internet.
Com suas lentes no mercado norte-americano, que costuma antecipar tendências, o estudo indica que a publicidade, pelo menos na forma tradicionalmente aportada aos sites, não tem agregrado valor suficiente para compensar os custos do jornalismo online.
Por outro lado, os executivos das empresas de mídia não conseguem imaginar meios inovadores de remuneração.
Enquanto isso, caem as tiragens da mídia de papel e os jovens cada vez mais consolidam sua preferência pela mídia digital.
O estudo cita uma pesquisa feita pela companhia de consultoria Accenture, que entrevistou representantes de 102 empresas de vários setores, inclusive da mídia.
Constatou-se que 39% deles acreditam que o modelo predominante deve continuar baseado na publicidade, 21% acham que a receita virá de um modelo híbrido de múltiplas fontes, enquanto 18% apostam num modelo que os americanos chamam de “freemium”, ou seja, oferecer algum conteúdo grátis, “free”, para estimular os leitores a pagar por conteúdo “premium”, de maior interesse. Cerca de 14% ainda acreditam em receita advinda de assinatura pelo serviço informativo e 8% acham que vai predominar o sistema de conteúdo sob demanda, pago pelo leitor.
Com a insuficiência das receitas de publicidade online, a grande questão segue sendo a disposição dos usuários de pagar pela informação.
Mas a disposição de pagar pressupõe um alto grau de fidelidade a uma determinada fonte de informação, e isso não parece caracterizar o público estudado.
Cerca de 71% dos internautas cujos hábitos foram pesquisados, ou 53% dos americanos adultos, costumam acessar informações online, mas apenas 35% deles têm uma fonte preferencial.
E entre esses 35% de leitores mais fiéis, que corresponderiam aos assinantes do jornal de papel, ou aos que compram diariamente o mesmo jornal, apenas 19% declaram que talvez aceitassem pagar pelo acesso.
A grande maioria – mais de 80% desses leitores mais fiéis – tratariam de buscar outros sites se sua fonte predileta passasse a cobrar pelo conteúdo.
Trata-se de uma verdadeira sinuca de bico.
O carnaval do pré-sal
Alberto Dines:
– A questão dos royalties do petróleo corre o risco de virar carnaval. E Carnaval em tempo de Quaresma é duplamente perigoso: tem palhaçada e tem malhação. A imprensa popular carioca – e não apenas ela – está ultrapassando os limites da sensatez e da compostura ao promover um novo linchamento do deputado federal gaúcho Ibsen Pinheiro, autor da emenda que retira dos estados produtores de petróleo a compensação que recebiam pela exploração do seu subsolo.
Um deputado, como representante do povo, não pode ser liminarmente condenado porque sua proposta prejudicará os três estados produtores de petróleo. A sua intenção era óbvia: socializar os royalties por todos os 26 estados da Federação e isso não constitui crime.
É evidente que a emenda comete erros, sendo que o principal deles é o de colocar o pré-sal na mesma panela da exploração de outras áreas petróliferas. O texto foi evidentemente redigido às pressas, negociado às pressas e votado às pressas. Mas essa pressa e urgência na tramitação não foram impostas pelo deputado (que, aliás, pertence à base aliada), veio do Executivo.
A questão dos royalties pela exploração do subsolo envolve complicadas questões conceituais e mexe com a sutilíssima doutrina do federalismo. Votá-la em regime de urgência às vésperas da sucessão presidencial foi uma temeridade. O resultado ai está: vai voltar tudo à estaca zero.