Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Manchete: “Lula diz que não é Getúlio”!
>>A crítica de Buratti

Manchete: “Lula diz que não é Getúlio”!


Mais uma vez, como acontece há anos, as manchetes da Folha de S. Paulo, do Estado e do Globo são idênticas. E puro jornalismo declaratório: “Lula diz que…” não é Getúlio, nem Jânio, nem Jango, etc. Isso só poderia ser manchete se alguém achasse que o presidente se equipara a esses antecessores. Qualquer pessoa que tenha memória dos antigos presidentes, ou tenha estudado um pouco de História, sabe da diferença entre Lula e eles.


Que o presidente disse isso ontem, todos os cidadãos cujo juízo não esteja afetado, já sabiam nesta manhã de sexta-feira, 26 de agosto. Salvo os que tiverem passado o dia de ontem fora do alcance de alguma mídia. Não é preciso repetir o que Lula disse. É preciso ou falar do que pode vir agora, ou, no mínimo, interpretar. Como fez elegantemente o Jornal do Brasil, com a manchete “Síndrome de agosto ataca Lula”.


Nas páginas internas, os jornais conseguem fazer uma avaliação da fala presidencial e do novo depoimento de Rogério Buratti. Fica evidente a cada vez mais difícil situação do ministro Palocci, que não se manifestou pessoalmente. Lula previu que a economia “não será uma Brastemp”.


Para avançar, o Brasil, país da desigualdade, vai ter que fazer os poderes da República mudarem de patamar. Entre eles, estrategicamente, a mídia, cuja vitrine são as manchetes.


As críticas de Buratti


O silêncio mafioso da corporação da mídia denunciando constantemente por Alberto Dines se confirmou nos telejornais de ontem, que omitiram a fala inicial de Rogério Buratti na CPI dos Bingos. Ele denunciou a revista Época por ter exposto fatos de sua vida privada que não têm relação com os problemas públicos, e a Folha de S. Paulo por ter mostrado a sua ex-mulher um CD com gravações de telefonemas.


Os telejornais não precisavam fazer isso. Bastava ouvir as partes acusadas por Buratti.


A Folha de hoje, isolada, dá destaque a essa passagem inicial do depoimento de Buratti. O jornal informa que o CD foi mostrado à ex-mulher dele para tentar identificar pessoas mencionadas por apelidos, e traz a defesa da revista Época, cuja direção sustenta não ter havido curiosidade com casos pessoais, mas sim a intenção de retratar a atividade de um grupo que envolve “lobistas, corruptores, corruptos e dinheiro público”.



Falta um perfil da Gtech


Até hoje não saiu uma reportagem que mostrasse como repercute na matriz, nos Estados Unidos, a confusão em que está metida a Gtech. Lá, isso dá cadeia.


Aqui, a Gtech tem um instituto de responsabilidade social que conta entre seus parceiros com o Ministério da Cultura.


Stiglitz, Krugman, Fishlow


Dá para imaginar o New York Times ou o Figaro ouvindo um economista brasileiro sobre a taxa de juros local? Esse declaratório de economistas americanos invocados como autoridades para demover o Banco Central de sua cruel disposição, ou para apoiá-lo, é evidência de uma disfunção profunda da imprensa brasileira.



Exemplo indiano


O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, salvou o país da bancarrota no início da década passada. Ele era ministro da Fazenda num governo do Partido do Congresso e conduziu um importante programa de abertura e reforma da economia do país. Em 2004, o Partido do Congresso, surpreendendo a mídia do mundo inteiro, que dava como certa a continuação do governo do Bharatija Janata, partido de direita nacionalista, reconquistou o poder e Manmohan Singh foi nomeado primeiro-ministro.


Parecia impossível retomar o programa de reformas econômicas. A maioria dos 670 milhões de eleitores tinha manifestado nas urnas seu desagrado com os escassos resultados sociais obtidos. Agora, em entrevista a uma publicação da consultoria Mc Kinsey, Singh, ao fazer o balanço de um ano, disse que daria nota 6 a seu governo, cuja performance considera insatisfatória.


Quem sabe o presidente Lula se inspira no austero exemplo indiano?


Não chame o ladrão


A situação no Rio de Janeiro está tão difícil que ontem, constatou O Globo, os bandidos já haviam retomado posse do território que a velhinha de Copacabana filmou durante dois anos. A reportagem mostra por que a velhinha teve que agir: porque a polícia não o fez. Pior: em resposta à velhinha, que move uma ação de indenização contra o estado, o então comandante do batalhão da Polícia Militar de Copacabana escreveu num ofício que ela era “exagerada, leviana e irresponsável”.


O cidadão brasileiro hoje tem que agir contra os bandidos e contra as autoridades. Tarefa dura.


A polícia, às vezes, funciona no susto. Está na capa do Globo: dois bandidos num carro roubado foram assaltados em Santa Teresa. Na confusão, bateram num carro da PM e acabaram presos. Fica sem efeito o mote de Chico Buarque: “Chame o ladrão!”.