Manipulações eleitoreiras
Há um jogo maroto de manipulações eleitoreiras dos problemas do país. Praticado pelo governo e pela oposição. A mídia mais uma vez tende a cair nessa armadilha. Não consegue se distanciar. Mas se o eleitor, no Brasil predominantemente urbano, é menos manipulável do que muitas vezes se imagina, o leitor também o é.
Uma voz do Planalto
O Alberto Dines chama a atenção para a análise de um auxiliar direto do presidente Lula sobre as relações do Planalto com a imprensa e sobre o trabalho da mídia.
Dines:
– É arrasadora a entrevista do jornalista Bernardo Kucinsky à Agência Repórter Social e que o Observatório está reproduzindo na íntegra e com grande destaque em seu site. Kucinski diz que o presidente Lula está eliminando a necessidade de existir uma imprensa porque procura forçar uma comunicação direta com a sociedade. Mas Kucinski também é muito duro com relação à imprensa. E também tem razão.
O assessor especial da Secretaria de Comunicação do governo é um veterano jornalista, professor universitário e observador da imprensa. Durante muito tempo editou as “Cartas Ácidas” sobre o desempenho da mídia. Depois da posse, estas cartas foram transformadas em “Cartas Críticas”, dirigidas a um grupo restrito dentro do governo, inclusive ao presidente da República.
A entrevista é muito mais do que ácida ou crítica, é uma bomba arrasa-quarteirão com efeitos imprevisíveis. Mas é importante demarcar esta atuação rigorosamente honesta de Bernardo Kucinsky da cruzada macartista de alguns articulistas de semanários que hoje procuram desmoralizar jornalistas e a própria imprensa apenas para ganhar os seus 15 minutos de fama. Pode-se não concordar com tudo o que afirma Kucinsky. Mas uma coisa é certa – ele tem autoridade moral para falar sobre imprensa.
Crítica generaliza
Vejo na entrevista de Bernardo Kucinski generalizações panfletárias que não favorecem o entendimento dos problemas. Kucinski, por exemplo, diz que a mídia é preconceituosa contra Lula, mas não menciona como ele e o PT contaram com grande simpatia nas redações até a eclosão dos escândalos de corrupção.
Duas corporações
A morte do general Urano Bacellar fez aflorar o conflito permanente entre duas das mais bem preparadas burocracias brasileiras: o Exército e o Itamaraty, que se apressou a divulgar o nome do substituto de Bacellar.
Esse conflito foi sentido em novembro de 2004, na demissão do diplomata José Viegas do Ministério da Defesa, depois que o Exército divulgou nota, a propósito de foto supostamente do jornalista Vladimir Herzog publicada no Correio Braziliense, na qual procurava justificar a uso da tortura durante a ditadura militar.
Enquanto isso, a situação no Haiti segue tão difícil que ontem um repórter da TV Globo fez boa parte de sua reportagem do alto de um tanque, com colete à prova de bala e um soldado ao lado.
Entusiasmo por JK
Cresce a expectativa em torno da minissérie JK. O jornalista Wilson Figueiredo, que o conheceu e é um entusiasta das virtudes de Juscelino, espera que se valorize o que ele fez de melhor.
Figueiredo:
– Juscelino fez mais pelo brasileiro do que pelo Brasil. Ele abriu a cabeça do brasileiro. Ele mostrou que o Brasil era viável. Que era possível se sonhar com a industrialização. Ele lidou com essa matéria-prima que é o sonho de uma maneira admirável. Ele pensou para a classe média. Ele soube acenar para a classe média com um horizonte que estava próximo, ou podia ficar próximo, e deu esse horizonte para a classe média. Ou seja: o consumo, o automóvel, a idéia de progresso, a mudança da capital para o interior, que era uma reivindicação nacional.
A classe média brasileira estava historicamente reprimida. A classe média era de funcionários públicos. Sem a classe média não existe democracia. O Juscelino era um espírito voltado para a democracia, para a dinâmica social, a partir da classe média. Ele tinha uma visão de progresso, ele não tinha uma visão religiosa. Isso foi o segredo dele. Juscelino está sendo ressuscitado exatamente num momento em que o Brasil quer crescer.
Mauro:
– Até ontem à noite, a História entrou na série da Globo de modo bisonho. Mas ainda há muitos capítulos pela frente.
A gripe mais próxima
Adquiriu novo grau de seriedade a ameaça da gripe aviária. Mais uma vez será testada a capacidade da mídia de informar corretamente, sem criar pânico, como é seu dever. E se manifestará a sempre presente e criticável compulsão de espetacularizar o assunto.