Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Marina imaculada
>>O Direito na imprensa

Marina imaculada


A imprensa cobriu com intensidade a filiação da senadora Marina Silva ao Partido Verde.


E já deixa sinais de como pretende apresentar a ex-ministra do Meio Ambiente aos leitores e eleitores: tanto nos jornais como nas revistas publicadas no final de semana, ela aparece como uma coadjuvante na disputa eleitoral, capaz de tirar votos principalmente da provável candidata da aliança governista, a ministra Dilma Rousseff.


Claramente, a imprensa quer mostrar Marina Silva como a senadora honesta, defensora da floresta e dos animais, a “Marina imaculada”, como a apresenta a revista Veja na entrevista das páginas amarelas.


Mas a senadora deixa claro, na própria entrevista, que não é apenas a portadora de “uma visão simplista, messiânica até”, das coisas da política, como afirma Veja.


Marina Silva tem muitas outras qualificações além de sua experiência como militante dos “empates” comandados pelo líder seringueiro Chico Mendes no Acre.


Em 2001, quando foi convidada, com outras personalidades da vida pública brasileira, para um seminário na universidade de Berkeley, na Califórnia, foi aplaudida de pé por alunos e professores após apresentar suas idéias


Tem muitas propostas sobre desenvolvimento sustentável, o que a colocou na contramão da ministra Dilma Rousseff – apresentada como a “mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento” – e acabou por afastá-la do governo e do Partido dos Trabalhadores, mas já está claro que terá de criar uma estratégia inovadora e extremamente eficaz para escapar do espaço limitado em que a imprensa tenta enquadrá-la.


Quando se trata de lidar com o chamado sistema da mídia, que projeta massivamente na opinião pública uma imagem pré-concebida, não basta ser “imaculadamente honesta”, como insiste Veja.


Se, em algum momento da campanha, sua candidatura vier a incomodar os interesses que claramente se misturam entre a imprensa e determinados partidos políticos, essa imagem pode muito facilmente ser desmanchada com a amplificação de pequenos erros na periferia de seu grupo de apoio e com a transformação de eventuais deslizes em grandes escândalos.


O partido pelo qual deverá ser candidata tem vulnerabilidades de monte para serem exploradas por seus adversários.


E desde já ela sai marcada pela imprensa como candidata a santa, não a presidente. 


O Direito na imprensa


Alberto Dines:


– O Supremo Tribunal Federal é a instância final do Poder Judiciário. Seus juízos são definitivos  – inapeláveis, irreversíveis. Servem de referência, constituem jurisprudência, raramente questionados. Não é o caso da absolvição do ex-ministro Antonio Palocci no caso da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, decidido na última quinta-feira. Tanto o apertado placar de 5 a 4 como a decisão concomitante de abrir um processo contra o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso que não tinha interesse maior no caso, acionaram uma série de candentes questionamentos através da imprensa. O mais veemente foi o do jornalista Janio de Freitas, na edição de ontem da Folha de S. Paulo.


Defendendo o relatório que inocentou Palocci, o presidente do STF alegou que não poderia ater-se a aspectos morais e sim técnicos. Quando foi votado o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, também na condição de relator, o mesmo ministro Gilmar Mendes comparou a profissão de jornalista à de um chefe de cozinha. Cobrado pela ofensiva comparação, alegou que a decisão era coerente com a tendência de desregulamentar profissões. Ora, tendências não podem ser previamente montadas, elas só podem ser observadas a partir de situações já acontecidas, o que ainda não aconteceu. Quando comentou em entrevista que a decisão de impedir a publicação pelo Estadão de informações relativas ao processo da Policia Federal contra Fernando Sarney não constituía um ato censório porque decorrera de uma decisão judicial, Gilmar Mendes foi novamente alvo de uma série de críticas.


Estas contestações às  decisões do STF, bem como às manifestações extemporâneas de seu presidente, oferecem duas leituras. A primeira: o STF perdeu a sua intangibilidade e majestade. Isso não é bom, sobretudo diante da desmoralização do Legislativo. A segunda leitura: a imprensa torna-se assim o derradeiro bastião em defesa do interesse público. Mesmo atuando na esfera puramente moral, a imprensa não parece preparada para assumir-ser como um fórum simbólico. Cônscio destas responsabilidades, este “Observatório da Imprensa” convidou o eminente jurista Dalmo Dallari para colaborar regularmente em suas edições com uma coluna denominada “O Direito na Imprensa”. Começa amanhã.