Melhorar a cobertura de política
As revelações do caseiro Francenildo, e a maneira como instituições sob o comando de quadros petistas tentaram transformá-lo de testemunha em réu, fazem desta uma semana que poderá figurar nos registros históricos do governo Lula.
A imprensa, que já enfrenta grandes dificuldades para acompanhar e analisar os fatos, terá de se desdobrar para cobrir, hoje, o depoimento do presidente da Caixa Econômica na Polícia Federal e a decisão do presidente Lula sobre o Ministério da Fazenda.
Para amanhã está prevista a apresentação do relatório da CPI dos Correios.
Para quarta-feira, a votação em plenário da proposta de cassação do mandato do deputado João Paulo Cunha, ex-presidente da casa, por envolvimento no valerioduto.
Parte das desventuras vividas pela República deve-se ao enfraquecimento da cobertura de política. Esse fenômeno, que merece uma discussão específica, foi comprovado na semana retrasada pelo erro monumental cometido pela revista Época na cobertura da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo.
Verbas de Alckmin
O tema das verbas de comunicação do governo Alckmin passa pelo filtro da politização.
Nesta segunda-feira, 27 de março, a Folha repercute amplamente reportagem em que denunciou o uso de verbas de publicidade da Nossa Caixa, banco estatal paulista, para favorecer políticos aliados do governador Geraldo Alckmin. O Globo e o Jornal do Brasil repercutem a denúncia publicada ontem na Folha. O Estado de S. Paulo nem toca no assunto. Pode-se dar ao Estadão o benefício da dúvida. Ou seja: pode-se supor que o jornal não publicou nada sobre o assunto porque não tinha nada a noticiar.
Mas uma dose mínima de percepção política leva a constatar que o Estadão apóia com entusiasmo a candidatura do governador Alckmin. Também não se pode ignorar que, por melhor que seja a qualidade jornalística da denúncia publicada pela Folha, esse jornal não ficou entusiasmado com a vitória de Alckmin no PSDB.
Política e mídia
O envolvimento direto de deputados estaduais com veículos de comunicação, denunciado no caso da Nossa Caixa, mereceria uma reportagem à parte. Aliás, o envolvimento de vereadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores, ministros, políticos de todos os escalões.
Caixas econômicas
Essas denúncias sobre caixas econômicas poderiam servir como incentivo para se iniciar uma discussão sobre a real utilidade pública desses bancos estatais.
Fontes reveladas
Alberto Dines mostra que o leitor pode sair ganhando quando as fontes de determinadas reportagens são reveladas.
Dines:
– A matéria de capa da última “Veja” acusa o assessor de Imprensa do ministro Palocci de ter vazado as informações sobre a conta bancária do caseiro Francenildo. A nova versão contraria a anterior de que a fonte do vazamento foi um agente de Polícia Federal. Ambas as versões, no entanto, convergem no essencial: partiu do governo o vazamento para a revista “Época”. A revelação de “Veja” é muito importante porque inaugura um novo comportamento da nossa imprensa ao dispor-se a revelar a identidade das fontes secretas. Naturalmente dos concorrentes. A quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo provocou a quebra do sigilo das fontes. Em última análise isso significa que a imprensa finalmente vai começar a discutir os procedimentos da imprensa. Com cobranças. Quem vai sair ganhando é o leitor.
Ainda nebuloso
O nome de Marcelo Netto, assessor do ministro Palocci, já havia aparecido dias antes no noticiário e em colunas de política diárias dias antes de sair na Veja desta semana. Em geral, a revelação foi atribuída “a fontes das CPIs dos Bingos”. O assunto permanece envolto em névoas. Ninguém, até agora, apurou direito o que aconteceu.
Votos em branco
A Folha de S. Paulo publica hoje os números da votação para procurador-geral do estado. É curioso que o número de votos em branco e nulos tenha superado o número de votos dados aos quatro concorrentes. Mas nem a Folha nem o Estadão oferecem qualquer explicação para a decisão de mais da metade dos 4.800 votantes de não sufragar nenhum dos nomes propostos.
Reflexos entorpecidos
Foi preciso que a deputada Angela Guadagnin dançasse no plenário para que elementos da biografia política dela aparecessem nos jornais. No entanto, ela era prefeita quando foram feitas as primeiras denúncias de maracutaias municipais petistas, e na temporada atual foi a maior batalhadora pela absolvição de mensaleiros.
A imprensa anda mesmo com os reflexos entorpecidos.
O que cai com Palocci
A queda do ministro Antonio Palocci, que colaborou para dar à economia brasileira maior respeitabilidade internacional, ocorre como episódio de republiqueta. Resta avaliar o que cairá, ou não, com ele.
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