Mídia não forjou crise, diz deputado do PT
Daqui a pouco o presidente Lula vai gravar em Brasília o programa Roda Viva número mil, que será exibido hoje às 10 e meia da noite na TV Cultura de São Paulo e na rede pública de televisão. Não há no grupo de entrevistadores nenhum jornalista que participe atualmente da cobertura de política.
No sábado o presidente procurou desqualificar as denúncias recentes que envolvem o Banco do Brasil. É provável que, no programa de hoje, Lula mais uma vez atribua parte das agruras do governo e do PT a uma cobertura de mídia desfavorável.
Em entrevista ao Observatório da Imprensa, o deputado José Eduardo Martins Cardozo, do PT de São Paulo, sub-relator da CPI dos Correios, não aceita a tese de que a crise do “mensalão” tenha sido fabricada pela oposição e pela mídia.
José Eduardo Cardozo:
– Evidentemente, existem fatos que infelizmente aconteceram, alguns comprovados, alguns até confessados. Entram numa linha de colisão com o que historicamente nós sempre defendemos no PT. Querer dizer que essa crise é fruto exclusivamente de um ataque ao governo e que nós não temos responsabilidade, nós não tivemos nada a ver com isso, é um equívoco, querer tapar o sol com a peneira.
Mauro:
– Em outra passagem da entrevista o deputado José Eduardo Cardozo afirma que seria injusto dizer que a imprensa age toda de modo enviesado contra o governo e o PT. Cardozo pede entretanto mais isenção e equilíbrio.
José Eduardo Cardozo:
– Alguns órgãos estão enviesados? Estão. Alguns órgãos exageram. Por exemplo: essa crise atinge o PT e o PSDB. Há órgãos que têm uma dificuldade imensa de ir para o PSDB, quando o modus operandi é o mesmo. Nós somos a surpresa. Porém, quando se começa a colocar que nós somos piores do que os outros… aí não dá. E alguns órgãos de imprensa fazem isso.
Mauro:
– A íntegra da entrevista do deputado José Eduardo Martins Cardozo está no site do Observatório da Imprensa.
Sem demonização
Em entrevista na Folha de S. Paulo desta segunda-feira, 7 de novembro, o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, cobra da imprensa cuidado para não cometer injustiças. Carvalho apresenta uma imagem edificante do presidente Lula. É preciso filtrar o entusiasmo do auxiliar preferido, mas se deve evitar que o início da campanha eleitoral jogue lenha na demonização do presidente e do PT.
No reino das ilações
O Alberto Dines cobra mais apuração e menos ilações nas reportagens sobre a crise. Fala, Dines.
Dines:
– Mauro, a continuação da novela “Os dólares de Cuba” em cartaz nas páginas de Veja foi frustrante para quem esperava revelações sensacionais. Na semana passada, ficou evidente um certo cuidado em atender as regras mínimas da cartilha jornalística. Apesar disso, a matéria não convenceu o resto da imprensa e muito menos a oposição. Sobretudo pela inverossimilhança: custa crer que as lideranças cubanas e petistas, na véspera de uma eleição como a de 2002, tenham embarcado num projeto tão desatinado.
Uma semana depois, Veja só produziu um fato novo: o piloto do avião confirma que fez o vôo e transportou as caixas. Ponto. Todo o resto é ilação. A começar pelo título da matéria: “O vôo do dinheiro de Cuba”. Ao longo de quatro páginas profusamente ilustradas o leitor se defronta várias vezes com a expressão “dólares cubanos”, “caixas de dinheiro”, etc. Nada disso está confirmado, além do vôo e das caixas. Enquanto certa imprensa insiste neste tipo de jornalismo, as notícias mais quentes e mais responsáveis estão sendo dadas pelo presidente e pelo relator da CPI dos Correios. Esta semana pode ser decisiva.
Crise sai das capas
Sabe-se lá o que a crise do “mensalão” ainda guarda nas dobras de seu futuro, mas, conforme era se esperar, nenhuma das três grandes revistas de informação saiu no fim de semana com capa de política. A Veja, que vinha de uma série quase ininterrupta de 23 edições com Valerioduto, Roberto Jefferson, Cuba, “mensalão”, deu na capa a busca de uma morte serena. Época deu a última capa sobre a crise na edição de 19 de setembro.
A equação é a seguinte: crise política não aumenta venda de revista. O que pode aumentar são capas sobre saúde e comportamento.
Arquivos da repressão
O Fantástico noticiou ontem que novo laudo pericial comprovou ter havido queima de documentos secretos numa base da Aeronáutica em Salvador.
Em entrevista ao programa da Globo, a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, prometeu que os arquivos da repressão da ditadura militar serão abertos para consulta até o final do ano.