Cubanos e a mídia silenciadora
Luciano:
Os jornais e as revistas de informações nos deram um final de semana rico em leituras. Nem todas edificantes, por certo.
Dines:
O governo brasileiro não respeitou a nossa tradicional hospitalidade para com os refugiados políticos, mandou de volta para Havana os atletas cubanos que desertaram do PAN e até ontem a imprensa brasileira não havia dado um pio. Não fosse o protesto solitário de Elio Gáspari, na sua coluna dominical na Folha e no Globo, poderíamos dizer que nossos jornalistas perderam inteiramente a sua capacidade de solidarizar-se. É possível que os boxeadores que abandonaram a delegação cubana em troca de uma vida melhor na Europa tenham se arrependido, essas coisas acontecem. Mas a sociedade brasileira precisaria ouvi-los antes de serem embarcados de volta, eles estavam aqui, o assunto é nosso. A Polícia Federal localizou os atletas na última quinta e antes mesmo que o Ministério Público pudesse manifestar-se publicamente, os atletas foram despachados rapidamente para Cuba no sábado. Por que a pressa? A Polícia Federal tinha a obrigação de dar satisfações, deixar que falassem livremente à imprensa e só então permitir o seu retorno. O Itamaraty e a Embaixada Cubana foram mais rápidos. E nós ficamos com a impressão de que a Polícia Federal está cada vez mais longe de ser uma instituição republicana. É um braço do governo. Graças ao silêncio da mídia.
Luciano:
Mortos e saqueados
O prédio da TAM Express foi demolido. Vai dar lugar a uma praça, com um memorial em homenagem aos mortos na tragédia com o Airbus.
Antes das obras, porém, uma empresa especializada vai vasculhar o local, em busca de objetos das vítimas.
Um cuidado que esteve longe no caso do acidente que envolveu um Boeing da Gol e um jato executivo, em setembro do ano passado.
O Estado de S.Paulo publicou, no domingo, uma chocante reportagem relatando como documentos e telefones celulares pertencentes aos passageiros mortos no desastre foram parar nas mãos de bandidos.
Os documentos e celulares foram recolhidos no local da queda do Boeing por militares e indios. Estavam guardados em um galpão de Brasilia.
Notícias revisadas
A revista Época fez um longo apanhado das informaçõs disponíveis sobre o desastre de Congonhas.
Questionando se é justo culpar os pilotos, a revista do grupo Globo dá um retrato em perspectiva da crise na aviação civil, para reforçar o que havia publicado na edição anterior: que está mais perigoso voar no Brasil.
Veja preferiu insistir na tese de que o piloto errou ao deixar o manete do lado direito na posição de aceleração.
Mas desta vez observa que outros erros o precederam.
Mais um caso de Renan
Veja lança mais uma pá de terra sobre a carreira política do senador Renan Calheiros. Em reportagem de capa, a revista conta como o presidente do Senado se tornou dono oculto de duas emissoras de rádio em Alagoas.
O senador teria pago um milhão e trezentos mil reais em dinheiro vivo, parte em dólares, e colocou dois representantes, os chamados laranjas, para dirigir a emissora.
Veja reproduz documentos do negócio. Mas não se ocupa em discutir a concentração de meios de comunicação nas mãos de políticos.
A notícia foi reproduzida pelos jornais e já motivou novo pedido de investigação contra o senador peemedebista.
A oposição ameaça bloquear outra vez as votações no Congressso caso ele não se afaste da presidência do Senado.
Todos cansados
A imprensa deu pouca atenção às manifestações de protesto deflagradas por empresários e pela OAB de São Paulo.
A passeata na Avenida Paulista, no sábado, mereceu pouco mais do que a curiosidade dos jornais, pelo baixo número de participantes, e alguns comentários de articulistas.
Veja ignorou a campanha ‘Cansei’. Preferiu fazer um amplo balanço das deficiências da infra-estrutura do País, que prejudica o desempenho do Brasil nos negócios internacionais e causa desconforto e insegurança aos brasileiros.
Lula, o popular
A pesquisa sobre a popularidade do presidente Lula, publicada pela Folha de S.Paulo no domingo, foi comentada pelos outros jornais nesta segunda-feira.
E o próprio presidente da República avaliou que o bom desempenho da economia é responsável pela permanência do alto nível de aprovação do seu governo.
Como nas pesquisas anteriores, não faltaram as análises dizendo que há uma percepção maior de bem-estar na população de baixa renda por conta dos programas sociais do governo.
Nenhum jornal, nem mesmo a Folha, explica a permanência da avaliação positiva de Lula entre os mais educados.
De volta aos escândalos
Após a demolição do edifício atingido pelo Airbus da TAM, e com os dados das caixas-pretas abertos à visitação pública, a semana começa com a perspectivas de novos fatos no campo dos escândalos políticos.
Os jornais têm à sua frente a tarefa de manter os leitores atualizados sobre os casos que ficaram embaixo do tapete nas últimas semanas.